terça-feira, 10 de janeiro de 2017

IN MEMORIAM - Por A.N.B.

                                                          MÁrio Soares
                            ( A  arte e o engenho de ser um grande português )


I.                   Por estes dias e desde há décadas já muito foi dito sobre Mário Soares. Não vamos agora repisar a incontornável lei da vida do seu desaparecimento. Mas também não queremos deixar de lhe prestar, publicamente, uma justíssima homenagem através do Al  tejo.
Um portal de leitura regional que, por certo, não vai descartar a edição deste aberto e brevíssimo depoimento feito por um seu colaborador com assento suficiente no seu indispensável projecto de comunicação social com larga incidência local.

II.                 Neste sentido, direi que se há coisas que admirámos em Mário Soares foi o modo como sempre se foi definindo com “uma coragem e postura rara” nos políticos portugueses.
Assumiu-se sempre como republicano, laico e socialista. Dizia que não era um estadista mas um politico. Foi sempre um europeísta. Antes do 25 de Abril foi abertamente anti salazarista. Depois do 25 disputou  e impôs-se contra o modelo politico que o Partido Comunista pretendia para Portugal. Um modelo sem condições geopolíticas e sem viabilidade ou abrangência social.
Mário Soares como Álvaro Cunhal ( ou Sá Carneiro) eram dois corajosos políticos oposicionistas ambos de extracção burguesa. 
O segundo bastante mais radical do que o primeiro. Ambos terão sido derrotados. Mas, na interpretação do corifeu Vasco Pulido Valente, o único vencedor da democracia tal como hoje se apresenta foi Mário Soares.
Como alguém já assinalou, diria aqui e agora, enquanto militante, que Mário Soares era afinal um revolucionário burguês que os burgueses criticavam por ser revolucionário e os revolucionários criticavam por ser burguês.
Foi, por isso mesmo, que foi sabendo interpretar e acompanhar os tempos que vivemos tornando-se num dos mais ferozes críticos do neoliberalismo que, de uma forma mais ou menos disfarçada, chegou em força a Portugal com as consequências que actualmente conhecemos.

III.              Vamos ainda dizer que, como não há políticos perfeitos, Mário Soares , foi  um sujeito politico protagonista de grandes vitórias e de outras tantas derrotas. Muito embora também tenha conseguido estar onde achou e achava que melhor podia servir o país. Abrindo o pais às relações internacionais com o Mundo desde logo enquanto MNE.
No caso da nossa integração na CEE foi decisiva a sua visão e a sua acção uma vez que não havia (em 1985/86) tempo a perder. O país não era viável  sem a opção europeia dado que o império colonial  estava perdido. Já não era só Portugal que contava era o terceiro mundo africano que passava a ter uma voz própria, tardia,  independente e soberana.  
  Vamos acrescentar que Mário Soares, através do Partido Socialista, sempre foi preferindo rodear-se dos mais novos. Seria imprudente (ou ainda é cedo)  revelar aqui, no Al tejo, um certo episódio. Adiantamos somente que sabia aceitar e responder ( porque era bastante tolerante) às questões mais incomodas mesmo quando estava no auge do poder e quando correu o risco de perder as eleições presidenciais de 1986 para a direita.
O que, aliás, lhe viria a acontecer já neste seculo. Quando decidiu novamente ir à luta e não teve o apoio de uma parte dos militantes do seu partido de sempre.

IV.   Aqui chegados vamos lembrar que Mário Soares experimentou todas as contradições próprias da vivência de um grande politico num país quase sempre em dificuldades… pouco habituado ao «pluralismo dialogante» como Mário Soares o defendia.
Foi popular e impopular. Foi vencedor e foi vencido. Foi bom e menos bom governante. Soube-se rodear de bons e, por vezes, de maus colaboradores. Assim teria de acontecer ao longo de uma longa vida politica com todos os perigos e inimigos à espreita.
Atendendo, finalmente, ao lado mais pessoal que a politica sempre comporta, vamos terminar este nosso tributo, a Mário Soares, não resistindo a contar um episódio que demonstra bem como a politica é uma marca constante das qualidades, virtudes e defeitos da  natureza humana de que vamos sendo compostos.
        É assim: “ Certa noite, quando Molotov e Estaline se         dirigiam a casa atravessando a Praça do Picadeiro sob um intenso nevão, “sem guarda-costas”, foram abordados por um mendigo. Estaline deu-lhe dez rublos, e o desapontado pedinte gritou-lhe: “Maldito burguês!” ( Estaline,… S.S. Montefiore,  pág. 42)
V.    Terminamos  com uma sugestão para a Autarquia. Logo que a toponímia local esteja em ponto de acrescentamento,  propomos que a Assembleia Municipal aprove três novos nomes de ruas: A Rua Mário Soares, a Rua Álvaro Cunhal e a Rua Sá Carneiro. .. Quanto à rua D. Freitas do Amaral essa pode esperar mais uns anos.

Saudações Democráticas
 Antonio Neves Berbem  
10/01/2017              


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