Esta foto retrata uma das muitas estadias da família Garcia
(Francisco e Antónia, meus padrinhos e protectores), acompanhados de amigos e criadas
(tia Ana, e Ana Feijoa, mais família que criadas), no MONTE DA BARRANCA. O
pequenino a quem seguram as mãos sou eu.
Ao manusear este retrato foram inúmeros os episódios felizes
que me acudiram a mente e que vivi nesse mesmo Monte, desde as caixa de
pirolitos compradas propositadamente para consumir durante o tempo da ceifa e
da debulha, das açordas e gaspachos confecionados pelo Ladislau, a pesca à lapa
nos pegos da ribeira, os serões passados no adro do Monte ouvindo os toques de
gaita do Manel Pirolito, o nascimento
dos relas, a ordenha das cabras, as noites dormidas no camalho da eira.
Mas o que me leva hoje a escrever estas linhas foi a observação
da última janela que se vê na foto. Trata-se da janela de uma dependência de avultada
dimensão na qual em grandes esteiras de canas sobrepostas, se curavam milhares
de queijos.
Queijos esses que faziam parte da “pitança” a que cada
jornaleiro tinha direito diariamente enquanto durava a ceifa e a debulha. Um ou
dois, conforme o rendimento diário e distribuídos logo após o gaspacho da ceia.
A esse propósito permito-me contar-lhe a seguinte história:
Umas vezes meu pai, na qualidade de manajeiro, outras o
Manecas, como carreiro e criado mais velho, cabia-lhes a tarefa de distribuir
os queijos. Por causa das dúvidas os referidos queijos eram introduzidos num
saco de estopa e sem se mostrar o produto fazia-se a pergunta: «PARA QUEM É
ESTE?» ao que o parceiro com a malta toda reunida ao redor indicava um
nome. No meio de tantos queijos sempre
havia um ou outro maior pelo que quando vinha à mão um mais avultado, a pergunta
era alterada para: «E ESTE PARA QUEM É?».
Está claro que o mesmo seria ou para o Manecas ou para o António.
Estou convencido que raramente os queijos eram comidos
durante a safra e que seriam mais uma achega para o sustento dos familiares
quando no regresso do trabalho, e claro está que quer a Florinda quer a
Teonila, ficavam mais contentes com um queijo grande do que com um minorca.
Era assim noutros tempos….
Chico Manuel
19Julho2016
19Julho2016
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