terça-feira, 5 de maio de 2015

CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA DIANA/FM

                                         Cláudia Sousa Pereira - Erasmus

Terça, 05 Maio 201
Por esta altura um pouco por todas a cidades universitárias, ou até mesmo só cidades com universidades desta Europa, os estudantes que querem, podem e fizeram por isso estão a saber para que outra universidade, noutro país europeu, irão estudar no próximo ano lectivo, durante o ano inteiro ou só num dos semestres.
Este programa europeu, financiado por fundos para os quais todos os contribuintes europeus participam, foi talvez das primeiras iniciativas da União Europeia para que esta união passasse da ideia, que muitos dela fazem, de que apenas existe para acordos económicos e envolvesse de facto cidadãos que pudessem considerar a Europa um território a que pertencem, como muitos sentirão em relação ao seu país.
Estabelecido em 1987, foi afinal um programa de apoio interuniversitário de mobilidade de estudantes que veio dar ainda um maior sentido à Declaração de Bolonha, assinada a19 de junho de 1999, e que desencadeou o denominado Processo de Bolonha. Um documento conjunto que alargou o espaço europeu para lá dessa União, já que foi assinado pelos Ministros da Educação de 29 países europeus, reunidos na cidade italiana de Bolonha.
O programa Erasmus tem o nome do filósofo holandês, Erasmo de Roterdão que, no seu percurso intelectual de combate ao dogmatismo, viveu e trabalhou em vários locais da Europa para expandir o seu conhecimento e ganhar novos conhecimentos. Erasmo optou por levar uma vida de académico independente quer de um país, quer de laços académicos ou de lealdade religiosa e de tudo que pudesse interferir com a sua liberdade intelectual e a sua expressão literária. É que quem sai do seu lugar para partilhar com os de outros lugares o que lá aprendeu, quem volta a esse lugar de origem ou vai tendo destinos vários, acaba sempre por levar e trazer mais alguma coisa a esses lugares. Desinquieta-se o corpo em movimento, inquieta-se o espírito que, à partida, fica mais crítico porque mais aberto ao outro, que tem quase tanto de mesmo como de diferente.
Aquele que empreende um tal programa predispõe-se a enfrentar o incerto. Quando o filósofo Erasmo morou em Lovaina foi alvo de muitas críticas mesquinhas por parte dos que se sentiam incomodados pelo questionamento dos seus dogmas, o que equivale a dizer que Erasmo lançou a dúvida sobre os que apregoavam convicções inquestionáveis, uma verdade absoluta e que devia ser ensinada com autoridade. Estes eram gente douta pelo que conheciam do saber transmitido sem inquietações, mas hostil aos princípios do progresso a que Erasmo devotou a sua vida. Procurou então refúgio em Basileia, onde se estabeleceu e acabou por morrer, recebendo a visita de muitos admiradores de vários cantos da Europa. Resumindo, um homem que circulou e fez circular gente nesta Europa para arejar mentes e construir os espíritos humanos predispostos a abrirem-se.
Já agora acrescentar que E.R.A.S.M.U.S. é também uma sigla para European Region Action Scheme for the Mobility of University Students, em portuguêsSistema de Acção Regional Europeia para a Mobilidade de Estudantes Universitários. Aos que estão a preparar as malas para embarcarem nesta aventura também do Conhecimento, só posso desejar que seja tão profícuo como a experiência que eu própria tive em Bordéus, França, há 26 anos e que me permitiu, já que nunca tinha saído de casa para estudar, ganhar o gosto para ter a bagagem de me adaptar aos outros, noutros lugares e com outros costumes, disposta a contrariar dogmas que é, afinal, questionar para aprender.

Cláudia Sousa Pereira

Sem comentários: