MÁrio Soares
( A
arte e o engenho de ser um grande português )
I.
Por estes dias e
desde há décadas já muito foi dito sobre Mário Soares. Não vamos agora repisar a
incontornável lei da vida do seu desaparecimento. Mas também não queremos
deixar de lhe prestar, publicamente, uma justíssima homenagem através do
Al tejo.
Um
portal de leitura regional que, por certo, não vai descartar a edição deste
aberto e brevíssimo depoimento feito por um seu colaborador com assento
suficiente no seu indispensável projecto de comunicação social com larga incidência
local.
II.
Neste sentido,
direi que se há coisas que admirámos em Mário Soares foi o modo como sempre se
foi definindo com “uma coragem e postura rara” nos políticos portugueses.
Assumiu-se sempre como republicano,
laico e socialista. Dizia que não era um estadista mas um politico. Foi sempre
um europeísta. Antes do 25 de Abril foi abertamente anti salazarista. Depois do
25 disputou e impôs-se contra o modelo
politico que o Partido Comunista pretendia para Portugal. Um modelo sem
condições geopolíticas e sem viabilidade ou abrangência social.
Mário Soares como Álvaro Cunhal ( ou Sá
Carneiro) eram dois corajosos políticos oposicionistas ambos de extracção
burguesa.
O segundo bastante mais radical do que o primeiro. Ambos terão sido
derrotados. Mas, na interpretação do corifeu Vasco Pulido Valente, o único
vencedor da democracia tal como hoje se apresenta foi Mário Soares.
Como alguém já assinalou, diria aqui e agora,
enquanto militante, que Mário Soares era afinal um revolucionário burguês que
os burgueses criticavam por ser revolucionário e os revolucionários criticavam
por ser burguês.
Foi, por isso mesmo, que foi sabendo
interpretar e acompanhar os tempos que vivemos tornando-se num dos mais ferozes
críticos do neoliberalismo que, de uma forma mais ou menos disfarçada, chegou em
força a Portugal com as consequências que actualmente conhecemos.
III.
Vamos ainda dizer
que, como não há políticos perfeitos, Mário Soares , foi um sujeito politico protagonista de grandes
vitórias e de outras tantas derrotas. Muito embora também tenha conseguido
estar onde achou e achava que melhor podia servir o país. Abrindo o pais às
relações internacionais com o Mundo desde logo enquanto MNE.
No
caso da nossa integração na CEE foi decisiva a sua visão e a sua acção uma vez
que não havia (em 1985/86) tempo a perder. O país não era viável sem a opção europeia dado que o império
colonial estava perdido. Já não era só
Portugal que contava era o terceiro mundo africano que passava a ter uma voz
própria, tardia, independente e soberana.
Vamos
acrescentar que Mário Soares, através do Partido Socialista, sempre foi
preferindo rodear-se dos mais novos. Seria imprudente (ou ainda é cedo) revelar aqui, no Al tejo, um certo episódio.
Adiantamos somente que sabia aceitar e responder ( porque era bastante
tolerante) às questões mais incomodas mesmo quando estava no auge do poder e
quando correu o risco de perder as eleições presidenciais de 1986 para a
direita.
O
que, aliás, lhe viria a acontecer já neste seculo. Quando decidiu novamente ir à
luta e não teve o apoio de uma parte dos militantes do seu partido de sempre.
IV. Aqui
chegados vamos lembrar que Mário Soares experimentou todas as contradições
próprias da vivência de um grande politico num país quase sempre em
dificuldades… pouco habituado ao «pluralismo dialogante» como Mário Soares o
defendia.
Foi
popular e impopular. Foi vencedor e foi vencido. Foi bom e menos bom
governante. Soube-se rodear de bons e, por vezes, de maus colaboradores. Assim
teria de acontecer ao longo de uma longa vida politica com todos os perigos e
inimigos à espreita.
Atendendo,
finalmente, ao lado mais pessoal que a politica sempre comporta, vamos terminar
este nosso tributo, a Mário Soares, não resistindo a contar um episódio que
demonstra bem como a politica é uma marca constante das qualidades, virtudes e
defeitos da natureza humana de que vamos
sendo compostos.
É assim: “ Certa noite, quando Molotov
e Estaline se dirigiam a casa
atravessando a Praça do Picadeiro sob um intenso nevão, “sem guarda-costas”,
foram abordados por um mendigo. Estaline deu-lhe dez rublos, e o desapontado
pedinte gritou-lhe: “Maldito burguês!” ( Estaline,… S.S. Montefiore, pág. 42)
V. Terminamos com uma sugestão para a Autarquia. Logo que a
toponímia local esteja em ponto de acrescentamento, propomos que a Assembleia Municipal aprove
três novos nomes de ruas: A Rua Mário Soares, a Rua Álvaro Cunhal e a Rua Sá
Carneiro. .. Quanto à rua D. Freitas do Amaral essa pode esperar mais uns anos.
Saudações Democráticas
Antonio Neves Berbem
10/01/2017
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