terça-feira, 22 de dezembro de 2015

UMA PRENDA DE NATAL - Pelo Heder

                                                             A prenda que te dou

E foi um dia triste, tão triste e tão sentido, a tua partida.
Não sei para onde foste, se estás bem ou não. Só sei que partiste e senti a mágoa da tua partida.
Não sei onde te encontras, se no sertão quente, tão quente como as lágrimas que verti quando da tua despedida, que me rasgaram o rosto ainda hoje não cicatrizado.
Talvez te encontres numa região gélida, onde um raio de Sol não consiga penetrar, nem aquecer a frieza da tua ausência.
O Natal aproxima-se com a rapidez dos dias pequenos e das prolongadas e quase infinitas noites, recordando outros tantos Natais.
O teu sapatinho de menina, esperta e rabina, esperando a prenda e já mocita. o teu rosto expetante, revelando uma prenda diferente, muitas vezes sem valor, mas sempre reveladora de afetos que desde que nasceste nos ligaram.
Lembraste quando deixaste de gatinhar e ainda mal andavas, correste atrás de mim e eu fingindo que caí deixei-me agarrar? E tu contentíssima e sorridente gritaste com uma voz tão bonita, que ainda hoje recordo como uma melodia.
E disseste: Avô, avô apanhei.

Ah, como os teus olhitos possuídos de um contente entusiasmo, brilhavam ainda mais do que a luz da primeira árvore de Natal que fizemos lá na Terra, onde tu sempre gostaste de ir e de estar. 
E com as tuas recordações, com a distância e o tempo, se me vão eternizando.
Não é a lamúria de um velho, talvez já caduco que me faz escrever, que me faz enviar sem saber bem para onde esta prenda, e se o fosse, ela, a lamúria, seria uma espécie de cordão umbilical que nos ligará eternamente.
Ao receberes este simples bilhete-postal natalício, peço-te apenas um favor, que não chores, e, se te apertar o coração, recorda apenas os momentos de alegria que passámos juntos, quando brincámos, quando jogávamos, quando nos divertíamos.
Não te importes com as lágrimas porque eu já chorei por ambos.
Esta é a prenda que te dou Neta, a prenda afetiva da tua recordação e da saudade de te ver.

Hélder Salgado
Terena, 14-12-2015      

 


1 comentário:

Anónimo disse...



Sem comentários..., não consigo escrever mais!...

Obrigada pelo desabafo