sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

AS ESTÓRIAS DO LUÍS DE MATOS

                                            O Carteiro de Terena

Por volta do ano de mil e novecentos, era carteiro em Terena o Joaquim Pucarinho, de alcunha o “Davã,” por não ter boa pronuncia. 
Era natural do Alandroal, casado com Maria Rita (da família Góis), de Terena, e morava perto do lagar desta bonita terra. O casal teve dois filhos. O Inácio e o Mariano, mais conhecido por Marianito, de que já falamos deste último em outras ocasiões.
O Joaquim “Davã”, para distribuir o correio na Freguesia de Terena tinha que o ir buscar ao Alandroal. 
O transporte, era feito numa carroça de burro, pois é preciso lembrarmo-nos que estávamos no princípio do século passado. 
Muitas das vezes vinha acompanhado pelo filho Marianito. 
Era costume, o carteiro quando chegava à Fonte Santa, tocava a corneta para o povo do Alandroal saber que ele vinha chegando à vila. 
O bom do nosso amigo Marianito, tinha então esta bonita graça: “ Mê pá dá uma conitá. As menim do Landroá fica logo toda a apitá.” O que o Marianito queria dizer era o seguinte: O meu pai toca a corneta, e as meninas do Alandroal ficam logo com o ouvido à escuta. Mas o Marianito, como figura típica que era, tinha também outros ditos com muita graça. 
Em tempos, teria feito uma oferta a uma mulher para ter relações sexuais, nestes termos: “Ó ninó, menina do onça “alcunha”, tu mim nã qué, tu tem bena pena goda pó fóni e fóni. Tu mim nã qué e ó nonça tu qué. Ê dô cinco menré em tendi.
O Marianito gostava de apreciar a beleza das raparigas, elas brincavam com ele mas nunca lhe faltava ao respeito. 
Luis de Matos
Foto: 
Maria Antonieta Matos - Alandroal.

1 comentário:

Helder sALGADO disse...

Da outra vez que nestas páginas surgiu o nome do Marianito estive tentado a escrever algo acerca dele. Hoje não resisti.
Conheci só de nome o Marianito, no Alandroal, no Monte do meu avô paterno.
Contava a minha avó que ele , Marianito estivera lá a trabalhar por altura da ceifa. Era muito novinho, uma espécie de "escamel" levava água e a comida aos ceifeiros.
Uma um dia para levar a comida e não sabendo onde os homens da ceifa queriam comer, gritou :
- Vossemecês ceiam p'ra aí ou ceiam p'ra aqui".
Em Terena conheci pessoalmente o Marianito. Era sobrinho de um casal que não tinha filhos. O tio tinha a alcunha de o "Morgadinho" e era por ele que o Marianito era sobrinho do casal.
A porta do então lagar representava o fórum de Terena, aí se juntava muita gente para conversar ou desconversar, o Marianito por lá aparecia. Daqui se avistava a porta dos tios, pelo que o Marianito se queixava que não gostarem dele. Recordo-me, por que na altura me comoveu, de ouvir dizer ao Marianito.
- Têm uma casinha no quintal e não me deixam lá dormir. -
Trabalhou em casa do sr. Joaquim Neves, pai da minha mulher.
Depois com a minha vinda para estas bandas de Almada, tive algum tempo se nada saber do Marianito.
Um dia dei com ele numa casita perto dos telheiros, desde então e estando ele encostado à parede, junto á casa, abrandava o carro e cumprimentava-o. O Marianito baixava um pouco a cabeça e franzindo os olhos, gritava:
- Elderi.
Um dia, vários dias passámos à sua casa e nada de Marianito. Perguntámos por ele, tinha cegado e recolheu-se ou recolheram-no no Lar.
Resolvemos ir ver o Marianito. Quando a minha mulher lhe falou, ele, conhecendo a voz, disse: - Tu és a Tonha, a filha do patrão Neves.
Sejam as pessoas más ou boas, inteligentes ou menos inteligentes, ricas ou pobres há sempre delas algo que nos comove e fica na lembrança.
Helder Salgado