Terça, 05 Maio 201
Por esta altura um
pouco por todas a cidades universitárias, ou até mesmo só cidades com
universidades desta Europa, os estudantes que querem, podem e fizeram por isso
estão a saber para que outra universidade, noutro país europeu, irão estudar no
próximo ano lectivo, durante o ano inteiro ou só num dos semestres.
Este programa europeu, financiado por
fundos para os quais todos os contribuintes europeus participam, foi talvez das
primeiras iniciativas da União Europeia para que esta união passasse da ideia,
que muitos dela fazem, de que apenas existe para acordos económicos e
envolvesse de facto cidadãos que pudessem considerar a Europa um território a
que pertencem, como muitos sentirão em relação ao seu país.
Estabelecido em 1987,
foi afinal um programa de apoio interuniversitário de mobilidade de estudantes
que veio dar ainda um maior sentido à Declaração de Bolonha, assinada a19 de
junho de 1999, e que desencadeou o denominado Processo de Bolonha. Um documento
conjunto que alargou o espaço europeu para lá dessa União, já que foi assinado
pelos Ministros da Educação de 29 países europeus, reunidos na cidade italiana
de Bolonha.
O programa Erasmus tem
o nome do filósofo holandês, Erasmo de Roterdão que, no seu percurso
intelectual de combate ao dogmatismo, viveu e trabalhou em vários locais da
Europa para expandir o seu conhecimento e ganhar novos conhecimentos. Erasmo
optou por levar uma vida de académico independente quer de um país, quer de
laços académicos ou de lealdade religiosa e de tudo que pudesse interferir com
a sua liberdade intelectual e a sua expressão literária. É que quem sai do seu
lugar para partilhar com os de outros lugares o que lá aprendeu, quem volta a
esse lugar de origem ou vai tendo destinos vários, acaba sempre por levar e
trazer mais alguma coisa a esses lugares. Desinquieta-se o corpo em movimento,
inquieta-se o espírito que, à partida, fica mais crítico porque mais aberto ao
outro, que tem quase tanto de mesmo como de diferente.
Aquele que empreende
um tal programa predispõe-se a enfrentar o incerto. Quando o filósofo Erasmo
morou em Lovaina foi alvo de muitas críticas mesquinhas por parte dos que se
sentiam incomodados pelo questionamento dos seus dogmas, o que equivale a dizer
que Erasmo lançou a dúvida sobre os que apregoavam convicções inquestionáveis,
uma verdade absoluta e que devia ser ensinada com autoridade. Estes eram gente
douta pelo que conheciam do saber transmitido sem inquietações, mas hostil aos
princípios do progresso a que Erasmo devotou a sua vida. Procurou então refúgio
em Basileia, onde se estabeleceu e acabou por morrer, recebendo a visita de
muitos admiradores de vários cantos da Europa. Resumindo, um homem que circulou
e fez circular gente nesta Europa para arejar mentes e construir os espíritos
humanos predispostos a abrirem-se.
Já agora acrescentar
que E.R.A.S.M.U.S. é também uma sigla para European Region Action
Scheme for the Mobility of University Students, em portuguêsSistema de
Acção Regional Europeia para a Mobilidade de Estudantes Universitários. Aos
que estão a preparar as malas para embarcarem nesta aventura também do
Conhecimento, só posso desejar que seja tão profícuo como a experiência que eu
própria tive em Bordéus, França, há 26 anos e que me permitiu, já que nunca
tinha saído de casa para estudar, ganhar o gosto para ter a bagagem de me
adaptar aos outros, noutros lugares e com outros costumes, disposta a
contrariar dogmas que é, afinal, questionar para aprender.
Cláudia Sousa Pereira
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