........(d) O que fez Diogo Lopes Sequeira da sua longa vida
- Foi Fidalgo
da Casa Real, Comandante de Armadas, foi do Conselho do Rei D. Manuel , Almocaté
da Corte. Um militar/general de elite como também era visto e aceite entre os
muçulmanos e indianos.
Logo em 1509, foi enviado com 4 naus a descobrir
Malaca e a assentar Tratado de Amizade e Comercio com o rei local, Mahamud.
Malaca, no Golfo de Bengala, era uma cidade rica de
30.000 fogos e 100.000 habitantes e estava no centro do comercio da Arábia,
Indostão, China, Japão e as Filipinas. Dominada por comerciantes mouros.
Nesta missão, Diogo Lopes Sequeira reconheceu as
costas de Madagáscar e esteve na ilha de Sumatra (Indonésia) onde pôs um Padrão
de Armas. Avistou um cabo a que deu o nome de S. Lourenço. Navegou por outras
ilhas às quais chamou de “Santa Clara”. Daqui partiu para a Índia e chegou a
Cochim em 21/4/1509 após um ano de navegação.
Malaca acabou por lhe correr bastante mal. Distraído,
jogava xadrez enquanto os inimigos mouros tentavam apunhá-lo. Deixou lá 20/27
cativos que Afonso de Albuquerque haveria mais tarde de resgatar.
Voltou para Portugal, algo zangado, com o amigo Afonso
de Albuquerque que lamentou o desfecho inglório em Malaca e o facto de ter
perdido um óptimo oficial e amigo.
Haveria de suceder a Lopo Soares de Albergaria na
capitania-mor da Índia, em 1518, conforme já assinalámos sendo anteriormente bem
recebido na Índia por D. Francisco de Almeida.
Depois em 1510, serviu o Rei em comissão militar, no
norte de África, comandando armadas no Estreito de Gibraltar contra a pirataria
moura, provavelmente praticando também a guerra de corso.
Assim em 1516, levou socorro a Arzila, cercada pelo
reino de Fez e tomou parte nas expedições contra os reinos mouros de Targa e
Araiana.
Enfim.
Como recompensa, foi nomeado em 1518, Governador da
Índia. Para o efeito saiu de Lisboa em 27/3/1518, com 9 embarcações e 1.500
homens. Chegou a Goa em 8 de Setembro. Dali foi para Cochim onde Lopo Soares de
Albergaria lhe entregou o governo geral da Índia.
Nesta missão especial, levava ainda como regimento
entrar no Mar Vermelho e ir ao porto de Maçuá na Etiópia, um reino cristão do imaginário
Preste João, aliado dos cristãos.
Sem grande
sucesso, no Mar Vermelho, ensaiou uma nova expedição contra Diu onde também
viria a falhar. De facto, andava a faltar-lhe o génio estratégico espantoso do
amigo Afonso de Albuquerque.
Não obstante, Diogo Lopes Sequeira, conseguiu
estabelecer relações comerciais proveitosas com o reino de Pegú graças ao seu empenho
diplomático. Era afinal um bom diplomata.
Por isso mesmo, deixou uma fortaleza construída em
Chaúl e uma feitoria nas Ilhas Maldivas que era uma das escalas de navegação
clandestina dos muçulmanos para o Mar Vermelho e para o Golfo Pérsico.
O seu sucessor, Duarte de Meneses, desde Janeiro de
1522, haveria entretanto de exercer um menos bom governo como prova o
levantamento do Rei de Ormuz contra o nosso domínio.
Vamos, agora, lembrar um episódio bastante curioso.
Em Maçuá, reino da Etiópia, que Camões no Canto X,
Estância 52, invoca por ter “ as cisternas de água cheias”, Diogo Lopes
Sequeira, não teve com meias medidas e mandou “ Purificar e Benzer uma das suas
mesquitas convertendo-a em «Capela de Nossa Senhora da Conceição» onde se
celebrarão os santos mistérios”. Do cristianismo, é claro!
(e)
Finalmente, em 1522,Diogo Lopes Sequeira, fez-se “de
vela” para Portugal e deve ter regressado ao Alandroal. Tornamos a encontrá-lo,
ainda em 1524, a prestar testemunho no processo litigioso entre D. João III e o
Imperador Carlos V sobre a posse das Molucas. Também conhecidas pelas Ilhas do
Cravo ou das drogas ricas.
Anota-se que, Carlos V, ordenou várias expedições às
Molucas, o que originou combates entre espanhóis e portugueses em Ternate e
Tidore e que o Papa Adriano IV estaria preparado para enviar um navio que
serviria de arbitro na fixação da linha de demarcação da latitude das Ilhas,
tendo em conta as disposições do Tratado
de Tordesilhas.
Foi assim até que, em Fevereiro de 1524, os dois
soberanos combinaram nomear de parte a parte: 3 astrónomos, 3 pilotos e 3
sábios que se reuniram entre «Elvas e Badajoz» para resolver este conflito
político-geográfico.
-- Entre os 3
Pilotos lá estava Diogo Lopes Sequeira.
Esta real contenda, só haveria de terminar pelo
Tratado de Saragoça de 23/4/1529, um ano antes de Diogo Lopes Sequeira morrer,
pelo recuo da linha de partilha proposta no Tratado de Tordesilhas além do
pagamento de 250.000 ducados pelo Imperador espanhol. E, finalmente, pelo
abandono de Carlos V das pretensões à posse das Molucas dado que foram os portugueses os seus primeiros ocupantes.
Diogo Lopes Sequeira terá acompanhado e estado sempre a
par destas complicadas negociações!
(f)
CONCLUSÕES
1.
Segundo C. Boxer
ou, de acordo com C. Cipola, a característica mais espantosa do Império português
da Índia, foi por um lado a sua extrema dispersão. Mas, por outro lado, foi o
poder de fogo e da artilharia pesada das embarcações portuguesas. Autênticas
fortalezas marítimas.
Além disso, Afonso de Albuquerque nunca esteve
sozinho. Teve o envolvimento da Corte de D. Manuel e de outros grandes
navegadores, combatentes e governadores na Índia.
De facto, a história e a saga da expansão portuguesa
na Índia é bastante mais complexa do que aquilo que deixámos aqui levemente entrevisto
sendo a consulta das fontes primárias um trabalho necessário e muito exigente.
Não vamos, porém, terminar sem antes concluir que «o
perfil humano» de Diogo Lopes Sequeira conduz-nos a ver nele,” um Fidalgo-general” eficiente e ponderado Comandante das diversas Armadas que organizou.
Homem dotado certamente de um inteligência superior,
bastante menos expansivo do que Afonso de Albuquerque e menos teatral. Bom
diplomata e negociador competente foi fiel
servidor dos seus três reis ( D. João II, D. Manuel I e D .João III ) que
acompanhou durante a sua vida embora tivesse
sido um tanto critico do “Piedoso” na questão das Molucas.
Resta acrescentar que teve a fama e, talvez, também o
proveito de “gostar de enriquecer” de um forma bastante apressada. Uma prática
que era, no fundo, bastante comum entre os Fidalgos da Casa Real que embarcavam
para a Índia.
Visto que “na Pátria… era pouca a fartura” como o contou
Fernão Mendes Pinto na “Peregrinação” que Fausto musicou e veio a cantar em «Por este Rio Acima» de uma
forma original e criativa.
2.
Seja como
for, Diogo Lopes Sequeira “ jaz morto e enterrado na Consolação” numa igreja em
ruínas, à espera que um dia, Alguém, lhe torne a erguer e a redescobrir o seu
passado, a sua memória e a conhecer a sua intervenção na História Internacional de
Portugal e do Euromundo percebido por Camões no século XVI.
Um nome de rua (que é a rua onde nasci) e de Escola já
não chegará. Ou chega, cada vez menos, porque como dizia G. Orwell “só quem
conhece o passado possui o futuro”.
Assim, pela minha parte, espero ter dado um pequeno
contributo para percebermos o papel de Diogo Lopes Sequeira com um novo olhar, vendo nele «um grande
Alandroalense» e uma personagem com projecção histórica nacional que marcou uma
época única da História de Portugal.
Entre os séculos XV e XVI.
Durante os três reinados decisivos que fizeram de nós “Senhores da Conquista,
Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia”. Isto sem esquecer que
o Rei de Portugal e dos Algarves, até 1521, era também Rei “Daquém e de Dalém
em Africa e Senhor da Guiné”.
“Heróis do mar” que fomos estamos novamente em lista e
à espera de vez para mantermos «o mar português» que anda, cada vez mais, eurocobiçado!
Obrigado pela atenção que me dispensaram.
António
Neves Berbém
( 3 de
Setembro de 2016)
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