Segunda, 29 Fevereiro 201
A Câmara Municipal de Évora tornou público, na última
quarta-feira, o aviso datado de 10 de Fevereiro que torna público o Programa de
Concurso para a venda do direito de superfície para a construção de um grande
empreendimento comercial em parcela de terreno municipal junto às Portas de
Aviz e a poucos metros das muralhas do nosso Centro Histórico.
Tive oportunidade de, em crónicas anteriores, expor porque
considero esta decisão um erro de gestão. A decisão unânime da Câmara e da
maioria na Assembleia Municipal foi pouco fundamentada e claramente
precipitada.
Não pode valer tudo para encaixar algum dinheiro. Exigia-se uma
actualização de um estudo com quase 10 anos, e que a Câmara Municipal não se
envergonha de divulgar junto à publicitação do concurso na sua página da
internet. Apoiar uma decisão num estudo desactualizado é de uma
irresponsabilidade sem precedentes.
Ainda que tenham ignorado os
apelos à actualização do estudo do impacto real da instalação de superfícies
comerciais em Évora, podiam pelo menos ler algumas das suas conclusões, e já
que defendem que este está actualizado podiam seguir as suas recomendações. É
verdade que este estudo fala da importância da centralidade e de uma eventual
superfície comercial estar o mais próxima possível do centro histórico, mas
também alerta para o facto de Évora não ter condições algumas para alojar mais
do que uma grande superfície comercial.
Ora, enquanto ainda existia uma licença de construção válida
para um centro comercial na zona industrial, seria prudente não permitir o
avanço de um outro nesta fase. E sim, o município tinha esse poder, bastava
decidir não vender os terrenos, pelo menos nesta fase.
No mesmo dia que a Câmara Municipal publicita no seu site o
concurso público para a venda dos terrenos junto ao Centro Histórico, Carlos
Pinto Sá, presidente da Câmara Municipal, em entrevista ao Diário do Sul
afirma, em relação à construção que está parada na zona industrial, que
"há uma empresa de capitais estrangeiros interessada em comprar ao antigo
BES aquele activo e, porventura, pô-lo a funcionar. Já nos entregaram o pedido
para a prorrogação da licença de construção”.
Ora, estamos portanto na possibilidade, de um momento para o
outro, de ver surgir dois grandes empreendimentos comerciais, que calculamos
não terem qualquer viabilidade sozinhos, quanto mais em conjunto, mas que
entretanto secarão tudo à sua volta. Quem nos garante que num futuro próximo
não teremos dois grandes edifícios abandonados, depois de terem destruído
grande parte do comércio tradicional?
Na mesma entrevista, Pinto Sá afirma, ainda, que os cinemas
junto ao Terminal Rodoviário vão mesmo avançar e que está empenhado em defender
o património do Centro Histórico. Megalomanias? Projectos soltos? Ou alguma
estratégia que à partida não se percebe? Eu estou muito preocupado com este meu
Concelho que parece à deriva.
Até para a semana!
Bruno Martins
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