A prenda que te dou
E foi um dia triste, tão triste e tão
sentido, a tua partida.
Não sei para onde foste, se estás bem ou
não. Só sei que partiste e senti a mágoa da tua partida.
Não sei onde te encontras, se no sertão
quente, tão quente como as lágrimas que verti quando da tua despedida, que me
rasgaram o rosto ainda hoje não cicatrizado.
Talvez te encontres numa região gélida,
onde um raio de Sol não consiga penetrar, nem aquecer a frieza da tua ausência.
O Natal aproxima-se com a rapidez dos dias
pequenos e das prolongadas e quase infinitas noites, recordando outros tantos
Natais.
O teu sapatinho de menina, esperta e
rabina, esperando a prenda e já mocita. o teu rosto expetante, revelando uma
prenda diferente, muitas vezes sem valor, mas sempre reveladora de afetos que
desde que nasceste nos ligaram.
Lembraste quando deixaste de gatinhar e
ainda mal andavas, correste atrás de mim e eu fingindo que caí deixei-me
agarrar? E tu contentíssima e sorridente gritaste com uma voz tão bonita, que
ainda hoje recordo como uma melodia.
E disseste: Avô, avô apanhei.
Ah, como os teus olhitos possuídos de um
contente entusiasmo, brilhavam ainda mais do que a luz da primeira árvore de
Natal que fizemos lá na Terra, onde tu sempre gostaste de ir e de estar.
E com as tuas recordações, com a
distância e o tempo, se me vão eternizando.
Não é a lamúria de um velho, talvez já
caduco que me faz escrever, que me faz enviar sem saber bem para onde esta
prenda, e se o fosse, ela, a lamúria, seria uma espécie de cordão umbilical que
nos ligará eternamente.
Ao receberes este simples bilhete-postal
natalício, peço-te apenas um favor, que não chores, e, se te apertar o coração,
recorda apenas os momentos de alegria que passámos juntos, quando brincámos,
quando jogávamos, quando nos divertíamos.
Não te importes com as lágrimas porque eu
já chorei por ambos.
Esta é a prenda que te dou Neta, a prenda
afetiva da tua recordação e da saudade de te ver.
Hélder Salgado
Terena, 14-12-2015
1 comentário:
Sem comentários..., não consigo escrever mais!...
Obrigada pelo desabafo
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