quarta-feira, 13 de julho de 2016

LUGAR À CULTURA

                             Textos do Dr. Alexandre Laboreiro
                                            
                                                     Para onde vai a Educação?
 «A educação é a chave para abrir a porta de ouro da Liberdade.»
 George Washington Carver
(cientista norte-americano  - 1860/1943)

Jean Piaget (a quem pedimos emprestado o título deste breve registo escrito) constata que, do ponto de vista quantitativo, o aumento considerável e sempre crescente dos efectivos escolares levou às consequências que são do conhecimento generalizado. Por um lado, com o prolongamento da escolaridade, uma igualdade maior na formação de meninos e meninas, e a cobertura do Estado (bolsas, financiamento orçamental das Escolas, etc.) resultou haver um pouco mais de justiça nas possibilidades de instrução oferecidas às novas gerações, traduzindo-se por fim no aumento incessante, e por vezes inquietador, do número de estudantes nas universidades. Por outro lado, entretanto, como essa explosão generalizada de quadros em todos os escalões não se fez acompanhar da revalorização social da profissão do magistério  -  que teria sido necessária nos níveis secundários e sobretudo primários  -  verificou-se uma carência de professores e a consequente necessidade de recorrer às substituições, daí resultando um problema de nível, nem sempre ainda resolvido. Em compensação, houve um esforço no sentido de diversificação dos tipos de ensino, especialmente nos ramos profissionais e técnicos, o que constitui um progresso, e foram tomadas medidas diversas para melhorar a orientação dos alunos e assegurar, no decorrer dos estudos e, particularmente, no início do curso secundário, a possibilidade de transferência de um sector para o outro. Os “ciclos de orientação” desempenharam papel muito importante a esse respeito; todavia, apesar do trabalho eficaz dos pedagogos e psicólogos escolares, permanecem em aberto as indagações em torno do valor dos instrumentos de orientação e selecção. Em especial, permanece com frequência a dificuldade de eliminar este flagelo da escolaridade que vem a ser o papel e o valor atribuídos aos exames.
Entretanto, do ponto de vista qualitativo, uma série de tendências mais ou menos novas se manifestaram em diversos países, que parecem estar à frente dos actuais movimentos. Assim, é que, antes de mais nada, pode ser observado em vários deles, sobretudo nos EUA, um esforço destinado a renovar a educação pré-escolar, até então muito negligenciada. Prevalece o ponto de vista de que para as crianças provenientes das classes menos favorecidas a escola maternal deverá proporcionar um ambiente moral e intelectualmente enriquecedor, capaz de compensar, pela sua atmosfera e sobretudo pela abundância e diversidade de material usado, a pobreza do ambiente familiar no tocante aos estímulos, à curiosidade e à actividade. Quanto aos métodos empregados para orientar esses estímulos, oscilam eles entre dois pólos que vêm reflectir correntes extremas e opostas da Psicologia contemporânea. Um desses polos caracteriza-se pelo uso do “condicionamento”: criar e reforçar, por meio de exercícios  e dos resultados da acção, um certo número de associações motoras ou verbais consideradas constitutivas de conhecimentos ulteriores. O outro pólo, pelo contrário, caracteriza-se pelo apelo às actividades espontâneas da própria criança caminhando para uma organização cognitiva preparadora das operações da inteligência que se constituem normalmente por volta dos 7-8 anos.
Ora, no âmbito do valor incontestável da Educação, registaria Raul Gomes (in “Educação e Humanismo”), a seguinte constatação: «A primeira das condições que buscamos como causadoras de desenvolvimento é um sistema de ensino adequado. Isto é, extensivo à dimensão de todo um povo, intensivo na egigência de seriedade e trabalho, progressivo na abertura ao pleno aproveitamento das capacidades, correctivo dos defeitos herdados de mentalidade e feitio, científico na atitude informadora do currículo, respeitado como primordial força da Nação». É que, apesar de considerarmos uma afirmação redundante, não deixamos de vincar que os caminhos que levam ao humanismo concreto passam pela  Educação: não pela velha educacão de inspiração clássica, baseada na separação entre as actividades manuais e intelectuais, e na distinção social entre classes dirigentes e classes auxiliares, mas por um novo tipo de educação baseado na associação íntima entre a mão e o cérebro, entre a prática e a teoria científica, e mediante a qual todos os homens possam receber a formação necessária à plena realização das suas capacidades e aspirações, dentro, evidentemente, dos limites impostos por uma estrutura económica baseada na justiça social.
Ora, propõe João Morais Barbosa (in “Educação e Liberdade”) que: «Se a pessoa é perfectível, e só nessa medida educável, a educação terá de ser movida pela esperança posta no outro (educando), em atitude de amor que se recusa a classificar o amado em definitivo, antes o vê sempre passível de aperfeiçoamento»  -  na construção de um ser humano que se saiba afirmar independente, personalizado, imune à alienação (esta, enquanto contra educação, servidão do homem a algo de impessoal,  representando um decréscimo de  personalidade livre, uma vez,  portanto, vítima fácil da manipulação).
A Educação desenvolve no Homem a capacidade de apreensão do Conhecimento, do desenvlvimento da Criatividade, bem como estimula a audácia da Descoberta. A Educação autonomiza o Homem, levando-o a inserir-se democraticamemte na Sociedade (numa inserção conscienticizada), uma vez que o Homem  -  consciente dos seus atributos  -  sempre tendeu a intrepretar e dominar o “interland” envolvente e o espaço planetário. Afinal, como notou Paulo Freire, «quanto mais formos capazes de descobrir porque somos aquilo que somos, tanto mais nos será possível compreender porque é que a realidade é o que é».

José Alexandre Laboreiro                       


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