terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

DUQUES E CENAS - Uma rubrica do Dr. J.L.N.

                                    
                                          Pato, arroz de

Pronto. Socialistas e não socialistas, comunistas e não comunistas,bloquistas e não bloquistas (os Verdes e o moço dos Animais) ficaram a saber (mais uma santíssima vez) que o que se diz nas propagandas, perdão, nas campanhas, e nos comícios políticos nada corresponde à verdade. Portugal foi às urnas a 4 de Outubro e, depois disso, nada foi igual neste país de santos, heróis e reis, entre os quais, um que plantou o Pinhal de Leiria (que trabalheira) e outro que construiu o Convento de Mafra (ficando 3 meses de real cama depois de acarretar tanto pedregulho). Mas não mudemos de assunto, que o caso é sério: se os americanos têm o naine-êlévan, nós temos o quatro-do-dez, que foi também a coisinha mais estranha que nos aconteceu. Passo a recordar aos meus 12 leitores: a Coligação PSD/CDS ganhou as eleições legislativas por maioria relativa, o Presidente da República empossou o pessoal de direita e, coisa dita, coisa feita, os partidos de esquerda despacharam-nos em menos de nada, “obrigando” o aflito Presidente a dar posse como Primeiro a um rapaz que tinha perdido as eleições. Ainda bem que Costa não tem tendências nazis, salazaristas ou pró-islão com bombas à cintura, senão era Primeiro à mesma e lá teria de dar-se uma limpeza assim por alto ao Forte de Peniche, à cadeia de Caxias e ainda uma enceradela aos cubículos do Tarrafal, pois era mais que certo que todos estes edifícios iriam novamente ser habitados.
Mas Costa não é nada disso. É um democrata, socialista e acho que também é laico, embora o padrinho Marocas também o tenha sido e, tal como eu, fosse à Missa de quando em vez. Bom… vamos seguir com a coisa. Costa, que também é isso tudo, terá de levar com mais um predicativo do sujeito: Costa é um brincalhão. Brincou com as incertezas dos portugueses, aproveitou-se do seu cansaço pela travessia deste enorme deserto de quatro anos de roubalheira aos seus ordenados e direitos, alertou que tudo ia ser diferente e má-na-sê-quê e eteceteraetal... E pronto: conseguiu convencer os ceguinhos dos outros partidos anti-coligação e espetou com a dita no olho da rua, com um Portas com ar de virgem ofendida e com um Passos com ar de virgem (só). Isto é, obrigou Cavaco a dizer que sim, “vais ser Primeiro-ministro”, nesta estranha democracia onde já não governa quem mais votos tem na urna, ao contrário do que aprendemos logo ali a seguir ao 25/4.
Portanto, e em suma, como diz um aluno meu (e diz muito bem) e também como refere o meu filho mais velho em relação às mais diversas situações do dia-a-dia (e refere muito bem), vem aí “outra vez arroz!” E é de pato. E os patos somos nós. “Quem mais?”, como diria George Clooney num qualquer anúncio ao arroz do referido palmípede.

João Luís Nabo

In "O Montemorense", Fevereiro de 2016


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