segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA RÁDIO DIANA/FM


                                                    A Cultura de questionar

Sempre fui educado no sentido de perceber a importância de questionar o mundo. Sempre me ensinaram que apenas encontramos respostas quando somos capazes de fazer perguntas, especialmente as difíceis e as que mais doem. Será esta a minha cultura de base? A verdade é que nunca tive medo de questionar quem quer que fosse, começando por mim mesmo. É uma atitude que não agrada a muitos. O questionamento constante é, de facto, um aborrecimento e é encarado como uma grande afronta para alguns, especialmente os que se acham donos da razão, os que querem que o mundo seja feito à sua imagem e que quem os rodeie seja tão só um rebanho amorfo e cinzento.
Nunca gostei do cinzento. Gosto do mundo a cores. Gosto do mundo de todas as cores e, como tal, gosto de quem pensa e de quem questiona. Atrever-me-ia a dizer que tenho um carinho especial por quem pensa diferente de mim. Não serão estas pessoas as que mais me fazem questionar, e como tal me fazem crescer?
Quando vejo alguém que pensa levantar uma questão e vejo como resposta de alguém com responsabilidade política a ofensa gratuita ao ponto de colocar em causa a honestidade intelectual de quem questiona, fico com os poucos cabelos que tenho em pé (será por isso que a calvície me está a chegar tão cedo?).
Mas como já percebi que para certas pessoas o questionamento dói. Cá estou eu, humildemente, a juntar questões ao pouco esclarecido e nubloso. A matéria em questão era a Cultura em Évora, pelo que aqui ficam as minhas questões:
o    Os donos da razão acharão que se pode conceber um acesso democrático à Cultura sem uma cultura democrática por parte do programador político?
o    É ou não importante que todos os agentes culturais do Concelho beneficiem das mesmas oportunidades e que o acesso aos espaços públicos seja para usufruto de todos?
o    É ou não importante avaliar objectivamente se o Teatro Municipal ganha ou perde com a existência de uma companhia residente? E nesta avaliação que variáveis são importantes avaliar? Número de espectáculos? Público que acede aos espectáculos? Diversidade e natureza dos espectáculos? Acesso equitativo dos agentes culturais ao Teatro Municipal?
o    Deve o Município apoiar os agentes e associações culturais? E se sim, deve ou não definir, com clareza, os critérios de atribuição de apoios, em condições de transparência e equidade?
o    Deve ou não haver uma estratégia cultural para o Concelho? E esta estratégia deve ou não envolver todos os agentes culturais, independentemente de quaisquer outras considerações de valor?
o    Deve ou não o município privilegiar o apoio aos agentes culturais sedeados no Concelho em detrimento de outros provenientes de outras zonas do país?
o    Deve ou não a Cultura ser um pilar do desenvolvimento económico, social e educativo do Concelho? E se sim, é possível haver este desenvolvimento sem a criação de espaços ecléticos e democráticos?
Várias questões, uma certeza: por mais que o pensamento seja monocromático o espaço público tem de ser de todas as cores.
Até para a semana!

Bruno Martins

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