Tal
como a pessoa que deu origem ao nome com que denominamos este espaço: Domingos Maria Peças, que
frequentemente nos fazia desesperar uma vezes com a sua chegada tardia, outras
não comparecendo mesmo, também desta vez nos vimos forçados a uma prolongada
demora na retoma do habitual espaço dedicado à sétima arte.
Hoje,
e tendo como temática “Casais do Cinema”,
Rufino Casablanca inicia um ciclo
que se irá prolongar por algumas semanas.
No
mesmo serão abordados pares que se uniram pelo matrimónio, e alguns filmes
protagonizados pelos mesmos. É o caso de Roberto Rossellini e Ingrid Bergman
que se segue, de Elia Kazan e Bárbara Loden, na próxima semana, não esquecendo
os portugueses António Silva / Josefina Silva proximamente.
Editor.
Casais do cinema – experiência nº 1
Roberto Rossellini/Ingrid Bergman
Ele, realizador de cinema
italiano, mestre do neorealismo, cineasta com créditos firmados.
Ela, actriz, sueca, com nome
feito na Suécia e em Hollywood.
Encontraram-se em
“Stromboli”, filme italiano de 1951. Encontraram-se e apaixonaram-se. Até aqui
tudo bem, não fosse o caso de ambos serem casados com outras pessoas e com
família constituída.
Apaixonaram-se e passaram a
viver juntos. Na época foi um escândalo. Se fosse hoje, 1995, ano em que
escrevemos estas linhas, era meia bola e força e estava tudo bem. Mas em 1951 a
época era outra, os costumes eram outros e a moral, ou a falta dela, também era
outra. Coisas deste mundo estranho em que vivemos.
Mais tarde, acabaram por
casar e até tiveram filhos juntos. Um deles é a Isabella Rossellini que ainda
por aí anda a fazer cinema. Herdou a beleza da mãe e o talento do pai. Um dia,
se para tanto houver ocasião, ainda escreveremos sobre esta filha daquele casal
fantástico.
Pois o Roberto e a Ingrid,
enquanto o casamento durou, fizeram juntos meia dúzia de filmes. Todos de
primeira linha. Hoje falaremos de dois.
“EUROPA 51”
País de origem: Itália
Título Original: Europa’ 51
Título Português: Europa 51
Realizador: Roberto
Rossellini
Argumento: Sandro De Feo……. e
Roberto Rosselini
Música: Renzo Rossellini
Intérpretes: Ingrid Bergman,
Ettore Giannini, Giulietta Masina, Alexander Knox…..
É um melodrama à velha
maneira italiana. O enredo conta como uma pecadora se transforma, aos olhos do
povo, numa santa. Parece complicado, mas graças ao talento de quem dirige e de
quem interpreta, tudo flui com naturalidade. Estamos em crer que o Roberto
pegou na Maria Madalena bíblica e a transportou para meados do século XX. Sem
que, pelo meio, não deixasse de mostrar como a Europa ficou destruída pela 2ª
Guerra Mundial, e pela diferença de vida entre as classes altas e o grosso da
manada. Achamos ainda que este filme marca o abandono definitivo do neorealismo
por parte do realizador. Nos génios, cada um pode achar o que quiser, mas a
verdade é que o cinema de Roberto Rossellini, a partir deste filme, nunca mais
foi o mesmo. Mudou! P´ra melhor? P`ra pior? Quem souber que se atreva a
responder.
No Festival de Cinema de
Veneza Roberto Rossellini ganhou um prémio internacional e o filme foi nomeado
para o Leão de Ouro de 1952.
(Anoto aqui o nome de
Giulietta Masina num papel secundário. Estava no início de carreira. Esta
Giulietta que, juntamente com Federico Fellini, iria formar um outro casal de
ouro do cinema italiano.
“VIAGEM A ITÁLIA”
Título Original: Viaggio in
Italia
Título Português: Viagem a
Itália
Realizador: Roberto
Rossellini
Argumento: Vitaliano Brancati
e Roberto Rossellini
Música: Renzo Rossellini
Enquanto desfilam perante os
nossos olhos belíssimas paisagens, monumentos e catacumbas, também desfilam os
problemas de um casamento que está em queda livre. E é aqui que os dois
principais intérpretes, Ingrid Bergman e George Sanders, nos dão uma magnífica
lição de bem representar. Da realização de Roberto Rossellini apenas se pode
dizer que é genial.
Há quem diga que foi neste
filme e não no anterior que Roberto abriu a porta à mudança radical que se
operou na sua obra. Para já, este é o seu primeiro filme falado em inglês. Outros se
seguiram. E embora mais tarde voltasse a filmar com idioma italiano, a verdade
mesmo é que o seu cinema nunca mais voltou a ser do mesmo tipo. Mal comparado é
assim como o Picasso que começou a pintar de modo clássico no século XIX, e
depois de passar pelo cubismo, pelo surrealismo, pelo naturalismo e pelo
modernismo, e por tudo aquilo que ele muito bem entendeu, acabou, aos noventa
anos, a fazer cerâmica numa roda de oleiro. Rossellini também manobrou muito
bem a sua roda de oleiro/máquina de filmar.
Rufino Casablanca
Terena – Monte do Meio – Maio
de 1995
1 comentário:
Benvindos os comentários do Monte do Meio ao convívio do blog.
Ficamos aguardados por "mais" apontamentos cinematográficos, cerimoniosamente recebidos.
Benvindos tais comentários a este regular convívio.
Aluno da Escola «Domingos Maria Peças»
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