quinta-feira, 8 de outubro de 2015

CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA RÁDIO DIANA/FM


                                                       Um novo ciclo?

Quinta, 08 Outubro 2015
No domingo passado os portugueses, que quiseram, foram às urnas depositar o seu voto de confiança na solução que cada um entendeu ser a melhor para defender os seus interesses pessoais, de classe, ou quaisquer outros que pareceram no momento serem legítimos para quem votou.
Os resultados mostraram que a maioria dos portugueses quis castigar a política que foi executada pelo governo de direita nos últimos anos pela coligação PSD/CDS (não tenho bem a certeza que seja esta a ordem pela qual devo referir os actores), que perdeu mais de setecentos mil votos, quase três dezenas de deputados e a maioria na Assembleia da República.
O PS não atingiu o resultado a que se propunha e que o seu líder exigiu ao seu antecessor ao criticar-lhe as vitórias “por poucochinho”.
Os partidos situados à esquerda obtiveram quase vinte por cento dos votos, tendo a CDU obtido o seu melhor resultado desde 1999 e o BE o seu melhor resultado de sempre.
Se todos os partidos com assento parlamentar honrarem os compromissos assumidos durante a campanha eleitoral, a direita não poderá formar governo.
Os partidos à esquerda do PS já afirmaram que não viabilizarão um governo cujo programa político foi rejeitado pela maioria dos portugueses votantes e que fustigou com austeridade os trabalhadores e o povo.
O PS tem agora a particular responsabilidade de se disponibilizar para entendimentos que levem à concretização da escolha feita nas urnas ou, por outro lado, viabilizar a continuidade da austeridade e do acentuar da exploração.
A direita vai fazendo o caminho de aproximação invocando que o que divide o espectro político parlamentar não é o conceito de esquerda e direita mas antes o ser “europeísta” ou “anti europeísta”, lembrando o saco de farinha onde as três forças políticas estiveram mergulhadas.
Ontem PCP e PS reuniram-se para as primeiras conversações sobre a possibilidade de formação de um governo suportado pela actual maioria parlamentar e parece que algum caminho terá sido feito, com o PCP a assumir que “continua a haver margem para soluções governativas que não permitam que PSD e CDS, contra a vontade popular, prossigam a sua acção política de exploração, empobrecimento, destruição de serviços públicos, desestabilização do regime democrático e degradação do funcionamento das instituições.”
As conclusões conhecidas da reunião e as declarações de Jerónimo de Sousa e António Costa foram suficientes para pôr os comentadores do arco sem saber muito bem o que dizer. Com um ar meio aparvalhado, entretiveram-se a somar lugares comuns às habituais cassetes que vão debitando.
Parece que o militante do PSD que ocupa o Palácio de Belém vai ter um problema para resolver, depois de, ignorando a Constituição da República e sem ouvir os partidos com assento parlamentar, como está obrigado, ter vindo às televisões dizer que indigitou o líder do seu partido para formar governo.
Vivemos tempos estranhos, mas também vivemos tempos de clarificação sobre o que cada um defende e propõe para o futuro do país.
Sem entrar em optimismos sem sentido, seria, no mínimo, estranho que pelo menos não houvesse uma tentativa de formar um governo para concretizar uma política de esquerda.

Até para a semana
Eduardo Luciano

Sem comentários: