Bartolomeus e
Bernardinos
1)
Tal
como o narrador tem, à sua disposição, toda a criatividade do mundo para contar
uma estória, assim o leitor deve usar a sua liberdade para a interpretar como
melhor conseguir percebê-la.
A
grande marca da literatura da maior à menor (independentemente dos seus
géneros) é a capacidade, o engenho e a arte, de pôr a realidade ao serviço da
ficção e a ficção prestando um constante auxílio à realidade.
Percebe-se que é o que AC experimenta fazer através de
uma narrativa que tem “pormenores e detalhes deliciosos”. Assim como tem o
poder atractivo bastante para que, qualquer leitor, goste de ir vendo e
recapitulando formas diversas (e trágicas) da vida postas em escrito.
Diria,
neste passo, ainda mais: não vou adjectivar a escrita do AC porque ela se impõe
por si mesma. Por isso, gostámos bastante. Embora também dispensássemos a
alusão inicial que se baseia em “factos verídicos”. Verdadeiros ou não, o que
interessa é «o modo aberto» como a seguir podem ser lidos e interpretados. E
vão sendo postos ao nosso dispor.
2)
Virando-me para a narrativa, a personagem que mais me
atraiu foi a Alda. É um traste feminino de primeira apanha. Assedia e sofre
assédios, enquanto faz boas compras na mercearia. O Macedo gentil, esse acabou
em louco; quando o roubo e o crime acontecem, logo insinua um valente par de
cornos “ao bexigoso do marido”, o guarda- nocturno.
Se repararem, algo sorridente, a Alda, prevê quase tudo
e sabe-a toda. Mulher que gosta de marcar o seu território percebem-se bem os
seus caprichos, necessidades e insatisfações.
E
como se isso não bastasse sempre que faz as compras, vai de caminho direitinha
à Consolação (quando a Igreja ainda não estava em ruínas…) em acto breve de
contricção à Virgem; e de suprema consolação perante Deus.
Se isto não é
uma perversidade “de alto coturno” e menção pura à feminina perversidade para
quem agora revê a Alda, já não sei onde pode estar a arte (como acima dizia) de
bem construir “uma personagem decisiva” neste tamanho enredo.
Precisamente
por ser aquela personagem em que, por vezes, menos se repara e a matriz de uma
engendrada «paz surda» que acabou numa morte trágica. Acompanhada de fundas
facadas e sangue camiliano a mais.
Dito
assim, vou só acrescentar que o Autor ao exercer a sua liberdade de escrita não
tem que apresentar “uma qualquer verdade e versão única”.
É esse o sortilégio da vida e de todos os crimes que
continuam até hoje por desvendar. Assim como também é o sortilégio de quem
consegue dar formas literárias ao que a realidade uma vezes mostra e outras vai
encobrindo.
O ideal, penso
eu, seria o Autor tornar um destes dias a reconfigurar o enredo social e
revisitar as personagens do crime e desta estória, de modo a poder descobrir-se
o mistério, ou a avivar as partes deste mistério “alandroalense” que ainda
continuam em suspenso. E assim continuarão. Ou é melhor que assim seja?
Saudações/ Abraço ao Autor
Antonio Neves Berbem
3 comentários:
OBS.
At. Visitantes
Visitantes do Blog e do Dia Um Mundial da Musica
Querem lá ver que quem esfaqueou o Bartholomeu B. o jovem pastor (que
passava à hora errada no local certo...) foi a Alda numa de
encomendar às chamas do Inferno, o Bartholomeu B.,o ladrão - marido?
Está ou não aceite, hoje, e segundo o rezam todas os cronistas (antigos
e modernos) que as orgias do pecado vivem e moram sempre paredes meias
com os arrebiques da virtude?
Expliquei-me?
Melhores saudações
ANBerbem
O Bartholomeu era um antigo Guarda Fiscal e foi morto por um contrabandista devido a problemas com o contrabando, pois o Guarda Fiscal queria ficar com a carga do contrabandista transportava.
Logo, o Bartholomeu Bernardino era um ladrão, e da pior espécie... fez bem o contrabandista ao lhe tratar da saúde.
Enviar um comentário