quinta-feira, 20 de agosto de 2015

VASCULHAR O PASSADO - Rubrica mensal a cargo de Augusto Mesquita

                         Há 20 anos a A6  chegou a Montemor
 A primeira auto-estrada do mundo, foi inaugurada em 1908 na ilha de Long Island , situada no sudoeste do estado de Nova Iorque nos EUA, e recebeu o  nome da referida ilha.
            Foi necessário esperar trinta e seis anos, para que esta nova infra-estrutura rodoviária chegasse a Portugal. A primeira auto-estrada portuguesa foi o troço construído entre Lisboa e o Estádio Nacional, inaugurada em 29 de Maio de 1944. Mandada construir pelo então Ministro das Obras Públicas e Comunicações Eng.º Duarte Pacheco, com os seus 8 quilómetros de extensão, com o pavimento totalmente em cimento e brita, entre Lisboa e o Estádio Nacional. Inicialmente foi denominada como Estrada Nacional N.º 7 (EN 7), tendo recebido a actual denominação quando as auto-estradas passaram a ter uma numeração diferenciada. Só em 1991 seria inaugurado o troço Estádio Nacional – Cascais, na distância de 17,1 quilómetros que concluiria a auto-estrada Lisboa – Cascais.
            A segunda auto-estrada portuguesa viria a ser inaugurada só em 28 de Maio de 1961, que ligaria Lisboa a Vila Franca de Xira na distância de 23 quilómetros. Este troço seria o início da futura A1 que ligaria Lisboa ao Porto e que só viria a ficar concluída em 1991.
            O troço Lisboa – Vila Franca de Xira custou 303 mil contos e a portagem para ligeiros era de cinco escudos.
            Para percorrer os 303 quilómetros que separam Lisboa do Porto, foi necessário construir 10 troços, e aguardar três décadas.
            A febre das auto-estradas, iniciou-se com a chegada de Cavaco Silva ao poder em 1985, que coincidiu com o início da entrada em Portugal dos fundos milionários da União Europeia.
                                                                             Os anos de ouro
 Em 1984 havia em Portugal cerca de 160 quilómetros de auto-estradas.. Em cinco anos (1985-1990), a rede de auto-estradas praticamente duplicou, chegando aos 316 quilómetros em 1990. Mais cinco anos passaram e este número mais do que duplicou, passando para 687 quilómetros em 1995, ano em 
que Cavaco Silva abandonou o poder, mas não sem deixar mais projectos de auto-estradas em execução, que o seu sucessor António Guterres prosseguiu, ao mesmo tempo que lançava novos projectos: nos 5 anos seguintes (1995-2000), a rede voltaria a mais do que duplicar, para se fixar nos 1.482 quilómetros. Entre 2000 e 2005 sendo primeiros-ministros, sucessivamente António Guterres, Durão Barroso e Santana Lopes, registou-se um crescimento de 859 quilómetros, atingindo a rede os 2.341 quilómetros. Entre 2005 e 2010, já com José Sócrates no poder, o número de quilómetros de auto-estradas cresceu a um ritmo mais moderado, 390 quilómetros de auto-estradas. Haverá hoje em Portugal 2.731 quilómetros de auto-estradas.
            Mas a rede continua a crescer. Com a construção suspensa, estão, neste momento, pelo menos 229 quilómetros de auto-estradas: Padronelo – Vila Real (25,4 km.), Alvaiaze – Condeixa (87 km.), Túnel do Marão (5,6 km.), Sines – Santiago do Cacém (11 km) e Ferreira do Alentejo – Beja (100 km.).
                                                               Tribunal multa dois ministros
Motivado pela paragem das obras na A26, a auto estrada que liga Sines a Beja, e na sequência de uma providência cautelar apresentada pela Câmara Municipal de Ferreira do Alentejo contra as Estradas de Portugal (EP), Ministério da Economia e Ministério da Agricultura (que tutelava o Ambiente), numa decisão inédita, o Tribunal Administrativo e Fiscal de Beja, condenou em 2013 os Ministros Álvaro Santos Pereira e Assunção Cristas a uma multa diária de 43,65 euros pela paragem das obras na A26. O montante diário será (?) pago pelos responsáveis até que a saúde e a integridade física de quem circula na zona fossem acauteladas. Os ministérios da Economia e da Agricultura recorreram da decisão.
            Um dos factores que levou Portugal à tragédia económica, e à perda de soberania, foi sem dúvida o seu investimento desmesurado em rodovia.
                                                                       Auto – Estrada A 6
Ao inaugurar em 31 de Agosto de 1995 os novos 44 quilómetros do lanço Marateca/Montemor-o-Novo da A 6, aberto ao trânsito às 12,40 horas, o Ministro das Obras Públicas, Ferreira do Amaral, diz ter, com esta obra, “acabado com a desesperança sem remédio que se vivia no Alentejo, no que tocava à falta de boas vias de comunicação com o resto do País”.
            Em contrapartida, Ferreira do Amaral não considerou elevado o valor das portagens, de mais de 12$00 por quilómetro – quando nalgumas auto-estradas, como a CREL, o preço ronda os 10$00/km – mesmo encontrando-se esta implantada numa região como o Alentejo, com escassos recursos económicos.
            O ministro, referiu que “esta auto-estrada vai permitir, em 1998, ligar Lisboa a Madrid, via Elvas e fronteira do Caia/Badajoz, e servir o tráfego internacional de médio e longo curso, enquanto o trânsito local pode continuar a circular sem pagar nas vias alternativas (caso da EN 4)”.
            Assim o preço das portagens para veículos ligeiros desde Marateca até Montemor-o-Novo fica em 550$00. Mas, se o automobilista entrar logo no nó de Coina da auto-estrada do Sul, o custo até Montemor-o-Novo eleva-se para os 940$00. As restantes entradas são 850$00 (em Coina 2), 760$00 (Palmela), e 690$00 (Setúbal). A ligação entre Vendas Novas/Montemor-o-Novo (24 quilómetros), custa 290$00.
            O Presidente da Brisa, Vasconcelos Guimarães, também não considerou caras as portagens, frisando mesmo que, a nível nacional, temos “as portagens mais baratas da Europa”.
            O separador central da A 6, já de acordo com as normas internacionais, não dispõe de barreiras protectoras, a não ser junto aos viadutos e nas passagens de emergência, que existem de 3 em 3 Km. Este separador tem 9 metros de largura e 1,5 metro de altura, permitindo um futuro alargamento para mais vias, o que só se deverá justificar, segundo a Brisa, em 2020.
                                                                             Auto-bronca
 Com a iluminação por concluir, e a pavimentação inacabada junto de algumas instalações, o primeiro troço da A 6, entre Marateca e Montemor-o-Novo, não atraiu nas primeiras horas de funcionamento muitos automobilistas. Na última praça de portagem, que dá ligação a Espanha e Évora pela EN 4, o sistema de iluminação não estava concluído, assim como, a pavimentação ao redor das instalações da Brisa.
            Este primeiro lanço da A 6, que se divide nos sublanços Marateca/Vendas Novas e Vendas Novas/Montemor-o-Novo, importou em 15 milhões de contos e foi construído em 19 meses.
             A Agroman Empresa Construtora, SA, construiu os 24 km que separam Vendas Novas de Montemor-o-Novo, tendo consumido os seguintes materiais:
·         3 500 000 m3 de terra;
·         350 000 toneladas de betuminoso;
120 000 m3 de solo – cimento
            Às 13 e 30 horas, uma hora depois da abertura da nova via, no interior de Montemor-o-Novo, a fila compacta de carros que atravessava a cidade dava conta de que muitos automobilistas ainda desconheciam a abertura da nova via, ou “não vale a pena ir por lá, porque a viagem fica mais cara e a vida anda má”.
            O sub-lanço Montemor-o-Novo/Évora, foi inaugurado no dia 5 de Abril de 1998.
            Em Setembro de 1999 a A6 chegou finalmente à cidade fronteiriça de Elvas.
                Em 2013 foi investido cerca de um milhão de euros na beneficiação do pavimento do sublanço Montemor-o-Novo (nascente) / Évora (poente).
            Certamente, que o aproximar das eleições legislativas, levou o Governo a recomeçar as obras das auto-estradas Alvaiázere – Condeixa, Sines – Santiago do Cacém, e Ferreira do Alentejo – Beja. Mas uma pergunta fica no ar:
            Porque acredito que o Estado é uma pessoa de bem, quanto vai custar ao erário público, as indemnizações exigidas pelos empreiteiros, referentes a prejuízos resultantes da paralisação das obras que lhes tinham sido adjudicadas?

Augusto Mesquita
In “Folha de Montemor” Agosto 2015. Transcrição autorizada pelo Autor

           


1 comentário:

Anónimo disse...

"quanto vai custar ao erário público, as indemnizações exigidas pelos empreiteiros, referentes a prejuízos resultantes da paralisação das obras que lhes tinham sido adjudicadas?"

Eu sou o Ministro das Obras Públicas.
Gostaria de satisfazer a sua curiosidade mas acontece que não faço a mínima ideia de quanto será o montante das indemnizações que o Estado terá de pagar por ter parado essas obras.
Porém não se preocupe com isso, o que posso garantir-lhe é que o governo de que faço parte não irá pagar nada disso. Isto é ponto assente.