quinta-feira, 15 de outubro de 2015

ORELHUDOS DO CARAÇAS - Rubrica de A.N.B.


                                       ORELHUDOS do CARAÇAS 

     i)        Estados de Espirito

À luz do que o Al Tejo anda a divulgar, saído mais uma vez da  pena inspirada de um poeta camoniano, major de Terena, dotado de grande habilidade e engenho para a poesia épica (com um imenso e criativo sabor local) vamos lembrar que não são só “os tempos e as vontades” que mudam recusando  passados conhecidos. 
Muda-se também “o ser e a confiança” pelo que todo o mundo é composto de mudança, tomando dizia o poeta renascentista “sempre novas qualidades”.
 Foi precisamente isso que estas eleições vieram provar e exigir. A direita perdeu a maioria absoluta pelo que agora tem de mudar a sua qualidade e reaprender a negociar as condições em que poderá vir a governar o país. Claro que a Esquerda tem de estar preparada para fazer o mesmo.
Mas uma das lições mais interessantes destas eleições, é que ninguém quer ficar de fora das negociações pretendendo todos que os seus votos tenham uma tradução participativa em soluções novas.
Visto assim, acabou o poder asfixiante da maioria absoluta demasiado redutora e fixada comodamente numa austeridade cega agarrada às exigências do pacto de estabilidade.
Quanto à demora nas negociações tendo em vista um acordo de governo parece-nos que não tem que haver grande receio. É uma prática normal em países com sistemas de governo democrático parecidos com o nosso. Como é o caso da Bélgica um país com superior nível de vida. Embora tenha problemas de separatismo interno.
Dá-me mesmo uma certa vontade de deixar aqui dito, no Al tejo, que é preferível demorar mais tempo as negociações desde que as mesmas  apareçam  bem feitas.
Foi, aliás, o que sucedeu há bem pouco tempo na Alemanha onde as negociações entre quem venceu (CDU) e quem perdeu (o SPD) as eleições, demoraram mais de dois meses mas acabaram firmes e confiáveis  estando em execução adequada .
Fez bem, António Costa, em abrir o campo e o leque das negociações inclusivas e não exclusivas de 20% dos portugueses. As opções finais é que não são nada fáceis e exigem coragem política perante o eleitorado.  

           ii)    Estado das Coisas

Como qualquer português já percebeu, o país está também confrontado com várias “escolhas vitais” que não são apenas no plano interno. Sociais ou económicas.
São internacionais e projectam-se sobretudo na nossa capacidade de afirmação soberana e credível no mundo. Dito de outro modo, o país não se esgota nem pode estar virado unicamente para a União Europeia, a quem anda a apetecer a criação, imaginem, de um «mar europeu».
A seguir lá se vai o nosso mar camoniano das Berlengas até aos Açores.
Como dizia outro poeta “há mar e mar há ir e voltar”. Ou seja num país pequeno mas com muito mais “território marítimo do que continental” temos de virar-nos para as riquezas do mar. Tanto económicas como culturais (CPLP), será por aí que garantimos a existência enquanto país e pátria viável.
Claro que dizer isto é bem capaz de ser uma banalidade. Seja assim, mas onde queríamos chegar era à ideia de que o Alandroal deve associar uma parte importante do seu futuro às diversas envolventes «do mar interior alentejano do Alqueva».
Como, aliás, já foi apenas ensaiado, e bem, por um dos anteriores autarcas. 

           iii)     Estado da terra

Numa altura em que já se percebeu que as cidades e vilas do país entraram em competição pela sua própria continuidade e permanência histórica, há (julgo eu) que perceber que, sem uma certa dinâmica local e sem criatividade e marcas de atracção específicas, entramos num processo de decadência acelerada.
Neste sentido deve acrescentar-se que o Alandroal carece urgentemente de se projectar de uma maneira diferente.
Vejamos se ainda será possível à Autarquia agir «sem ser de forma absoluta» nestas alternativas:
(a)    Na abertura de um processo de «Reabilitação urbana» uma vez que algumas ruas e partes da Vila estão em adiantado estado de degradação arquitetónica;
(b)    Na criação de uma Ciclovia de serviço ao perímetro da Vila;
(c)     Na criação de um Parque Verde Municipal;
(d)    Na recuperação de certas “marcas apagadas” do património local e do que foi a Vila, em matéria de «Artes e ofícios», por meados do século passado;
Fiquemos, hoje, por aqui neste exercício de poder local visionário todavia com uma certeza: sem ideias, sem os lugares, sem a memória daquilo que fomos, é certo que vai sobrar pouco tempo e oportunidades para sobrevivemos.
O Imaginário é, nestas coisas, como em tudo a mola decisiva!

      António Neves Berbem
         ( 15/X/ 2015)


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