Terça, 14 Junho 2016
Chego ao fim deste
trio de crónicas sobre a oposição e socorro-me mais uma vez do irónico
raciocínio do Vergílio Ferreira: «Não se tem simpatia se não houver seja o que
for de admiração: tem-se apenas tolerância ou piedade».
Quer queiramos quer não, a sociedade em geral só valoriza os vencedores. E
sobre os que ficam em segundo lugar chega a considerar-se que são só os
primeiros de uma longa lista de perdedores.
Se, em determinados
casos, este espírito mais competitivo que construtivo transforma os “segundos”
em pessoas resilientes e portanto há, seguramente, uma vitória de construção do
seu próprio carácter; por outro, e quando se percebe que quem concorre não o
faz pelo percurso, tantas vezes em si mesmo já uma finalidade, mas única e
exclusivamente com uma ambição até legitimada pelo contexto da competição de
nada servir senão a vitória, não ficar em primeiro é motivo de enorme
frustração e, por vezes, motivo de comportamentos distorcidos de carácter. Em
alguns tristes casos a tendência é a desistência, não de uma carreira no mesmo
domínio o que seria compreensível, mas do persistir em percorrer um caminho de
construção e optar por enviesar para caminho paralelo que estraga
verdadeiramente o espírito inicial, e essencial, da competição em causa.
Podendo parecer que me
estou a afastar da Política, da Democracia e do papel da oposição, garanto-vos
que não. Uma oposição eleita deve comportar-se ao nível dos seus eleitores, não
à espera de vencer a qualquer custo, mas de tentar corrigir eventuais rumos
que, claramente inversos aos que propunham para a governação, merecem que se
lhes oponham. Por vezes o ambiente causado por uma oposição pouco construtiva,
destrutiva mesmo, acaba por contaminar o ambiente em que se vive. E como o
destino tem das suas ironias, poderão vir a ter de ser esses mesmos, caso lhes
caiba voltar a governar, a recolher os resultados do mau ambiente que criaram.
Comprova-se isto
mesmo, a nível nacional, nas ligações entre Partidos que deitaram abaixo um
governo socialista em 2011 e que se rearrumaram novamente para permitir que em
2015 um governo socialista voltasse ao poder. A nível local confesso que o que
sinto mesmo, no quotidiano que retomei após quatro anos de experiência
governativa, é que o clima de contestação pela contestação, que vigorou durante
12 anos, está a ser difícil de levantar. Mesmo com uma aposta feita numa
comunicação eficiente, leia-se propaganda, que tenta ser multiplicadora de
efeitos de feitos que há décadas se repetem e, em alguns casos, até com
melhores resultados antes do que agora, por vicissitudes várias.
Para lá do
incontestável facto de que quem ganha o poder é que o tem para mudar o que tem
de ser mudado, para melhor em princípio, parece-me que o caminho mais saudável
para exercer a oposição é perceber se seria, e como seria, possível fazer
melhor do que a proposta governativa. Mais: em nome de que é que se tomam
determinadas posições e decisões, normalmente bem identificadas com
determinadas ideologias que estão precisamente na base da constituição dos
Partidos. E é aqui que entre a esquerda e a direita e tendo eu sempre
defendido, no adolescer da Democracia portuguesa a que tenho tido o privilégio
de assistir, mais os princípios do que as tácticas da esquerda, me convenço que
há que estarmos atentos a outras diferenças, que também se percebem nas
estratégias: as dos radicais e as dos moderados.
Enfim, é por isso que
para mim também em Política, e ao contrário do que as regras do mundo
competitivo da comunicação pela imagem nos querem fazer crer, e conseguem, não me
parece que sejam a simpatia ou o seu contrário o mais importante. E muito menos
a admiração. Isso fica para os amigos e aqueles com quem efectivamente
privamos. Assim, excluir-se-iam também a piedade e a tolerância que,
banalizadas desta forma, roçam tantas vezes a arrogância. A mim chegava-me
muito bem o civismo e a competência. Na governação, como na oposição a
Democracia, com uma real igualdade de oportunidades, deveria tender a crescer
no domínio da Meritocracia, sem dó nem piedade, sem idolatrias nem factos
tornados consumados. Talvez se lá chegue.
Até para a semana.
Cláudia Sousa Pereira
Sem comentários:
Enviar um comentário