Terça, 07 Junho 2016
Na sequência da última
crónica, nesta semana continuarei a tratar o tema da oposição e peço emprestada
ao Vergílio Ferreira a frase em que o filósofo constata «A pátria, como tudo,
és tu. Se for também a do teu adversário político, é já problemático haver
pátria que chegue para os dois».
A visão é tudo menos optimista sobre os destinos de um País em que a
Democracia é representativa e assumida por Partidos. E, no entanto, é proferida
por quem em épocas conturbadas do período pós-25 de Abril assumiu posições
políticas e preferências ou, até talvez melhor, antipatias por certos Partidos
políticos. Estou inclusivamente convencida de que anda para aí uma gente, que
julga a Cultura uma coutada em que é reservado o direito à admissão por
questões para além da própria Cultura e se prenderão com outros monopólios, e
que menospreza um homem como Vergílio Ferreira e a sua grande importância
cultural no nosso País, não porque ouse contestá-lo mas por saberem e apenas
lhe reconhecerem, facciosamente, o, pelo próprio reconhecido e assumido,
anti-Comunismo. Mas adiante, ou avante, que as palavras também podem ser usadas
por todos quando significam o que querem mesmo significar.
O silogismo de
Vergílio leva também à questão dos consensos que parece ter vindo a ser
apanágio de um discurso de governação rapidamente esquecido pelos mesmos que
passam depois à oposição, ou vice-versa. Dá mesmo vontade de exclamar: quem os
viu e quem os vê?! Os adversários são, até etimologicamente, sempre oponentes e
isso leva-nos muitas vezes a pensar e agir em muitas situações de acordo com o
princípio de que se não se está a favor, se está contra. Mas esta posição, em
Política mas não só, não pode ser absoluta. Sobretudo quando se joga este jogo
em nome de outros e não por si próprio. Ou seja, quando se governa e não quando
se governam.
Ora acontece que, se
partirmos da base que temos para falar em governação e oposição no sistema
democrático teremos de, obviamente, ir à raíz deste sistema político: a
Democracia. A directa, muito rara, em que o povo, através de consultas
populares, pode decidir directamente sobre assuntos políticos ou
administrativos da cidade ou país, e a que chamamos por isso Democracia
participativa, sem intermediários conhecidos (deputados ou vereadores, e
noutros países senadores) mas com lobbies que se constituem
mais ou menos formalmente; e a indireta, ou representativa, em que o povo também
participa mas através do voto, elegendo os seus representantes que tomam
decisões em nome daqueles que os elegeram. E é assim que chegamos à
impossibilidade, a meu ver saudável, de haver uma Pátria única com esse sentido
que se põe a jeito para que uma maioria pense e decida por todos. Atenção que a
questão das maiorias absolutas também não me chocam, a partir do momento em que
reconhecemos que os representantes nessas maiorias não respondem, nem
correspondem a ideologias totalitaristas, sendo muitas vezes os Partidos que
mais conflitos internos assumem que me deixam, apesar de tudo, mais descansada.
Conflitos internos que, parece-me claro, se dirimem e resolvem internamente e
com transparência.
Tudo isto é, como está
bom de ver, trabalhoso e difícil. Ganha-se competências nesta área, não porque
se queira muito, mas quando se assumem projectos de equipa e se é avaliado
pelos membros dessa equipa antes de se ser avaliado pelos de fora que, tantas
vezes, só depositam nessa equipa a sua esperança. E quando se consegue perceber
o todo e optar com base em princípios flexíveis e em consonância com mais
benefícios do que prejuízos, mas com limites de razoabilidade que, por vezes,
nem sempre parecem logo benéficos e, sobretudo, quando incomodam poucos mas
muito poderosos por outras razões para além da Democracia que é governar e
fazer governar pelo Povo e para o Povo. Mesmo quando parece que o Povo, como
diziam os outros, o que “quer é dinheiro para comprar um carro novo”. Um
desabafo humorístico que não abona nada em favor de uma Democracia saudável e
equivale ao outro lado que diz que “o que eles querem todos é tacho”.
E parece que chegámos
à definição de Pátria que Vergílio Ferreira punha em causa: a do osso para que
correm sete cães, ou o poleiro para pavões. Entre um e outro, parece haver
ainda muito que aprender e ensinar sobre o que é e como se exerce o Poder. E a
oposição, claro! E é por isso que nestas coisas do aprender e do ensinar, na
Educação portanto, o investimento é prioritário e não se deve confundir nem com
despesa, nem com negócio.
Até para a semana.
Cláudia Sousa Pereira
Sem comentários:
Enviar um comentário