Terça, 05
Janeiro 2016
Deixei-me seduzir pelo novo episódio de Star
Wars. Depois de ter vibrado com a primeira série na minha juventude, em que
a fantasia no Espaço era ainda de facto uma novidade, depois de ter vibrado na
infância dos meus filhos com a primeira sequela que já os apanhou “tu-cá-tu-lá”
com esta multiculturalidade fantástica, eis senão quando, por acaso na noite em
que Paulo Portas anunciava o fim de outra sequela à frente do CDS, mas é como
digo, por mero acaso, lá me sentei para ver O Despertar da Força e
vibrei de novo.
Confesso que estava com a quase certeza de que me ia desiludir. E
desiludi-me, mas ao contrário. O preconceito de que a idade me faria ser muito
negativamente crítica relativamente a um género de filme demasiado pop parece
que foi ultrapassado pelo lugar-comum de que a maturidade nos permite pôr
várias coisas no seu lugar e continuar a tirar partido, ainda que por outros
motivos, daquilo que já parecia ultrapassado. E mais uma vez Vergílio Ferreira
exprime esta sensação ou percepção de forma magistral quando escreve que «O
tempo que passa não passa depressa. O que passa depressa é o tempo que
passou.».
Foi quase comovedor rever a princesa
Leia e Luke Skywalker marcados pelos riscos do tempo e a sê-lo à moda do Vinho
do Porto, acho eu. Lembrei-me de como, perante a minha muda incompreensão, a
minha avó vibrava com as notícias que diziam respeito à Grace Kelly e restante
família monegasca e confirmei que, mais ou menos próximos ou distantes, todos
acabamos por seguir algumas sagas ao longo das nossas próprias vidas, numa
espécie de reescrita doméstica ou escrita paralela à vida que temos de tocar
para a frente. Fazemo-lo também, cada um à sua maneira, com matéria mais ou
menos histórica ou ficcional, mais ou menos erudita ou comum, de estrelas que
usamos para nos irem enfeitando como luzinhas de gambiarra o lado do tédio do
dia-a-dia.
Aceitei o lado irrealista e espalhafatoso,
de muitas das cenas, que continua a proteger os mortais em situações de óbvio
risco no mundo sério em que vivemos, como quem aceita alguns relatos
quase-mitómanos ou expressões exageradas de gente de quem esperamos isso mesmo
e com quem continuamos a conviver por razões de laços criados ou atávicos.
Aceitei e diverti-me. Afinal, não temos que olhar para as estrelas e para os
planetas e perceber do que são feitas para querermos continuar a admirá-las
ali, presas àquele cenário escuro… Aceitei as requentadas relações familiares
difíceis que se continuam a servir com uma intenção de novidade inaugural,
porque também já percebi que, mais coisa menos coisa, os comportamentos humanos
têm padrões irrecusáveis. Aceitei e reconheci que as paixões nascem e se
alimentam, obviamente, muito mais pelos sentidos do que pela razão, o que faz
com que inteligentemente se escolham para o sucesso corpos e feições que atraem
os espectadores de agora, para além do politicamente correcto que começamos a
implementar nos discursos, mas que ainda praticamos como excepção.
Enfim, fiquei muito contente por não ter
saído daquela sala, cheiinha de gente de todas as idades, a dizer que “no meu
tempo é que era bom”, o que enfim, também não é muito diferente em disparate do
que ouvimos quando as mais jovens gerações não são capazes de se predispor a
aprender alguma coisa com as anteriores. Mas pronto, é bom sentir que o tempo
passa ao seu ritmo e nós não tentamos ludibriá-lo, ludibriando-nos. São
batalhas que vamos ganhando ao Tempo por não nos metermos em guerras de
estrelas, talvez.
Até para a semana.
Sem comentários:
Enviar um comentário