Quarta, 11 Janeiro 2017
Mário Soares foi ontem a enterrar. Para
uns, um homem singular, um combatente incansável pela instauração da liberdade
no país. O pai da democracia. Para outros, um homem até odiado, a quem
atribuíram grandes responsabilidades pelos insucessos da descolonização operada
em 75. Um anti patriota, portanto. Para mim, fora um homem que marcou a
história do nosso país na última metade do século vinte, sobretudo, pela sua
participação na “ fonte luminosa” na oposição ao comunismo.
Nunca votei nele, mas reconheço que, Mário Soares contribuiu decisivamente,
para que Portugal não tivesse caído nas mãos dos comunistas, em 1975. É, na
minha opinião o maior legado politico por ele deixado. O facto de eu poder
escrever esta crónica sem qualquer tipo de censura, é um facto que fala por si
só. Não tem, portanto, qualquer preço.
Também, em abono da verdade, deveremos
relevar o papel determinante que Mário Sores teve na adesão de Portugal à então
CEE, hoje União Europeia, e, à Aliança Atlântica – NATO. Contribuiu de forma
muito empenhada para que estes factos da maior relevância para o país, fossem
uma realidade. Por isso, inegavelmente, esteve, como agora se diz, no lado
certo da história.
Porém, do mesmo modo que falo de
verdade, a isenção e a lucidez deverão presidir a nossa memória coletiva. O
certo é que o país, nos últimos quarenta anos, atravessou períodos nada
dignificantes. E, neste aspeto, afirmo eu, o país passou ao lado da “boa
história”. De facto Portugal foi intervencionado por três vezes por má gestão
politica e fomos visitados pela afamada TROIKA. Não deverá haver um único
português que não tenha ouvido pelo menos uma vez a palavra TROIKA. Apesar
disso não foram retiradas as devidas lições dos motivos que conduziram o país
para a crise financeira, nas três ocasiões.
Dito isto, embora seja ainda muito
prematuro para se fazer a história da herança política de Mário Soares, pelo
menos para mim, uma coisa é certa. Nunca que me apercebi que tivesse
contribuído de forma substancial no combate dos problemas estruturais que
afetam o pais há muitas décadas. O peso do Estado na economia. A importância da
meritocracia. A corrupção. A pequena cunha. A interferência destas questões na
nossa vida comunitária, continua a condicionar de forma muito acentuada o
desenvolvimento do país.
José Policarpo
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