quinta-feira, 28 de abril de 2016

CINE CLUBE DOMINGOS MARIA PEÇAS

Tal como a pessoa que deu origem ao nome com que denominamos este espaço: Domingos Maria Peças, que frequentemente nos fazia desesperar uma vezes com a sua chegada tardia, outras não comparecendo mesmo, também desta vez nos vimos forçados a uma prolongada demora na retoma do habitual espaço dedicado à sétima arte.
Hoje, e tendo como temática “Casais do Cinema”, Rufino Casablanca inicia um ciclo que se irá prolongar por algumas semanas.
No mesmo serão abordados pares que se uniram pelo matrimónio, e alguns filmes protagonizados pelos mesmos. É o caso de Roberto Rossellini e Ingrid Bergman que se segue, de Elia Kazan e Bárbara Loden, na próxima semana, não esquecendo os portugueses António Silva / Josefina Silva proximamente.
Editor.

                              Casais do cinema – experiência nº 1

                                Roberto Rossellini/Ingrid Bergman

Ele, realizador de cinema italiano, mestre do neorealismo, cineasta com créditos firmados.
Ela, actriz, sueca, com nome feito na Suécia e em Hollywood.
Encontraram-se em “Stromboli”, filme italiano de 1951. Encontraram-se e apaixonaram-se. Até aqui tudo bem, não fosse o caso de ambos serem casados com outras pessoas e com família constituída.
Apaixonaram-se e passaram a viver juntos. Na época foi um escândalo. Se fosse hoje, 1995, ano em que escrevemos estas linhas, era meia bola e força e estava tudo bem. Mas em 1951 a época era outra, os costumes eram outros e a moral, ou a falta dela, também era outra. Coisas deste mundo estranho em que vivemos.
Mais tarde, acabaram por casar e até tiveram filhos juntos. Um deles é a Isabella Rossellini que ainda por aí anda a fazer cinema. Herdou a beleza da mãe e o talento do pai. Um dia, se para tanto houver ocasião, ainda escreveremos sobre esta filha daquele casal fantástico.
Pois o Roberto e a Ingrid, enquanto o casamento durou, fizeram juntos meia dúzia de filmes. Todos de primeira linha. Hoje falaremos de dois.

                                           “EUROPA 51
País de origem: Itália
Título Original: Europa’ 51
Título Português: Europa 51
Realizador: Roberto Rossellini
Argumento: Sandro De Feo……. e Roberto Rosselini
Música: Renzo Rossellini
Intérpretes: Ingrid Bergman, Ettore Giannini, Giulietta Masina, Alexander Knox…..

É um melodrama à velha maneira italiana. O enredo conta como uma pecadora se transforma, aos olhos do povo, numa santa. Parece complicado, mas graças ao talento de quem dirige e de quem interpreta, tudo flui com naturalidade. Estamos em crer que o Roberto pegou na Maria Madalena bíblica e a transportou para meados do século XX. Sem que, pelo meio, não deixasse de mostrar como a Europa ficou destruída pela 2ª Guerra Mundial, e pela diferença de vida entre as classes altas e o grosso da manada. Achamos ainda que este filme marca o abandono definitivo do neorealismo por parte do realizador. Nos génios, cada um pode achar o que quiser, mas a verdade é que o cinema de Roberto Rossellini, a partir deste filme, nunca mais foi o mesmo. Mudou! P´ra melhor? P`ra pior? Quem souber que se atreva a responder.
No Festival de Cinema de Veneza Roberto Rossellini ganhou um prémio internacional e o filme foi nomeado para o Leão de Ouro de 1952.
(Anoto aqui o nome de Giulietta Masina num papel secundário. Estava no início de carreira. Esta Giulietta que, juntamente com Federico Fellini, iria formar um outro casal de ouro do cinema italiano.

                                                  “VIAGEM A ITÁLIA”
Título Original: Viaggio in Italia
Título Português: Viagem a Itália
Realizador: Roberto Rossellini
Argumento: Vitaliano Brancati e Roberto Rossellini
Música: Renzo Rossellini

Enquanto desfilam perante os nossos olhos belíssimas paisagens, monumentos e catacumbas, também desfilam os problemas de um casamento que está em queda livre. E é aqui que os dois principais intérpretes, Ingrid Bergman e George Sanders, nos dão uma magnífica lição de bem representar. Da realização de Roberto Rossellini apenas se pode dizer que é genial.
Há quem diga que foi neste filme e não no anterior que Roberto abriu a porta à mudança radical que se operou na sua obra. Para já, este é o seu primeiro filme falado em inglês. Outros se seguiram. E embora mais tarde voltasse a filmar com idioma italiano, a verdade mesmo é que o seu cinema nunca mais voltou a ser do mesmo tipo. Mal comparado é assim como o Picasso que começou a pintar de modo clássico no século XIX, e depois de passar pelo cubismo, pelo surrealismo, pelo naturalismo e pelo modernismo, e por tudo aquilo que ele muito bem entendeu, acabou, aos noventa anos, a fazer cerâmica numa roda de oleiro. Rossellini também manobrou muito bem a sua roda de oleiro/máquina de filmar.

Rufino Casablanca
Terena – Monte do Meio – Maio de 1995
    






1 comentário:

Anónimo disse...

Benvindos os comentários do Monte do Meio ao convívio do blog.
Ficamos aguardados por "mais" apontamentos cinematográficos, cerimoniosamente recebidos.
Benvindos tais comentários a este regular convívio.

Aluno da Escola «Domingos Maria Peças»