Terça, 20 Outubro 2015
Alcançar a paz
parece-me ser o fim último do indivíduo e da humanidade. Falo do fim com
sentido de objetivo ou meta a alcançar.
Mais ou menos consciente, por vezes
mesmo totalmente ignorada enquanto tal e reconhecível apenas por uma vivência
constante no estado oposto de guerra, o indivíduo ao longo da vida, como a
humanidade ao longo dos séculos, muitas vezes ou ciclicamente, orienta a sua
atuação para a obtenção da paz. Nem que seja para, logo a seguir, encetar outra
empresa em que até chegar à paz seguinte muita guerreia se há-de fazer.
É desta forma que a
paz reúne em si todas as contradições deste mundo, as que vão da bondade ao
cinismo, da espontaneidade ao calculismo, da prudência ao disparate. É também
por isso que alcançar a paz é uma tarefa árdua e que se lança mão de muitos instrumentos,
ferramentas ou argumentos, quando a paz para que se caminha depende das
palavras, dos conceitos e das ideias e a guerra não deixa de ser guerra. Nos
momentos em que a guerra para, supostamente, alcançar o melhor, do qual uma paz
fará em princípio parte, se combate pelos raciocínios, com opinião, julgamento
ou exortação, é quando tantas vezes nos desmascaramos, enquanto indivíduos e
por vezes com impacto num coletivo, revelando afinal o lado mais primário da
dominadora espécie humana. Curiosamente como com os animais se disputa o
parceiro mais forte, o território mais fértil, o lugar mais poderoso, poucas
das muitas guerras entre os humanos vão para além disto mesmo.
As lutas são tão mais
violentas quantos mais danos colaterais se infligem e, por isso, estar ao lado
de quem faz a guerra mesmo que em nome de uma qualquer paz, se ou quando da
queda, não se pode ser dano colateral, nem isso ser dado como desculpa para
dela se sair o mais ileso possível. Tal como quando toca a repartir os despojos
entre os vencedores não haverá quem falte à chamada, e tantas vezes uma outra
guerra se inicie, quando fosse para “lamber as feridas” haveria que estar lá
também, o que nem sempre acontece. É que um exército composto por quem veio de
outro tendo em comum as cicatrizes é um exército que, por muito que combata em
nome do que quer que seja, há-de ter a vingança como primeiro troféu. E isso
não serve como argumento para se fazer a guerra em nome de outros, mas de si
próprio.
Talvez tudo isto, e
mais alguma coisa, se encaixe na opinião de Vergílio Ferreira que dizia que O
homem não gosta da paz. Gosta só de conquistá-la. Entre uma coisa e outra há
muita gente estendida. É a que tem a paz verdadeira.
Até para a semana.
Claudia Sousa Pereira
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