quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

A CRONICA DE OPINIÃO QUE ESTÁ A SER TRANSMITIDA HOJE NA DIANA/FM


Cumpriram-se, no passado dia vinte e três, dez anos sobre a minha primeira crónica para a DIANAFM. Desde esse dia muita coisa mudou na nossa vida colectiva e muita coisa mudou na minha própria vida.
Lembro-me de chegar aos estúdios da rádio pelas dezoito horas e de ler a primeira crónica que só iria para o ar no dia seguinte. Durante alguns meses foi esse o ritual semanal até que descobri as vantagens de escrever e gravar em casa, para depois enviar por correio electrónico.
Durante estes dez anos emiti opiniões na qualidade de mero observador do que me rodeia, com as certezas e as dúvidas do homem comum, especialista em coisa nenhuma. Foram só e apenas as minhas opiniões. Tão válidas como quaisquer outras.
Nos últimos dois anos nem sempre cumpri esta tarefa semanal e algumas vezes fi-lo quase por obrigação. Talvez me comece a faltar tempo e tranquilidade para observar o que está para além do que vejo e leio, que é o mais interessante como tema de crónica.
Nestes dez anos fiz crónicas sobre factos e nunca sobre protagonistas, ainda que, uma vez por outra, me tenha referido aos seus nomes. Nada me interessou as suas atitudes públicas, as insinuações sobre o passado de cada protagonista. Apenas me interessaram, como observador, as opções políticas e as suas consequências.
Por isso mesmo as minhas crónicas nunca foram sobre Passos Coelho ou Sócrates, Miguel Relvas ou Paulo Portas, mas sempre sobre as suas decisões e as consequências políticas das suas decisões.
O tempo que vivemos hoje é diferente do que vivíamos em 2006, desde logo pelo incremento de utilização das redes sociais no espaço virtual, que permite a divulgação da mentira e da suspeição de forma viral e cobardemente anónima.
As notícias de maior impacto e divulgação não são sobre coisas sérias, mas sobre o que pode potenciar essa nova forma de estar que é a inveja social.
Recuso esse caminho. O caminho de falar sobre a vida dos outros utilizando os meus filtros morais como se fossem a moral aceitável para todos, alinhando naquela tão famosa atitude do cidadão sentado na esplanada a protestar contra alguém que acha que não faz nada, ignorando que trabalha doze ou dezoito horas por dia.
Sei que o que escrevo e leio aos microfones da DIANAFM é ouvido por algumas pessoas, lido por mais algumas e vasculhado nas entrelinhas por outras tantas e nem sempre tenho cuidado de arredondar o que escrevo para ninguém se picar.
Muitas vezes nem sequer revejo o que escrevo antes de gravar e enviar e lá vão erros e imprecisões.
Não mudei nada no mundo com estas trezentas e oitenta e nove crónicas, mas durante estes dez anos fiz quase tudo o que me apetecia fazer e ao fazê-lo aprendi a não me levar a sério para além do razoável e a duvidar das minhas próprias opiniões.
Um personagem de um livro juvenil, de Carlos Ruiz Zafon, afirma, no final, que a idade não nos torna mais sábios, apenas nos torna mais cobardes. Se concordar com o personagem, tenho de admitir que afinal não envelheci nestes dez anos. Continuo sem nada a perder a não ser as minhas próprias cadeias. E a bradar, proletários de todos os países, uni-vos!

Até para a semana

Eduardo Luciano

1 comentário:

Anónimo disse...



OBS.


Julgo estar a associar-me ao Al tejo chamando a atenção para esta excelente intervenção do Eduardo Luciano (que não conheço).

Com efeito este exercício livre de introspecção de quem tem (e de quem quer) comunicar com os outros parece-me bastante profundo e intelectualmente honesto.
Como que a querer demonstrar que "a arte da comunicação" exige vários requisitos e várias condições, sendo que uma das mais decisivas é que a idade não é garantia de nada se não soubermos,entretanto, olharmo-nos ao espelho, despirmos-nos de individualismos e ter sempre por muito claro que comunicar deve partir sempre da imperfeição dos textos para a perfeição de tentarmos aceitar e compreender que não escrevemos só em nosso nome. Ou só para alimentar certos devaneios literários.

Escrever e comunicar é difícil mas vale sempre a pena. Mas o mais difícil e que ainda vale mais a pena, é a arte de sabermos abrir-nos e expôr-nos em conjunto com a sociedade e as pessoas que nos rodeiam procurando servi-las.

Saudações ao Autor


António Neves Berbem