ORELHUDOS do CARAÇAS
i) Estados de
Espirito
À luz do que o Al Tejo anda a divulgar,
saído mais uma vez da pena inspirada de
um poeta camoniano, major de Terena, dotado de grande habilidade e engenho para
a poesia épica (com um imenso e criativo sabor local) vamos lembrar que não são
só “os tempos e as vontades” que mudam recusando passados conhecidos.
Muda-se também “o ser e a confiança”
pelo que todo o mundo é composto de mudança, tomando dizia o poeta
renascentista “sempre novas qualidades”.
Foi
precisamente isso que estas eleições vieram provar e exigir. A direita perdeu a
maioria absoluta pelo que agora tem de mudar a sua qualidade e reaprender a
negociar as condições em que poderá vir a governar o país. Claro que a Esquerda
tem de estar preparada para fazer o mesmo.
Mas uma das lições mais interessantes destas eleições,
é que ninguém quer ficar de fora das negociações pretendendo todos que os seus
votos tenham uma tradução participativa em soluções novas.
Visto assim, acabou o poder asfixiante da maioria
absoluta demasiado redutora e fixada comodamente numa austeridade cega agarrada
às exigências do pacto de estabilidade.
Quanto à demora nas negociações tendo em vista um
acordo de governo parece-nos que não tem que haver grande receio. É uma prática
normal em países com sistemas de governo democrático parecidos com o nosso.
Como é o caso da Bélgica um país com superior nível de vida. Embora tenha
problemas de separatismo interno.
Dá-me mesmo uma certa vontade de deixar aqui dito, no
Al tejo, que é preferível demorar mais tempo as negociações desde que as
mesmas apareçam bem feitas.
Foi, aliás, o que sucedeu há bem pouco tempo na
Alemanha onde as negociações entre quem venceu (CDU) e quem perdeu (o SPD) as
eleições, demoraram mais de dois meses mas acabaram firmes e confiáveis estando em execução adequada .
Fez bem, António Costa, em abrir o campo e o leque das
negociações inclusivas e não exclusivas de 20% dos portugueses. As opções
finais é que não são nada fáceis e exigem coragem política perante o
eleitorado.
ii) Estado das Coisas
Como qualquer português já percebeu, o país está também
confrontado com várias “escolhas vitais” que não são apenas no plano interno.
Sociais ou económicas.
São internacionais e projectam-se sobretudo na nossa
capacidade de afirmação soberana e credível no mundo. Dito de outro modo, o
país não se esgota nem pode estar virado unicamente para a União Europeia, a
quem anda a apetecer a criação, imaginem, de um «mar europeu».
A seguir lá se vai o nosso mar camoniano das Berlengas
até aos Açores.
Como dizia outro poeta “há mar e mar há ir e voltar”.
Ou seja num país pequeno mas com muito mais “território marítimo do que
continental” temos de virar-nos para as riquezas do mar. Tanto económicas como
culturais (CPLP), será por aí que garantimos a existência enquanto país e
pátria viável.
Claro que dizer isto é bem capaz de ser uma
banalidade. Seja assim, mas onde queríamos chegar era à ideia de que o
Alandroal deve associar uma parte importante do seu futuro às diversas
envolventes «do mar interior alentejano do Alqueva».
Como, aliás, já foi apenas ensaiado, e bem, por um dos
anteriores autarcas.
iii) Estado da terra
Numa altura em que já se percebeu que as cidades e
vilas do país entraram em competição pela sua própria continuidade e
permanência histórica, há (julgo eu) que perceber que, sem uma certa dinâmica
local e sem criatividade e marcas de atracção específicas, entramos num
processo de decadência acelerada.
Neste sentido deve acrescentar-se que o Alandroal
carece urgentemente de se projectar de uma maneira diferente.
Vejamos se ainda será possível à Autarquia agir «sem
ser de forma absoluta» nestas alternativas:
(a)
Na abertura de um processo de «Reabilitação
urbana» uma vez que algumas ruas e partes da Vila estão em adiantado estado de
degradação arquitetónica;
(b)
Na criação de uma Ciclovia de serviço ao
perímetro da Vila;
(c)
Na criação de um Parque Verde Municipal;
(d)
Na recuperação de certas “marcas apagadas” do
património local e do que foi a Vila, em matéria de «Artes e ofícios», por
meados do século passado;
Fiquemos, hoje, por aqui neste exercício de poder
local visionário todavia com uma certeza: sem ideias, sem os lugares, sem a
memória daquilo que fomos, é certo que vai sobrar pouco tempo e oportunidades
para sobrevivemos.
O Imaginário é, nestas coisas, como em tudo a mola
decisiva!
António
Neves Berbem
( 15/X/
2015)
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