Quinta, 10 Março 2016
Acabou!
Acabou o mandato de Aníbal Cavaco Silva como Presidente da República. Foram dez
anos em que a atitude e as escolhas políticas do titular do mais alto cargo da
nação, apontaram sempre no mesmo sentido e em prejuízo dos mesmos.
Dez longos anos, que
pareceram séculos, de uma forma de exercer o poder que se aproximou, na atitude
conservadora e cinzenta, dos anos de chumbo da ditadura fascista que durou
metade do nosso século vinte.
Discordo dos que dizem que
Cavaco era uma figura fria e distante. Pergunte-se aos seus correligionários se
alguma vez sentiram distância ou frieza, ou se lhes faltou a solidariedade da
parte do anterior Presidente. Pergunte-se a figuras como Sousa Lara se não
sentiram o conforto da atitude vingativa, no momento da condecoração que faria
corar de vergonha qualquer um, que não o homem que nunca tem dúvidas e que
raramente se engana.
Claro que foi frio e
distante para os interesses da maioria, da mesma forma que foi próximo e
caloroso na protecção dos interesses de classe que sempre defendeu, mas isso
não é de estranhar. É a natureza da coisa.
Nos quarenta e dois anos
de democracia, o anterior Presidente exerceu o poder durante vinte por vontade
do povo com direito a voto. Disputou seis eleições e ganhou cinco.
Quando abandonou o cargo
de primeiro-ministro, ao fim de dez anos, houve uma espécie de sensação de
libertação e a imagem de Cavaco estava pelas ruas da amargura.
Volvidos dez anos, uma
espécie de amnésia geral apoderou-se dos eleitores que olharam para a figura
como alguém com a necessária sisudez para ocupar um cargo ainda mais elevado na
hierarquia do Estado.
Sai, ao fim de mais dez
anos, com os níveis mais baixos de popularidade atingidos por um Presidente da
República e poucos serão os que não se sentem aliviados por se verem livres
daquela forma de fazer política e, no entanto, escolheram uma versão sorridente
e mais competente, do ponto de vista da comunicação, daquele que gostaram de se
ver livres.
Alguém distraído poderá
questionar-se que fatalidade é esta que leva a maioria a escolher o que parece
odiar e a odiar o que parece escolher.
Não é uma fatalidade e
muito menos algo de estranho ou incompreensível. É, antes de mais, uma questão
de condicionamento da escolha por quem tem os meios de influência para a
criação de opinião numa maioria que, quando afirma que pensa pela sua cabeça
está a pensar com a cabeça dos comentadores de serviço a aceitar de forma acrítica
todas as certezas que lhe vão impingindo.
Há uma indústria que
fabrica sabonetes e há uma indústria que os torna bem cheirosos para serem
consumidos. Depois, quando o consumidor descobre que afinal não cheira assim
tão bem, mudam-lhe a forma, trocam a embalagem e voltam à arte de convencer que
aquele é que é o tal.
Quem controla as duas
“indústrias” controla o acesso ao poder, criando as alternâncias necessárias
para afastar as alternativas do exercício do poder.
Mas não pensemos mais
nisso, porque hoje é dia de festa. Festejamos o primeiro dia sem o velho
sabonete, ignorando que na embalagem do novo está a mesma marca do anterior.
Até para a semana
Eduardo Luciano
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