quarta-feira, 20 de julho de 2016

RECORDAÇÕES


Esta foto retrata uma das muitas estadias da família Garcia (Francisco e Antónia, meus padrinhos e protectores), acompanhados de amigos e criadas (tia Ana, e Ana Feijoa, mais família que criadas), no MONTE DA BARRANCA. O pequenino a quem seguram as mãos sou eu.
Ao manusear este retrato foram inúmeros os episódios felizes que me acudiram a mente e que vivi nesse mesmo Monte, desde as caixa de pirolitos compradas propositadamente para consumir durante o tempo da ceifa e da debulha, das açordas e gaspachos confecionados pelo Ladislau, a pesca à lapa nos pegos da ribeira, os serões passados no adro do Monte ouvindo os toques de gaita do Manel Pirolito,  o nascimento dos relas, a ordenha das cabras, as noites dormidas no camalho da eira.

Mas o que me leva hoje a escrever estas linhas foi a observação da última janela que se vê na foto. Trata-se da janela de uma dependência de avultada dimensão na qual em grandes esteiras de canas sobrepostas, se curavam milhares de queijos.
Queijos esses que faziam parte da “pitança” a que cada jornaleiro tinha direito diariamente enquanto durava a ceifa e a debulha. Um ou dois, conforme o rendimento diário e distribuídos logo após o gaspacho da ceia.
A esse propósito permito-me contar-lhe a seguinte história:
Umas vezes meu pai, na qualidade de manajeiro, outras o Manecas, como carreiro e criado mais velho, cabia-lhes a tarefa de distribuir os queijos. Por causa das dúvidas os referidos queijos eram introduzidos num saco de estopa e sem se mostrar o produto fazia-se a pergunta: «PARA QUEM É ESTE?» ao que o parceiro com a malta toda reunida ao redor indicava um nome.  No meio de tantos queijos sempre havia um ou outro maior pelo que quando vinha à mão um mais avultado, a pergunta era alterada para: «E ESTE PARA QUEM É?».
Está claro que o mesmo seria ou para o Manecas ou para o António.
Estou convencido que raramente os queijos eram comidos durante a safra e que seriam mais uma achega para o sustento dos familiares quando no regresso do trabalho, e claro está que quer a Florinda quer a Teonila, ficavam mais contentes com um queijo grande do que com um minorca.
Era assim noutros tempos….

Chico Manuel
19Julho2016

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