Atendendo ao nosso apelo Gertrudes Sardinha teve a amabilidade de nos enviar
as décimas que apresentou a concurso, quando da última edição do Concurso de
Poesia Popular.
Al Tejo agradece.
Renovamos o convite para que mais Poetas nos enviem os
seus trabalhos e autorizem a publicação dos mesmos.
Editor
Editor
“Contrabando”
Mote
Era um tempo bem preciso,
Quando o Inverno tudo levava,
Meu avô por lá andou
A necessidade assim chamava!
I
Chuva, frio, um tormento,
Invernia desmesurada,
Sem uma hora de jornada.
Ao lume procurava alento
E escondia o sofrimento.
Já tinha estado indeciso,
Mas ia partir sem aviso,
Sempre de cabeça erguida
Esperançando melhor vida,
Era
um tempo bem preciso!
II
Outros sabia por lá andar.
Diziam que era coisa fácil,
Era preciso ser ágil
Sabedor em quem confiar,
Afoito e nunca agoirar,
Que o corpo tudo aguentava,
A precisão o medo afugentava.
Andar de noite, dormir de dia,
Aguentar carga e mercadoria,
Quando
o Inverno tudo levava!
III
P´ra terras d` Espanha partiu
Seguindo trilhos e atalhos,
Esquivando-se a trabalhos,
Chegar ao destino conseguiu.
A sorte também lhe sorriu.
Conhecedor dos caminhos se tornou,
Nos comparsas sempre confiou,
Café, tabaco e rebuçados trazia
Da Estremadura e da Andaluzia.
Meu
avô por lá andou!
IV
Tempos de desigualdades,
Quando nada batia certo,
A vida não era um livro aberto,
Segredos e cumplicidades,
Uniam homens de todas as idades.
Gente que na luta procurava
O sustento que o tempo retirava,
Partilhavam as mesmas histórias
Escrevem-se as suas memórias.
A
necessidade assim chamava!
Gertrudes Sardinha
Alandroal, fevereiro de 2016
Esclarecimento da Autora: Não sou poeta popular. Descobri as décimas
pelo gosto que alguns alunos do Agrupamento de Escolas, aqui no Alandroal, onde
sou professora, têm pela poesia que ouvem, nas suas terras, aos verdadeiros
poetas.
Esta minha aprendizagem, e gosto, resulta assim desta
partilha, diária, do conhecimento entre o que aprende e o que
ensina.
1 comentário:
muito bem professora Gertrudes sardinha, ensinar e aprender com os alunos do concelho, porque esta cultura popular tem aqui raízes,já agora aproveito o vosso gosto e a sinceridade com que escreveu as palavras de nunca ter sido poetisa mas por causa dos miúdos terem jeito para a poesia porque eles pertencem a gerações antigos de muitos bons poetas populares que havia nas aldeia do concelho.
pelas suas palavras aproveito para deixar aqui o repto para quem de direito na escola tome a iniciativa para o ano realizar um concurso de poesia popular para os miúdos da escola em colaboração com a Câmara e setor da cultura. obrigado professora por ter gosto pela poesia popular tradição do nosso concelho
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