LUGAR À CULTURA –
Baseado em Textos do Dr. Alexandre Laboreiro.
Uma educação para a liberdade
J.
Krishnamurti
(in “Será que a Humanidade pode mudar?” )
E Paulo Freire, no âmbito do seu
propósito de criar um cidadão livre (porque consciente), propõe - com
vista a uma democratização autêntica - que a mudança não será uma realidade senão
quando forem implantados um conteúdo, uma concepção e estruturas educativas
radicalmente novas - que implicariam uma concepção nova de
educação (que não seria uma mera transmissão de conhecimentos), que pressuporia
um desenvolvimento da capacidade criadora ao aluno; na mesma propondo um
conteúdo novo na medida em que não for estático
- antes respondendo às
exigências da realidade dinâmica do aqui
e agora; defendendo ainda a criação de estruturas novas que representem
instituições marcadas por dimensões abertas, comunitárias e dialogais (em vez
de sistemas de domínio e dirigismo pedagógico)
– numa concepção pedagógica que
não apenas liberte e se liberte dos esquemas de domínio, mas que liberte as
energias criadoras e critico-reflexivas do Homem, de forma a que chegue a ser
uma pessoa comprometida com os outros na mudança das estruturas; na mesma preconizando
que a escola se deve abrir a uma pluralidade de opções, na perspectiva de
formação integral do Homem. Por outro lado, referenciando a importância do
livro e da leitura na formação integral do Homem (e assim, logicamente,
participando na construção da sua Liberdade), refere Dietrich Schwanitz (in “Cultura - o
Poder da Linguagem e da Escrita”) que numa época em que a comunicação oral
ganha terreno ignoram o carácter modelar da linguagem escrita, aquelas crianças
afastadas do prazer da leitura: constatando ainda o ensaísta que apenas
adquirem o hábito de leitura e de escrita as crianças de famílias que
consideram estas actividades naturais e imprescindíveis: as crianças das
camadas cultas da burguesia. Nos ambientes familiares em que os pais vigiam o
consumo televisivo dos filhos, limitando-o e contribuindo para que os filhos
comecem a satisfazer as necessidades da imaginação com os livros -
preconizando, nomeadamente, que as crianças só deveriam ver televisão
quando a leitura deixasse de ser para elas uma actividade penosa; caso
contrário, a leitura será uma actividade fastidiosa durante toda a vida. Quem
assim cresceu - diz-nos Schwanitz - mais tarde, não lê mais do que o estritamente
necessário e a contragosto. E, acrescenta o comentarista, deste modo a política
educacional está a produzir duas classes: de um lado, encontram-se os que têm
hábitos de leitura, absorvem novas informações e estão acostumados a estruturar
ideias tendo como modelo a escrita, o que lhes permite entender a construção da
oração, a lógica do pensamento que nela se manifesta e os elementos que a
compõem. Ao mesmo tempo, adquirem capacidades para formar diferentes tipos de
textos (relatórios, exposições, análises, contos, ensaios, etc.); tudo isto
lhes proporcionando maior facilidade na escrita e lhe permite estruturar a
expressão oral segundo o modelo dos textos escritos. Os outros, segundo o autor
do comentário, só lêem quando são obrigados e, se o não forem, vêem
televisão - encarando o livro como impertinência e não compreendem
quem os lê, desconfiam deles. Diz-nos o comentário que vimos referindo que «não
temos de ler todos os livros que nos caem nas mãos do princípio ao fim”. Mas,
logicamente, na opção de escolha de uma leitura, pesa bastante o nosso gosto
literário, a que acrescerá o hábito de leitura, a oportunidade de a fazer - a
que se junta - logicamente
- a “mais valia” cultural do
livro (atendendo ao princípio de Pascal de que «mais vale uma cabeça bem
formada, do que uma bem recheada!»)
E, no âmbito das ideias que vimos
referindo, achámos pertinente transcrever, de uma recente publicação do jornal
“Público”, a opinião de um leitor do jornal
- a focar a importância da
Educação, do Conhecimento enquanto alicerces do crescimento das Sociedades;
mas, diz-nos ele: «A importância do Conhecimento supera a da Educação. Li algo
parecido com isto num texto, espero não estar errado, de Hemimgway. Agora que
já vivi alguns anos mais, cada vez mais
me parece encontrar uma possibilidade positiva dessa importância a do
Conhecimento. Vem a propósito da apologia que, por vezes, se faz dos povos de
Leste. Um povo frio com alguma antipatia à mistura. Numa breve incursão nas
terras e costumes deste povo, verifico a sua sagacidade no Conhecimento (...)
Estamos muito preocupados, quase sempre, com a ideia de Educação (...) Esquecemo-nos de que sem
Conhecimento a Educação não serve para nada.»
Educação, Conhecimento, Arte,
Literatura, Ciência - tudo realidades que enformam o Humanismo,
enquanto suportes do crescimento do Ser Humano: realidades distribuídas ainda,
infelizmente, de forma tão díspar ao longo da Terra (apesar de nascerem do
Homem e para o Homem) - constatação assente em grande parte no
egocentrismo economicista do ser humano: lembrando-me, a propósito, do reparo
oportuno de Virgínia Woolf: «Não podemos pensar bem, amar bem, dormir bem, se
não tivermos jantado bem».
José Alexandre Laboreiro
Publicado in “Folha de Montemor” Março 2016. Transcrição autorizada
pelo Autor
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