Para onde vai a Educação?
(cientista norte-americano
- 1860/1943)
Jean Piaget (a quem pedimos emprestado o título deste breve
registo escrito) constata que, do ponto de vista quantitativo, o aumento
considerável e sempre crescente dos efectivos escolares levou às consequências
que são do conhecimento generalizado. Por um lado, com o prolongamento da
escolaridade, uma igualdade maior na formação de meninos e meninas, e a
cobertura do Estado (bolsas, financiamento orçamental das Escolas, etc.)
resultou haver um pouco mais de justiça nas possibilidades de instrução oferecidas
às novas gerações, traduzindo-se por fim no aumento incessante, e por vezes
inquietador, do número de estudantes nas universidades. Por outro lado,
entretanto, como essa explosão generalizada de quadros em todos os escalões não
se fez acompanhar da revalorização social da profissão do magistério - que
teria sido necessária nos níveis secundários e sobretudo primários -
verificou-se uma carência de professores e a consequente necessidade de
recorrer às substituições, daí resultando um problema de nível, nem sempre
ainda resolvido. Em compensação, houve um esforço no sentido de diversificação
dos tipos de ensino, especialmente nos ramos profissionais e técnicos, o que
constitui um progresso, e foram tomadas medidas diversas para melhorar a
orientação dos alunos e assegurar, no decorrer dos estudos e, particularmente,
no início do curso secundário, a possibilidade de transferência de um sector
para o outro. Os “ciclos de orientação” desempenharam papel muito importante a
esse respeito; todavia, apesar do trabalho eficaz dos pedagogos e psicólogos
escolares, permanecem em aberto as indagações em torno do valor dos
instrumentos de orientação e selecção. Em especial, permanece com frequência a
dificuldade de eliminar este flagelo da escolaridade que vem a ser o papel e o
valor atribuídos aos exames.
Entretanto, do ponto de vista qualitativo, uma série de
tendências mais ou menos novas se manifestaram em diversos países, que parecem
estar à frente dos actuais movimentos. Assim, é que, antes de mais nada, pode
ser observado em vários deles, sobretudo nos EUA, um esforço destinado a
renovar a educação pré-escolar, até então muito negligenciada. Prevalece o
ponto de vista de que para as crianças provenientes das classes menos
favorecidas a escola maternal deverá proporcionar um ambiente moral e
intelectualmente enriquecedor, capaz de compensar, pela sua atmosfera e
sobretudo pela abundância e diversidade de material usado, a pobreza do
ambiente familiar no tocante aos estímulos, à curiosidade e à actividade.
Quanto aos métodos empregados para orientar esses estímulos, oscilam eles entre
dois pólos que vêm reflectir correntes extremas e opostas da Psicologia
contemporânea. Um desses polos caracteriza-se pelo uso do “condicionamento”:
criar e reforçar, por meio de exercícios
e dos resultados da acção, um certo número de associações motoras ou
verbais consideradas constitutivas de conhecimentos ulteriores. O outro pólo,
pelo contrário, caracteriza-se pelo apelo às actividades espontâneas da própria
criança caminhando para uma organização cognitiva preparadora das operações da
inteligência que se constituem normalmente por volta dos 7-8 anos.
Ora, no âmbito do valor incontestável da Educação,
registaria Raul Gomes (in “Educação e Humanismo”), a seguinte constatação: «A
primeira das condições que buscamos como causadoras de desenvolvimento é um
sistema de ensino adequado. Isto é, extensivo à dimensão de todo um povo,
intensivo na egigência de seriedade e trabalho, progressivo na abertura ao
pleno aproveitamento das capacidades, correctivo dos defeitos herdados de
mentalidade e feitio, científico na atitude informadora do currículo,
respeitado como primordial força da Nação». É que, apesar de considerarmos uma
afirmação redundante, não deixamos de vincar que os caminhos que levam ao
humanismo concreto passam pela Educação:
não pela velha educacão de inspiração clássica, baseada na separação entre as
actividades manuais e intelectuais, e na distinção social entre classes
dirigentes e classes auxiliares, mas por um novo tipo de educação baseado na
associação íntima entre a mão e o cérebro, entre a prática e a teoria
científica, e mediante a qual todos os homens possam receber a formação
necessária à plena realização das suas capacidades e aspirações, dentro,
evidentemente, dos limites impostos por uma estrutura económica baseada na
justiça social.
Ora, propõe João Morais Barbosa (in “Educação e Liberdade”)
que: «Se a pessoa é perfectível, e só nessa medida educável, a educação terá de
ser movida pela esperança posta no outro (educando), em atitude de amor que se
recusa a classificar o amado em definitivo, antes o vê sempre passível de
aperfeiçoamento» - na construção de um ser humano que se saiba
afirmar independente, personalizado, imune à alienação (esta, enquanto contra
educação, servidão do homem a algo de impessoal, representando um decréscimo de personalidade livre, uma vez, portanto, vítima fácil da manipulação).
A Educação desenvolve no Homem a capacidade de apreensão do
Conhecimento, do desenvlvimento da Criatividade, bem como estimula a audácia da
Descoberta. A Educação autonomiza o Homem, levando-o a inserir-se
democraticamemte na Sociedade (numa inserção conscienticizada), uma vez que o
Homem -
consciente dos seus atributos
- sempre tendeu a intrepretar e
dominar o “interland” envolvente e o espaço planetário. Afinal, como notou
Paulo Freire, «quanto mais formos capazes de descobrir porque somos aquilo que
somos, tanto mais nos será possível compreender porque é que a realidade é o
que é».
José Alexandre Laboreiro
Sem comentários:
Enviar um comentário