terça-feira, 13 de setembro de 2016

HERÓIS DA HISTÓRIA DO ALANDROAL – DIOGO LOPES DE SEQUEIRA

Continuado do dia anterior - Final

........(d) O que fez Diogo Lopes Sequeira da sua longa vida
 - Foi Fidalgo da Casa Real, Comandante de Armadas, foi do Conselho do Rei D. Manuel , Almocaté da Corte. Um militar/general de elite como também era visto e aceite entre os muçulmanos e indianos.
Logo em 1509, foi enviado com 4 naus a descobrir Malaca e a assentar Tratado de Amizade e Comercio com o rei local, Mahamud.  
Malaca, no Golfo de Bengala, era uma cidade rica de 30.000 fogos e 100.000 habitantes e estava no centro do comercio da Arábia, Indostão, China, Japão e as Filipinas. Dominada por comerciantes mouros.
Nesta missão, Diogo Lopes Sequeira reconheceu as costas de Madagáscar e esteve na ilha de Sumatra (Indonésia) onde pôs um Padrão de Armas. Avistou um cabo a que deu o nome de S. Lourenço. Navegou por outras ilhas às quais chamou de “Santa Clara”. Daqui partiu para a Índia e chegou a Cochim em 21/4/1509 após um ano de navegação.
Malaca acabou por lhe correr bastante mal. Distraído, jogava xadrez enquanto os inimigos mouros tentavam apunhá-lo. Deixou lá 20/27 cativos que Afonso de Albuquerque haveria mais tarde de resgatar.
Voltou para Portugal, algo zangado, com o amigo Afonso de Albuquerque  que lamentou o  desfecho inglório em Malaca e o facto de ter perdido  um óptimo oficial e amigo.
Haveria de suceder a Lopo Soares de Albergaria na capitania-mor da Índia, em 1518, conforme  já assinalámos sendo anteriormente bem recebido na Índia por D. Francisco de Almeida.
Depois em 1510, serviu o Rei em comissão militar, no norte de África, comandando armadas no Estreito de Gibraltar contra a pirataria moura, provavelmente praticando também a guerra de corso.
Assim em 1516, levou socorro a Arzila, cercada pelo reino de Fez e tomou parte nas expedições contra os reinos mouros de Targa e Araiana.
Enfim.
Como recompensa, foi nomeado em 1518, Governador da Índia. Para o efeito saiu de Lisboa em 27/3/1518, com 9 embarcações e 1.500 homens. Chegou a Goa em 8 de Setembro. Dali foi para Cochim onde Lopo Soares de Albergaria lhe entregou o governo geral da Índia.
Nesta missão especial, levava ainda como regimento entrar no Mar Vermelho e ir ao porto de Maçuá na Etiópia, um reino cristão do imaginário Preste João, aliado dos cristãos.
 Sem grande sucesso, no Mar Vermelho, ensaiou uma nova expedição contra Diu onde também viria a falhar. De facto, andava a faltar-lhe o génio estratégico espantoso do amigo Afonso de Albuquerque.
Não obstante, Diogo Lopes Sequeira, conseguiu estabelecer relações comerciais proveitosas com o reino de Pegú graças ao seu empenho diplomático. Era afinal um bom diplomata.
Por isso mesmo, deixou uma fortaleza construída em Chaúl e uma feitoria nas Ilhas Maldivas que era uma das escalas de navegação clandestina dos muçulmanos para o Mar Vermelho e para o Golfo Pérsico.
O seu sucessor, Duarte de Meneses, desde Janeiro de 1522, haveria entretanto de exercer um menos bom governo como prova o levantamento do Rei de Ormuz contra o nosso domínio.
Vamos, agora, lembrar um episódio bastante curioso.
Em Maçuá, reino da Etiópia, que Camões no Canto X, Estância 52, invoca por ter “ as cisternas de água cheias”, Diogo Lopes Sequeira, não teve com meias medidas e mandou “ Purificar e Benzer uma das suas mesquitas convertendo-a em «Capela de Nossa Senhora da Conceição» onde se celebrarão os santos mistérios”. Do cristianismo, é claro!
(e)
Finalmente, em 1522,Diogo Lopes Sequeira, fez-se “de vela” para Portugal e deve ter regressado ao Alandroal. Tornamos a encontrá-lo, ainda em 1524, a prestar testemunho no processo litigioso entre D. João III e o Imperador Carlos V sobre a posse das Molucas. Também conhecidas pelas Ilhas do Cravo ou das drogas ricas.
Anota-se que, Carlos V, ordenou várias expedições às Molucas, o que originou combates entre espanhóis e portugueses em Ternate e Tidore e que o Papa Adriano IV estaria preparado para enviar um navio que serviria de arbitro na fixação da linha de demarcação da latitude das Ilhas, tendo em conta as  disposições do Tratado de Tordesilhas.
Foi assim até que, em Fevereiro de 1524, os dois soberanos combinaram nomear de parte a parte: 3 astrónomos, 3 pilotos e 3 sábios que se reuniram entre «Elvas e Badajoz» para resolver este conflito político-geográfico.
 -- Entre os 3 Pilotos lá estava Diogo Lopes Sequeira.
Esta real contenda, só haveria de terminar pelo Tratado de Saragoça de 23/4/1529, um ano antes de Diogo Lopes Sequeira morrer, pelo recuo da linha de partilha proposta no Tratado de Tordesilhas além do pagamento de 250.000 ducados pelo Imperador espanhol. E, finalmente, pelo abandono de Carlos V das pretensões à posse das Molucas dado que foram  os portugueses os seus primeiros ocupantes.
Diogo Lopes Sequeira terá acompanhado e estado sempre a par destas complicadas  negociações!
(f)
CONCLUSÕES
1.     Segundo C. Boxer ou, de acordo com C. Cipola, a característica mais espantosa do Império português da Índia, foi por um lado a sua extrema dispersão. Mas, por outro lado, foi o poder de fogo e da artilharia pesada das embarcações portuguesas. Autênticas fortalezas marítimas.
Além disso, Afonso de Albuquerque nunca esteve sozinho. Teve o envolvimento da Corte de D. Manuel e de outros grandes navegadores, combatentes e governadores na Índia.
De facto, a história e a saga da expansão portuguesa na Índia é bastante mais complexa do que aquilo que deixámos aqui levemente entrevisto sendo a consulta das fontes primárias um trabalho necessário e muito exigente.
Não vamos, porém, terminar sem antes concluir que «o perfil humano» de Diogo Lopes Sequeira  conduz-nos  a ver nele,” um Fidalgo-general” eficiente e  ponderado  Comandante das diversas Armadas que organizou.
Homem dotado certamente de um inteligência superior, bastante menos expansivo do que Afonso de Albuquerque e menos teatral. Bom diplomata e negociador competente  foi fiel servidor dos seus três reis ( D. João II, D. Manuel I e D .João III ) que acompanhou durante a sua vida embora  tivesse sido um tanto critico do “Piedoso” na questão das Molucas.
Resta acrescentar que teve a fama e, talvez, também o proveito de “gostar de enriquecer” de um forma bastante apressada. Uma prática que era, no fundo, bastante comum entre os Fidalgos da Casa Real que embarcavam para a Índia.
Visto que “na Pátria… era pouca a fartura” como o contou Fernão Mendes Pinto na “Peregrinação” que Fausto musicou  e veio a cantar em «Por este Rio Acima» de uma forma original e criativa.
     2.
       Seja como for, Diogo Lopes Sequeira “ jaz morto e enterrado na Consolação” numa igreja em ruínas, à espera que um dia, Alguém, lhe torne a erguer e a redescobrir o seu passado, a sua memória e a conhecer a sua  intervenção na História Internacional de Portugal e do Euromundo  percebido por  Camões no século XVI.
Um nome de rua (que é a rua onde nasci) e de Escola já não chegará. Ou chega, cada vez menos, porque como dizia G. Orwell “só quem conhece o passado possui o futuro”.
Assim, pela minha parte, espero ter dado um pequeno contributo para percebermos o papel de Diogo Lopes Sequeira  com um novo olhar, vendo nele «um grande Alandroalense» e uma personagem com projecção histórica nacional que marcou uma época única da História  de Portugal.  
Entre os séculos XV e XVI.
Durante os três reinados decisivos que  fizeram de nós “Senhores da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia”. Isto sem esquecer que o Rei de Portugal e dos Algarves, até 1521, era também Rei “Daquém e de Dalém em Africa e Senhor da Guiné”.
“Heróis do mar” que fomos estamos novamente em lista e à espera de vez para mantermos «o mar português» que anda, cada vez mais,  eurocobiçado!
   Obrigado pela atenção que me dispensaram.

         António Neves Berbém
          ( 3 de Setembro de 2016)

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