Quinta, 15 Dezembro 2016
Lá fora estão sete graus negativos. Lá
dentro estão milhares de trabalhadores a trabalhar debaixo de uma intensa
pressão, condicionados a ritmos e horários de trabalho quase desumanos.
Estamos em Dunfermline, na Escócia, e alguns dos trabalhadores, quando
sairem do local de trabalho irão descansar em tendas instaladas na floresta que
rodeia as instalações da empresa.
A razão é simples, com o salário que a
empresa paga aos seus trabalhadores semanalmente, não compensa pagar o
transporte diário para casa, que é fornecido pela própria empresa.
A notícia, divulgada pelo jornal
britânico The Courier, revela um mundo de relações laborais cada vez mais
desequilibradas e desreguladas, onde a intensificação da exploração dos
trabalhadores é a regra, em função da obtenção do máximo lucro.
A empresa em questão, um gigante mundial
do comércio electrónico, emprega naquela unidade cerca de 1400 trabalhadores de
forma permanente e 4000 trabalhadores temporários, contratados para estas
últimas semanas do ano.
Para os trabalhadores que aceitaram, sob
anonimato, prestar declarações ao jornal britânico, as condições de trabalho
são miseráveis e os salários indignos. Para o representante da empresa os
salários dos “colaboradores” são competitivos.
Os horários de
trabalho, que chegam a atingir as 60 horas semanais, por pouco mais que o
salário mínimo, não permitem aos trabalhadores ter vida para além da mera
sobrevivência.
É assim na Amazon, na Escócia, mas também
é assim nalgumas empresas em Portugal, onde a normalidade é pagar o salário
mínimo, contratar a meio tempo, exigir horários de tempo inteiro e atirar o
pagamento do diferencial para um banco de horas que raramente é usado.
A exploração como normalidade, a
competividade assente em salários de miséria e horários de trabalho elásticos
em função das necessidades de lucro das empresas, a precariedade como
instrumento de pressão, é um caminho que alguns assumem ser um mero sinal dos
tempos.
Não há sinais nem marcas dos tempos. Os
ganhos nesta desequilibrada contenda conquistam-se através da luta diária, sem
concessões a taticismos de ocasião.
Só assim, os tempos mudarão de sinais e
de marcas.
Até para a semana
Eduardo Luciano
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