Pato, arroz de
Pronto. Socialistas e não socialistas, comunistas e não comunistas,bloquistas e não
bloquistas (os Verdes e o moço dos Animais) ficaram a saber (mais uma
santíssima vez) que o que se diz nas propagandas, perdão, nas campanhas, e nos
comícios políticos nada corresponde à verdade. Portugal foi às urnas a 4 de
Outubro e, depois disso, nada foi igual neste país de santos, heróis e reis,
entre os quais, um que plantou o Pinhal de Leiria (que trabalheira) e outro que
construiu o Convento de Mafra (ficando 3 meses de real cama depois de acarretar
tanto pedregulho). Mas não mudemos de assunto, que o caso é sério: se os
americanos têm o naine-êlévan, nós temos o quatro-do-dez, que foi também a
coisinha mais estranha que nos aconteceu. Passo a recordar aos meus 12
leitores: a Coligação PSD/CDS ganhou as eleições legislativas por maioria
relativa, o Presidente da República empossou o pessoal de direita e, coisa
dita, coisa feita, os partidos de esquerda despacharam-nos em menos de nada,
“obrigando” o aflito Presidente a dar posse como Primeiro a um rapaz que tinha
perdido as eleições. Ainda bem que Costa não tem tendências nazis, salazaristas
ou pró-islão com bombas à cintura, senão era Primeiro à mesma e lá teria de
dar-se uma limpeza assim por alto ao Forte de Peniche, à cadeia de Caxias e
ainda uma enceradela aos cubículos do Tarrafal, pois era mais que certo que
todos estes edifícios iriam novamente ser habitados.
Mas Costa não é nada disso. É um democrata, socialista e acho que também é
laico, embora o padrinho Marocas também o tenha sido e, tal como eu, fosse à
Missa de quando em vez. Bom… vamos seguir com a coisa. Costa, que também é isso
tudo, terá de levar com mais um predicativo do sujeito: Costa é um brincalhão.
Brincou com as incertezas dos portugueses, aproveitou-se do seu cansaço pela
travessia deste enorme deserto de quatro anos de roubalheira aos seus ordenados
e direitos, alertou que tudo ia ser diferente e má-na-sê-quê e eteceteraetal...
E pronto: conseguiu convencer os ceguinhos dos outros partidos anti-coligação e
espetou com a dita no olho da rua, com um Portas com ar de virgem ofendida e
com um Passos com ar de virgem (só). Isto é, obrigou Cavaco a dizer que sim,
“vais ser Primeiro-ministro”, nesta estranha democracia onde já não governa
quem mais votos tem na urna, ao contrário do que aprendemos logo ali a seguir
ao 25/4.
Portanto, e em suma, como diz um aluno meu (e diz muito bem) e também como
refere o meu filho mais velho em relação às mais diversas situações do
dia-a-dia (e refere muito bem), vem aí “outra vez arroz!” E é de pato. E os
patos somos nós. “Quem mais?”, como diria George Clooney num qualquer anúncio
ao arroz do referido palmípede.
João Luís Nabo
In "O Montemorense", Fevereiro de 2016
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