Quinta, 22 Setembro 2016
Cá estamos de novo para iniciar mais um período de crónicas que se irá
prolongar até ao Verão de 2017.
Regressado de onde não
fui, tive tempo para olhar de forma mais distante a realidade que nos cerca e
perceber melhor que este mundo onde vivemos está cada vez mais perigoso.
Nestes últimos
dois meses os partidos arredados do poder tudo têm feito para manter e
aprofundar a teoria da legitimidade da solução governativa que resultou das
últimas eleições legislativas, combatendo tudo o que sai das opções
governativas, em particular a recuperação de rendimentos do trabalho, ainda que
insuficiente.
A comunicação social
dominante continua dominada pelos que construíram a teoria do “ajustamento
inevitável”, em particular a rádio e televisão públicas que continuam a tratar
o ex-primeiro ministro como se ainda o fosse.
No Brasil consumou-se
o golpe de Estado que destituiu Dilma e colocou no poder um homem que
representa tudo o que há de mais negativo na sociedade brasileira. De repente,
aos olhos da comunicação global, o país que tinha casos de corrupção que
espantavam o mundo passou a não ser notícia por essas razões. O papel estava
cumprido e era preciso mudar de alvo.
O próximo alvo é a
Venezuela, vítima de uma guerra económica sem tréguas que leva o povo às ruas a
exigir a queda do presidente eleito. Não importam as razões da escassez de bens
de consumo, o que importa é acabar com a experiência de governo que permitiu
retirar da miséria milhões de venezuelanos.
Na Turquia, um suposto
golpe de Estado permitiu ao presidente no poder limpar tudo o que era oposição,
prendendo milhares de pessoas e afastando outros tantos dos cargos que
exerciam, atrevendo-se mesmo a propor a restauração da pena de morte.
Em Calais, constrói-se
um muro para impedir a passagem de migrantes para a território inglês. A
dramática ironia da construção deste muro vem mostrar como é visível o cinismo
dos que medem a bondade dos muros em função dos seus interesses económicos e
políticos.
A memória continua a
ser curta (diria que cada vez mais curta na voragem das redes sociais) quando
vemos gente que ganha quinhentos euros por mês a achar-se “classe média” e sem
se lembrar que foram o alvo preferencial de um governo que provocou um dos
maiores retrocessos civilizacionais da nossa história.
Parecem ter razão os
que afirmam que a maior obra do capitalismo é criação de pobres de direita.
Talvez não seja a maior obra, mas que é uma forte garantia de continuidade do
sistema, parece não restar dúvidas.
Mas nada de
desesperos, que o caminho é sempre em frente e o futuro radioso. Razão tinha
Goethe quando colocou o diabo a dizer ao pobre Fausto:
“Mas de costume és
bastante endiabrado.
Não acho nada mais
inepto no mundo
Do que um diabo
desesperado.”
Até para a
semana
Eduardo Luciano
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