A Cultura de questionar
Sempre fui educado no sentido de perceber a importância de
questionar o mundo. Sempre me ensinaram que apenas encontramos respostas quando
somos capazes de fazer perguntas, especialmente as difíceis e as que mais doem.
Será esta a minha cultura de base? A verdade é que nunca tive medo de
questionar quem quer que fosse, começando por mim mesmo. É uma atitude que não
agrada a muitos. O questionamento constante é, de facto, um aborrecimento e é
encarado como uma grande afronta para alguns, especialmente os que se acham
donos da razão, os que querem que o mundo seja feito à sua imagem e que quem os
rodeie seja tão só um rebanho amorfo e cinzento.
Nunca gostei do cinzento. Gosto do mundo a cores. Gosto do mundo
de todas as cores e, como tal, gosto de quem pensa e de quem questiona. Atrever-me-ia
a dizer que tenho um carinho especial por quem pensa diferente de mim. Não
serão estas pessoas as que mais me fazem questionar, e como tal me fazem
crescer?
Quando vejo alguém que pensa levantar uma questão e vejo como
resposta de alguém com responsabilidade política a ofensa gratuita ao ponto de
colocar em causa a honestidade intelectual de quem questiona, fico com os
poucos cabelos que tenho em pé (será por isso que a calvície me está a chegar
tão cedo?).
Mas como já percebi que para certas pessoas o questionamento dói.
Cá estou eu, humildemente, a juntar questões ao pouco esclarecido e nubloso. A
matéria em questão era a Cultura em Évora, pelo que aqui ficam as minhas
questões:
o Os donos da
razão acharão que se pode conceber um acesso democrático à Cultura sem uma
cultura democrática por parte do programador político?
o É ou não
importante que todos os agentes culturais do Concelho beneficiem das mesmas
oportunidades e que o acesso aos espaços públicos seja para usufruto de todos?
o É ou não
importante avaliar objectivamente se o Teatro Municipal ganha ou perde com a
existência de uma companhia residente? E nesta avaliação que variáveis são
importantes avaliar? Número de espectáculos? Público que acede aos
espectáculos? Diversidade e natureza dos espectáculos? Acesso equitativo dos
agentes culturais ao Teatro Municipal?
o Deve o
Município apoiar os agentes e associações culturais? E se sim, deve ou não
definir, com clareza, os critérios de atribuição de apoios, em condições de
transparência e equidade?
o Deve ou não
haver uma estratégia cultural para o Concelho? E esta estratégia deve ou não
envolver todos os agentes culturais, independentemente de quaisquer outras
considerações de valor?
o Deve ou não o
município privilegiar o apoio aos agentes culturais sedeados no Concelho em
detrimento de outros provenientes de outras zonas do país?
o Deve ou não a
Cultura ser um pilar do desenvolvimento económico, social e educativo do
Concelho? E se sim, é possível haver este desenvolvimento sem a criação de
espaços ecléticos e democráticos?
Várias questões, uma certeza: por mais que o pensamento seja
monocromático o espaço público tem de ser de todas as cores.
Até para a semana!
Bruno Martins
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