Quinta, 15 Outubro 2015
Quando na última crónica afirmei que
vivíamos tempos de clarificação não imaginava que tal se verificasse com a
extensão e profundidade que vimos acontecer na última semana.
A simples possibilidade de um entendimento entre o PS e as forças à sua
esquerda levou, como seria de esperar, que a direita parlamentar perdesse o
verniz e trouxesse para a ribalta velhos medos e insultos que fazem lembrar os
tempos em que incitavam ao terrorismo contra os centros de trabalho do PCP,
mostrando a sua real base genética.
No PS, perante a mesma possibilidade, um
conjunto de “notáveis”, ex-dirigentes e outros personagens que muitas vezes
acusaram o PCP de empurrar o PS para a direita, vêm agora agitar todos os
papões, utilizando, nalguns casos, exactamente a mesma linguagem trauliteira,
defendendo que o seu espaço natural é o entendimento com a direita ou, pelo
menos num dos casos, a querer levar a referendo interno a decisão sobre o campo
político no qual o PS quer estar.
Não deixa de ser curioso e esclarecedor
que o actual, e o anterior secretário-geral da UGT tenham afirmado que
preferiam que o seu partido se aliasse à direita, tornando claras as razões das
suas disponibilidades para fazer acordos com o governo e as associações
patronais.
É agora claro que a comunicação social
está manietada, fazendo de opinião notícia, inventando cenários dantescos
perante a possibilidade de um governo suportado por uma maioria parlamentar
diferente da que nos governou nos últimos quatro anos, chegando ao ridículo de
associar uma queda bolsista a essa possibilidade.
Também ficou claro que na composição dos
painéis de fazedores de opinião que vão passando pelas televisões, não há lugar
a independência ou equidistância. A esmagadora maioria foi escolhida por estar
do mesmo lado, sendo a situação mais escandalosa a que existe no canal público
recentemente reformulado.
Sempre foi assim, dirão alguns. É
verdade, mas até aqui havia o decoro de fingir que não era bem assim.
Estamos longe de perceber qual será o
desfecho deste processo que surgiu de um resultado eleitoral em que a maioria
dos eleitores rejeitou a política do governo, sendo que o regresso da política
à vida pública é já um dos aspectos mais positivos saídos das últimas eleições.
Por mim, continuo com esperança que seja
encontrada uma solução governativa que permita o cumprimento do programa mínimo
apresentado pelo PCP e divulgado após a primeira reunião com os dirigentes do
PS.
É simples. Basta que todas as posições
se clarifiquem.
Até para a semana
Eduardo Luciano
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