segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

VASCULHAR O PASSADO

- Mensalmente Augusto Mesquita recorda-nos pessoas, monumentos, tradições usos e costumes de outros tempos.

                                     CHAVE DE HONRA DA CIDADE
                                                        foi inaugurada há 15 anos
           
            Palmilhando as praças das cidades, vulgarmente encontramos monumentos emoldurando seus espaços físicos, tanto artisticamente como arquitectónicamente. Mas afinal o que é um monumento?
            Um monumento é uma estrutura construída por motivos simbólicos ou comemorativos, mais do que para uma utilização de ordem funcional. Os monumentos são geralmente construídos com o duplo propósito de comemorar um acontecimento importante, ou homenagear uma personagem ilustre, e, simultaneamente, criar um objecto artístico que aprimorará o aspecto de uma cidade. Seu valor pode ser por antiguidade, tamanho ou significado histórico.
            Etnologicamente, a palavra monumento é de origem latina e provêm do verbo “monere”, que significa tanto “fazer recordar” como também “instruir”. Este significado remete-nos para a importância do monumento enquanto memória do significado de um determinado conjunto de indivíduos, no que toca à evolução histórica, pois como herança colectiva tem um duplo valor e um significado especial, já que nos permite situar no nosso tempo, estabelecendo uma relação de continuidade entre o nosso passado e o presente.
            Perante esta herança Patrimonial, a comunidade tem a responsabilidade de a preservar, utilizar e valorizar. Por isso é necessário conhecê-la em profundidade para podermos intervir e usufruí-la da melhor maneira, de modo a transmiti-la ainda mais qualificada e enriquecida às gerações vindouras. Cada geração se confronta com o Património do passado perante o qual tem responsabilidades de preservação, ao mesmo tempo que realiza a sua própria produção contemporânea, que virá também a construir o Património do Futuro.
            Segundo o historiador de arte Alois Riegl, monumento é toda a obra criada pela mão do homem e construída com a finalidade de conservar sempre viva e presente na consciência das gerações futuras, a lembrança de determinada acção ou de uma existência.
            Criados com a finalidade de prestar homenagens a importantes representantes da sociedade e ainda embelezarem a cidade os monumentos promovem a identificação do público local.
            Segundo consta, o primeiro monumento a ser construído em Portugal, foi a Torre de Belém. A obra teve início em 1514 e terminou em 1519. A pouco e pouco, os monumentos foram surgindo um pouco por todo o lado.
            Em Montemor-o-Novo, o primeiro monumento a ser erigido ocorreu em 9 de Abril de 1923 no antigo Largo das Portas do Sol em homenagem aos Mortos da 1.ª Grande Guerra.
            Seguiu-se o Monumento a S. João de Deus, inaugurado em 2 de Setembro de 1963, o Busto de Simão da Veiga Júnior, inaugurado em 2 de Setembro de 1968, o Monumento a Calouste Gulbenkian, inaugurado a 8 de Setembro de 1969, o Monumento a José Adelino dos Santos, inaugurado a 23 de Junho 1986, o Monumento aos Resistentes Antifascistas do Alentejo, inaugurado em 1 de Junho de 1996, a Chave de Honra da Cidade, inaugurada a 31 de Dezembro de 2000, o Monumento ao Bombeiro, inaugurado em 12 de Junho de 2005, e por último, a imagem de Nossa Senhora de Fátima, inaugurada em 18 de Maio de 2013.

 Inauguração da Chave de Honra da Cidade


             No dia 31 de Dezembro de 2000 (Domingo) pelas 15,00 horas, na Rotunda do Lanita em plena Estrada Nacional 253, com a presença de autarcas, responsáveis pelo projecto e execução das esculturas, autoridades locais, representantes de instituições montemorenses e de muito povo, foi inaugurada a Chave de Honra da Cidade, nas rotundas do Lanita, Maia, e Ponte de Alcácer.
            Na rotunda mais afastada da cidade de Montemor-o-Novo (do Lanita), na Estrada Nacional 253, Montemor-o-Novo / S. Cristovão encontra-se a primeira escultura constituída por dois elementos circulares, representando os dois elementos da “Chave da Cidade”. Soldados a estes dois elementos encontram-se duas barras em ferro, simbolizando a porta da cidade.
            Depois da primeira rotunda, encontramos, a caminho de Montemor-o-Novo, e na mesma estrada a nova rotunda (da Maia) com uma escultura constituída por um semicírculo, soldado a um corpo de chave. Este elemento está apoiado numa barra de ferro em ângulo recto, simbolizando a porta da Cidade. Nesta rotunda já se observam as ameias, fazendo o corpo da chave recordar o castelo.
            Com o Castelo de Montemor-o-Novo no cimo da colina, encontra-se junto à Ponte de Alcácer a terceira rotunda com o somatório das outras duas esculturas.
            Temos a “Chave que abre a Cidade ao Milénio”. Já não se observam as barras de ferro, pois a porta está aberta de par em par. Cidade aberta ao futuro! Após a circulação da rotunda, entra-se na cidade de Montemor-o-Novo. O viajante entrou no “Futuro”!
            Da brochura distribuída no local da inauguração, e que relata o significado das esculturas, seleccionei a mensagem dirigida pelo então Presidente do Município, Carlos Pinto de Sá:
            Milénio novo, novo Século.
            Passagem simbólica. Mais simbólica que sentida no real quotidiano das nossas vidas.
            Aqui chegados, olhamos o futuro com um misto de preocupação e de esperança.
            Preocupação porque, numa era em que pela primeira vez a Humanidade dispõe de técnicas e recursos para assegurar uma vida digna a todos, constatamos o crescimento da desigualdade, a polarização imoral da riqueza numa pequena elite, a marginalização de milhões de seres humanos.
            Esperança porque, apesar da violenta e castradora dominância ideológica de disseminação de valores mesquinhos e supérfluos em defesa de uma sociedade predatória do Homem, constatamos a redescoberta do inconformismo, da criatividade, da luta, da busca da justiça social.
            Em Montemor, vivemos também esta encruzilhada.
            Povo de trabalho, batido pelo sol cru da dura vivência diária, soubemos apurar um fino sentido de insubmissão, de dignidade, de procura de novas chaves para sociedades à medida do Homem… não apenas de alguns mas de todos!
            À cidadania virtual do discurso dominante, há que opor a construção de uma real cidadania não tolhida por uma condição social marginalizante.
            Aí temos o simbolismo desta marca do tempo, excepcionalmente interpretada com a força das coisas simples, pelo escultor João Duarte.
            Aqui temos este convite à vivência da cidade que se abre, da cidade sem muros nem ameias, da cidade que acredita não num qualquer futuro mas no paciente, penoso, longo mas exaltante trabalho de erguer a terra da fraternidade.
            Aqui temos olhos no devir, Montemor-o-Novo e a nossa gente.

 Ficha técnica do monumento
                Designação  -  Monumento Chave de Honra da Cidade de Montemor-o-Novo.
                Inauguração  -  31 de Dezembro de 2000.
                Escultor  - João Duarte.
                Materiais  -  Aço FE 360, tratado com tinta metálica.
            Execução  -  Metalúrgica Coelhos, Ldª, com sede em Riachos.
            Equipa técnica  -  Escultor José Coelho, António Augusto Coelho, José Manuel   Brites e Engenheiro João Bioucas.
            Fundações do Monumento  -  José Luís Nazário
            Iniciativa do Monumento  -  Câmara Municipal de Montemor-o-Novo


            NOTA – Como referi mais acima, temos a obrigação de preservar e valorizar os nossos monumentos. E o que verificamos? O estado actual das rotundas onde os mesmos estão colocados, envergonha Montemor-o-Novo.
            Não sei a quem compete a conservação das rotundas, se às Estradas de Portugal, se ao Município, mas uma coisa é certa: esta situação não pode prolongar-se por mais tempo, senão, as referidas rotundas, enquadram-se cada vez mais, com o estado de abandono do nosso Castelo.

Augusto Mesquita
Dezembro/2015
    

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