quinta-feira, 10 de março de 2016

DUQUES E CENAS - Pelo Drº J.L.N.

                    Uma paixão sem sindicato

As grandes festarolas organizadas pelos sindicatos dos professores, as comemorações, os desfiles e outras coisinhas assim, já há perto de 5 anos que não contam com o meu contributo financeiro para os comes e bebes, cartazes, faixas e materiais quejandos, simplesmente porque depois de tanto inconseguimento, como diria a mui ilustre e prolixa ex-presidente da Assembleia da República, Sãozinha Esteves, era uma verdadeira burrice da minha parte entregar-lhes uma procuração a troco de um desconto no meu vencimento para me representarem mal, mal, mal, na luta pelos meus direitos.
A carreira de professor, se ainda mantém a dignidade que todos os dias lhe procuramos dar, deve esse estatuto aos próprios docentes, muitos deles prestes a entregar o cartão de sindicalizados, tal como fez este vosso amigo, com uma extremíssima vontade de os mandar cavar batatas, para ver se a economia do país melhorava.
Os sindicatos perderam a força e não conseguem alterar na lei uma única virgulazinha para que possamos ter um pouco mais de gosto pela profissão. E vamos ficando cada vez mais desgastados com o trabalho (e não estou a falar das aulas) que nos vão obrigando a fazer e com o ordenado cada vez mais emagrecido que nos obrigam a ganhar. E esse desgaste vai-se reflectindo, aos poucos, em todas as áreas e em todos os níveis de ensino.
Portanto, e em suma, devolvi o cartão de sindicalizado, expliquei porquê e comecei a perceber um bocadinho melhor as razões que levaram Margaret Thatchter a andar sempre tão desiludida, direi mesmo tristinha, com os sindicados ingleses. E a inenarrável Dama de Ferro que nunca teve cartão! (Nem Cristo teve biblioteca).

João Luís Nabo 

In "O Montemorense", Fevereiro de 2016


1 comentário:

Anónimo disse...

Sem calendário metódico - pelo menos assim me parece a falta de regularidade dos seus escritos -, sou leitor do Dr. João Luís Nabo. Leio-o com atenção. Sempre. E já há muito que me parecem, por vezes, contraditórias as suas palavras. Tenho calado esta opinião porque muitas vezes se escreve sob o impulso do entusiasmo do momento e nem todos os momentos são amigos da coerência. Admito (sem aplaudir), a entrega do cartão do sindicato. Admito também que se sinta mal com a defesa que o sindicato faz dos seus interesses (se eu fosse professor talvez fizesse o mesmo). Mas, com franqueza, chamar à colação e manifestar alguma compreensão pela Tatcher, para justificar tal atitude, face ao modo como essa senhora tratou os sindicatos britânicos, isso eu não compreendo.
Ora rebobine lá e veja como essa mulher (dama de ferro lhe chamaram) tratou os trabalhadores ingleses há trinta e tal anos atrás.

E já agora, e apenas como apêndice, verifique qual foi o seu papel (dela), na questão do Augusto Pinochet, quando o juiz Garçon pediu a extradição do chileno para Espanha.