O 100.º Vasculhar o passado
Neste
centésimo “Vasculhar o passado”, optei por distinguir uma dezena de pequenas
notícias de outros tempos.
TUNA CALEIRA
– A par das duas distintas Bandas Marciais – A Carlista e a Pedrista, existiu a
célebre “Tuna Caleira”. A alma revolta da laboriosa mocidade montemorense
ansiava por voos mais largos dos que limitavam as filarmónicas. Na numerosa
família comercial, seus caixeiros saturados da vida de balcão, exigiam para o
seu espírito o indispensável recreio. E muitos expandiam-no através dos acordes
dos seus bandolins, dos seus violinos, das suas flautas e das suas violas. Pois
a música era a Arte que mais lhe falava à sensibilidade.
Os
atractivos carnavalescos de 1904 chamara essa mocidade a unir os acordes dos
seus instrumentos e a discipliná-los sob a mesma batuta. À sua
“república-musical”, admitiram valiosos elementos das duas bandas. E com um
conjunto de 50 figuras exibiram-se com tanto entusiasmo recreativo e artístico,
que, após a folia carnavalesca, não se acharam com ânimos de dissolver a sua já
muito aplaudida e bem recebida “Tuna Caleira”.
Melhorando
de dia a dia, a beneficência local muito lucrou com a sua actividade e
progressos artísticos. Em 1912 motivos vários desagregaram o rico conjunto
musical, e assim, acabou esta importante faceta da música popular montemorense.
“LEÕES FUTEBOL CLUBE MONTEMORENSE” – Em 19
de Março de 1932, por deliberação unânime da sua Assembleia Geral, foi decidido
mudar o nome da associação para Clube de Futebol “Os Montemorenses, e filiá-lo
no Clube de Futebol “Os Belenenses”. O equipamento do novo clube passou a ser
igual ó da equipa do Restelo.
Porque a força da tradição é tão
grande, os sócios, e os montemorenses em geral, não se adaptaram ao novo nome,
e quando se referiam ao clube, a alcunha pronunciada continuava a ser –
“Leões”.
No número 34 da Rua dos Almocreves,
funcionou a sede desta colectividade montemorense. Esta agremiação desportiva
foi filiada na AFE, e chegou a rivalizar com o Grupo União Sport. Os “Leões”,
não se limitavam apenas a jogar futebol, pois possuíam, secções de
pingue-pongue, de atletismo, de box, de basquetebol e de ciclismo, cuja vedeta,
Honório Minhoca, viu a sua fotografia figurar na galeria de honra da
colectividade.
Os
“Leões” possuíam também um excelente Grupo Cénico, que participou em récitas no
desaparecido “Cinema Talma”, em benefício de instituições locais, e de apoio a
famílias vítimas da tuberculose. Organizava outras actividades de cultura e
recreio, nomeadamente os seus apreciados saraus de poesia e variedades,
seguidos do aguardado baile. E conseguiam tudo isto nas suas exíguas
instalações de rés-do-chão.
Do
lado direito da única porta de entrada, foi instalado um palco, onde actores e
cantores da colectividade se exibiam. Nas partes laterais do tablado, foi
reservado um espaço para a direcção se reunir, que servia em dias de teatro, de
camarim destinado às actrizes; na parte contrária, foi reservada uma área para
WC das senhoras, com apenas um “penico de pé alto”. Em frente ao palco,
funcionava o indispensável bar, que servia de suporte financeiro para as
actividades da instituição.
Sem apoios das entidades oficiais, unicamente
por amor à camisola, desenvolviam-se verdadeiros milagres na área do desporto,
da cultura, e do recreio.
Na
década de 40, os “Leões” foram extintos, e as chaves da sede foram entregues
pelos Senhores Vicente Barreiros e Gaspar Carrasquinho, ao Senhor João Batista
Reis Malta, proprietário do edifício.
O
seu estandarte pode ser visto no Convento de S. Domingos.
MARCHAS
POPULARES – Há setenta anos realizou-se na Vila Notável a
primeira marcha popular. Para comemorar o 84.º aniversário da popular Sociedade
Carlista realizou-se no dia 28 de Junho de 1945 o grandioso desfile da Marcha
da Carlista. Foi autor da música o maestro Pires da Cruz e da letra o Dr.
António Maria Laboreiro de Villa-Lobos, Presidente da Direcção da Carlista.
Foi um êxito
estrondoso, não só pela novidade, como pela categoria da música e da letra.
Percorrendo as ruas da
então vila, a Marcha fez as suas marcações no Estádio 1.º de Maio, que registou
a maior enchente de sempre até essa altura.
Recordo o “Coro”: Esta
marcha da Carlista / É uma Marcha Popular / Montemorense e bairrista / Pelas
ruas segue a cantar.
SERAFIM ALVITO
ATINGIU A ALTA-RODA DA ARBITRAGEM – Iniciou-se na arbitragem na
época de 1975/76, dirigindo o Viana – Juventude na categoria de Juvenis. Subiu
à 3.ª categoria em 1981/82, foi promovido à 2.ª categoria em 1982/83, e
finalmente, com o acesso na época de 1990/91 à 1.ª categoria, viu-se projectado
para o mais elevado escalão da arbitragem portuguesa.
António
Maria Galeano e Manuel Jacinto Vieira foram os seus auxiliares. Quando o
Galeano deixou Montemor-o-Novo, foi substituído por Joaquim Manuel dos Santos.
A
16 de Dezembro de 1989, estreou-se na I Divisão Nacional ao dirigir o Benfica
3, Feirense 1. Tornou-se assim, no primeiro e único árbitro montemorense, a
arbitrar jogos do escalão maior do nosso futebol. De 1989/90 a 1992/93, Serafim
Alvito dirigiu 27 jogos.
No
plano internacional, o nosso conterrâneo dirigiu no dia 9 de Janeiro de 1985 o
Portugal 1, Suíça 0, em Sub-16.
O PRIMEIRO
AUTOCARRO MUNICIPAL – Adquirido pela autarquia em Maio de 1981,
apenas foi entregue em Novembro desse ano o primeiro autocarro municipal.
Trata-se
de um “Mercedes” de 33 lugares que custou 2.640 contos. O atraso verificado na
entrega do bus, deveu-se ao facto de ter havido uma certa demora nos trabalhos
de pintura da viatura, exigidos pela Câmara Municipal.
A
autarquia procedeu à elaboração do regulamento de utilização do veículo, que
ficou ao serviço das Juntas de Freguesia, das instituições culturais, sociais e
desportivas do concelho, para iniciativas de interesse cultural e de animação
sócio-educativa.
1.ª MOSTRA
FILATÉLICA – Numa iniciativa
do Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo e da Secção Filatélica da Associação
Fotográfica do Sul com sede em Évora realizou-se no Convento de S. Domingos de
27 de Dezembro de 1981 a
3 de Janeiro do ano seguinte a 1.ª Mostra Filatélica. No local, foi instalado
um Posto Especial dos Correios para venda de selos ou postais e aposição de
carimbo especial num sobrescrito comemorativo da “Mostra”.
Variadíssimas
colecções de uma dúzia de expositores, entre os quais alguns de Montemor-o-Novo
despertaram grande interesse geral, no muito público visitante.
De
salientar ainda o notável e belo Catálogo alusivo, editado pelo Grupo dos
Amigos de Montemor-o-Novo.
POSTO DE
TURISMO – A 15 de Julho de 1986 num bem conhecido stand de madeira
(que se encontra depositado numa propriedade junto à Quinta da Asneira),
procedeu-se à inauguração do Posto de Turismo, no Largo Calouste Gulbenkian, o
qual funcionava apenas nos meses de verão.
No
sentido de aprofundar a ligação entre a autarquia e aqueles que estão mais
directamente ligados ao Turismo, a Câmara Municipal fez questão de convidar
para a cerimónia, diversas entidades locais, entre elas a indústria hoteleira.
No
decorrer do acontecimento e através do diálogo estabelecido foi ponto de
consonância a necessidade de desenvolver um projecto que venha dinamizar as
potencialidades deste concelho em matéria de turismo.
Em
1988 a
autarquia alugou um espaço no Largo Calouste Gulbenkian, o qual depois das
indispensáveis obras de adaptação, recebeu em 18 de Setembro desse ano, o Posto
de Turismo, o qual passou a funcionar durante todo o ano.
Nos
meses de verão, uma sucursal do Posto de Turismo, funciona no Castelo, no
edifício do Convento da Saudação.
Em 2003,
foi adjudicada a obra para instalação do Posto de Turismo, assim como da Junta
de Freguesia de Nossa Senhora do Bispo, Repartição de Finanças, Tesouraria da
Fazenda Pública, e estacionamento em cave, a levar a efeito no Largo Calouste
Gulbenkian. O ambicioso projecto foi executado pelo Arquitecto João Santos, com
gabinete no Porto.
Problemas
de segurança dos prédios vizinhos, detectados pela empresa construtora, levaram
à suspensão da empreitada. Até quando?
O “PORTA
ABERTA” ACTUOU NA TELEVISÃO – O grupo de música popular portuguesa montemorense,
actuou no dia 24 de Janeiro de 1990 no programa televisivo “Às Dez”,
transmitido em directo dos estúdios da RTP do Monte da Virgem, onde interpretou
temas do seu disco “Atalhos e Trabalhos”. O Adriano Serôdio, o António Pedro
“Topê, o Baltazar Santos, o Henrique Lopes “Hita”, o Luís Melgueira, o Joaquim
Pires, o Jorge Pires e o Vítor Badalinho, foram uns dignos embaixadores da
Terra de S. João de Deus.
O PRIMEIRO ESPECTÁCULO DE ÓPERA – O Cine
Teatro Curvo Semedo, a maior casa de espectáculos a sul do Tejo, encheu-se
completamente, no dia 18 de Outubro de 1991, para apreciar pela primeira vez, a
representação de um espectáculo de ópera – “La Serva Padrona ”.
O
patrocínio conjugado da representante da Secretaria de Estado da Cultura no
nosso distrito, Dr.ª Ana Borges e da Câmara Municipal, possibilitou aos
montemorenses, assim como aos moradores de terras limítrofes, ver um
espectáculo que em anos não muito distantes só era possível apreciar em Lisboa. Não faltaram
as abas de grilo…
FAUSTO DE
SOUSA, ENVERGOU A CAMISOLA DAS QUINAS – A Selecção Portuguesa de
Juniores de Rugby ascendeu em 1996 ao “Grupo A” da Taça Fira – Federação
Internacional de Rugby Amador.
Na
final do “Grupo B”, que dava acesso ao ambicionado “Grupo A”, em jogo disputado
na cidade italiana de Bréscia, Portugal derrotou a Polónia por 34 – 14.
Até
chegar à final, a Equipa Portuguesa eliminou as equipas da Alemanha e da
República Checa.
De
salientar que na Equipa Nacional, actuou em todos os jogos, o jovem
montemorense Fausto de Sousa, atleta do Rugby Clube de Montemor. Tornou-se
assim, no primeiro atleta deste clube, a representar Portugal.
Em
1972, vinte e quatro anos antes, já outro montemorense vestira a camisola das
quinas nesta modalidade. A honra pertence ao carismático Manuel Duarte, na
altura, atleta da Escola de Regentes Agrícolas de Évora, que em Coimbra, e em
jogo particular, defrontou a Espanha.
Augusto Mesquita
In “Folha de Montemor” – Julho 2015 – Transcrição autorizada pelo Autor
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