Quinta, 17 Dezembro 2015
Bem sei que muitos de nós queríamos
mudanças políticas mais decisivas, mas não posso deixar de notar que alguma
coisa mudou e que os tempos que vivemos abrem perspectivas de alguma esperança.
Se tudo correr dentro da normalidade, a Assembleia da República indicará
para o Conselho de Estado um elemento de cada partido com assento parlamentar,
com excepção do PEV e do PAN.
Dir-me-ão que a composição de um órgão
consultivo do Presidente da República em nada influi nas decisões políticas que
afectam o nosso dia-a-dia, mas em política o simbólico não deixa de ter um peso
significativo no ambiente que se vive.
Como resultado deste novo ambiente, o
Presidente da República volta a ter no seu órgão consultivo a presença de um
membro indicado pelo PCP e o Bloco de Esquerda tem, pela primeira vez, um seu
representante.
É verdade que tudo se continua a passar
ao nível do simbólico, mas não deixa de ser importante que um lutador contra a
ditadura, que pagou com o sacrifício da sua liberdade durante onze longos anos
de cativeiro, integre um Conselho de Estado que terá a presença de um
ex-ministro de Salazar.
Domingos Abrantes levará para este fórum
não apenas a sua experiência de lutador contra a ditadura, mas também a sua
perspectiva de classe.
Não deixa de ser interessante verificar
as reacções de alguns comentadores que já tinham dado como certo que o PCP iria
indicar o seu secretário-geral para a lista de candidatos apresentada pelo PS.
Atordoados com tantos desafios às suas
certezas absolutas sobre o PCP, o seu funcionamento e a sua prática política,
vão debitando asneiras e fazendo conjecturas em torno da indicação de Domingos
Abrantes.
Deixem-se disso e festejem a entrada no
Conselho de Estado de um homem que, com a sua luta e abnegada determinação,
contribuiu para que todos os politólogos, encartados ou por encartar, possam
dizer em liberdade o chorrilho de disparates com que nos moem o juízo todos os
dias.
Até para a semana
Eduardo Luciano
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