Terça, 08 Dezembro 2015
Muito se riu na Assembleia da República
no final da semana passada. Eu que mais uma vez fui de encarregada de educação
levar uns jovens à Comic ConPortugal, na Exponor, quase achei que
os astros se tinham conjugado com os diferentes calendários levando a que
vários grupos societais, como agora se diz, ficassem “apanhados do clima”, que
é como se diz há muito tempo. Falo do calendário do firmamento, do da cultura
Pop e do Parlamento.
Até me podia parecer saudável esta nova dimensão de tratar a Política e que
não é exclusiva dos Políticos eleitos pelos Cidadãos. Ou então estaria a entrar
em contradição comigo mesma, já que faço um esforço para matizar com
“proto-larachas” esta e outras crónicas que fiz e farei. A moda de pôr o Povo
bem disposto a propósito de coisas muito sérias é velha e teve mestres, do qual
Gil Vicente é exemplo maior e conhecido. Mas nos dias corriqueiros de hoje, a
função do que se quer hilariante vai desde os comentadores espirituosos da
Rádio e da TV que a rir, ou para fazer rir, lá vão dizendo das suas, acertando
daqui e dali. O que pode ser útil para manter o cidadão comum desperto mas só
muito remotamente contribuir para que, neste campo, exerça melhor o seu direito
de eleitor. E vai também até às notícias que recorrem a um estilo estranho e
utilizam-no sobretudo nas parangonas mais ou menos discretas, e sim falo nesse
aparentemente novo politicamente correto modo de se chamar as coisas por uns
nomes, como se “chamar os bois pelos nomes” fosse outra coisa mais do que falar
claro e sem subterfúgios. Se não fosse trágico para a profissão dos
comunicadores até seria cómico.
Mas ainda mais me convenci do
alinhamento astral quando me dei conta das novas metáforas usadas pela
galhofeira oposição ao novo governo, recorrendo precisamente à linguagem em
siglas próprias e pops das redes sociais em voga. Do BFF ao LOL os deputados
estão no bom caminho para entrar no mainstreamda linguagem
cibernauta e estarem como peixinhos nas águas mais doces e fáceis da cultura
pop. É um bradar dos céus (eu sei que é “aos céus” mas como as expressões vêm da
nuvem informática, apeteceu-me dizer assim), o que revela bem o nível a que se
chegou em matéria de já toda a gente dizer tudo em qualquer lugar,
indistintamente. Enfim, o “meu” Vergílio Ferreira tinha, na minha opinião, toda
a razão quando dizia a este propósito e destes propósitos: «Rimos francamente,
se a piada vem de um tipo do nosso nível. Rimos com deferência, se de um nível
superior. E só por condescendência sorrimos, se vem de um tipo de nível
inferior. É que o riso é uma concessão e nós somos muito ciosos da nossa
importância.»
Até para a semana.
Cláudia Sousa Pereira
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