quinta-feira, 19 de março de 2015

VASCULHAR O PASSADO - Uma rubrica mensal do Augusto Mesquita

            Ensino Pré-Escolar - A escola em forma de dado foi                                                    inaugurada há 25 anos


 Em 1900 a situação do país era caracterizada por uma elevada taxa de analfabetismo. Numa população de 5.423.132 portugueses, 4.261.336 não sabiam ler. Esta era uma situação intolerável. A necessidade de uma mudança deste panorama ficou bem expressa nas palavras de João de Deus que afirmava ser necessário derramar a plenos jorros a luz do alfabeto, pois o homem que não sabe ler é um bárbaro. Em 1901, foram introduzidas reformas no ensino primário que introduziam importantes alterações estruturais no sistema educativo. Pretendia-se que o ensino primário passasse a ser obrigatório para as crianças dos dois sexos, de idades compreendidas entre os seis e os doze anos. A grande inovação desta reforma previa a criação do ensino infantil, a ser frequentado por crianças entre os quatro e os seis anos. Constituiu-se assim, o primeiro modelo de ensino pré-escolar em Portugal. Refira-se no entanto, que na reforma de João Franco, de 1894, já se tivesse determinado que poderiam ser estabelecidas classes infantis em Lisboa e no Porto, assim como noutras povoações importantes.
Mas, só após a implantação da República, em 2 de Abril de 1911 foi instalado na cidade de Coimbra o Jardim-Escola João de Deus, primeiro estabelecimento de ensino em Portugal dedicado ao ensino pré-primário.
A educação infantil, educação pré-escolar ou educação pré-primária consiste na educação das crianças antes da sua entrada no ensino obrigatório. É ministrada normalmente no período compreendido entre os zero e os seis anos de idade de uma criança.
De acordo com a Lei de Bases do Sistema Educativo, são seus objectivos, estimular as capacidades de cada criança e favorecer a sua formação e o desenvolvimento equilibrado de todas as suas potencialidades, contribuir para a estabilidade e segurança afectivas da criança, favorecer a observação e a compreensão do meio natural e humano para melhor integração e participação da criança, desenvolver a formação moral da criança e o sentido da responsabilidade, associado ao da liberdade, fomentar a integração da criança com grupos sociais diversos, complementares da família, tendo em vista o desenvolvimento da sociabilidade, desenvolver as capacidades de expressão e comunicação da criança, assim como a imaginação criativa, e estimular a actividade lúdica, incutir hábitos de higiene e de defesa da saúde pessoal e colectiva e proceder à despistagem de inadaptações, deficiências ou precocidades e promover a melhor orientação e encaminhamento da criança.
A educação infantil ou pré-escolar é ministrada em estabelecimentos educativos de vários tipos, como berçários, creches, pré-escolas, jardins-de-infância, infantários ou jardins-escola.
A rede de educação pré-escolar é constituída por instituições próprias, de iniciativa da administração central, regional ou local, e de outras entidades, colectivas ou individuais, designadamente associações de pais e de moradores, organizações cívicas e confessionais, organizações sindicais e de empresas e instituições de solidariedade social.
Em Montemor-o-Novo, com acção empenhada da Câmara Municipal, foi criado, no início da década de 80, muito antes da institucionalização de educação pré-escolar (Lei n.º 46/86 de 14 de Outubro), o Jardim-de-Infância de S. Mateus, pioneiro no concelho. Seguiram-se-lhe os Jardins-de-Infância da cidade, estendendo-se progressivamente a rede a quase todo o concelho.
No início do ano de 1988 o município incumbiu o Gabinete de Projectos Municipais de elaborar um estudo prévio para instalação da pré-primária que se encontrava a funcionar nas instalações do Convento de S. João de Deus. Em reunião realizada no dia 9 de Junho desse ano, o executivo presidido por Fernando Cruz aprovou por unanimidade o projecto apresentado. Da sua memória descritiva, transcrevo alguns trechos:
                ANTECEDENTES - O estudo prévio que se apresenta à apreciação, é uma solução possível, tendo em conta as áreas previstas pela Direcção Geral de Equipamento, e os terrenos municipais disponíveis para o ensino pré-primário.
            CONDICIONANTES DO LOCAL - O terreno escolhido, encontra-se dentro do aglomerado urbano, e próximo da Escola Primária n.º 3. Confronta a norte com o logradouro de edifícios de habitação, a nascente com o terreno de José Manuel dos Santos Bibe, a sul com a Rua Comandante Fragoso, e a poente com o terreno de Dr. Vicente Silva. É um terreno com fraca inclinação, dividido sensivelmente ao meio por uma serventia (caminho pedonal), que faz a ligação entre o terreno e a Av. Gago Coutinho. Área do terreno – 900,00 m2.
            PROPOSTA – A proposta, combina a construção tradicional dos anos 40, presentes nas Escolas Primárias, com a simbólica infantil, representada num “dado de jogo gigante”.
            Área coberta – 288,02 m2; Área útil – 277,30 m2; Alpendre – 18,80 m2; Vestíbulo de entrada – 22,80 m2; Duas salas de actividades – 66,80 m2 (cada); Gabinete de Educadoras -  14,70 m2; Polivalente – 38,60 m2; Arrecadação de material – 1,85 m2; Arrecadação de material didáctico (2) – uma com 3,50 m2, e outra com 5,90 m2; Vestiário – 10,00 m2; Instalação sanitária/adultos – 4,25 m2; Instalações sanitárias/crianças – 10,25 m2; Cozinha – 10,85 m2 e Despensa – 2.20 m2.
            O estabelecimento de ensino destina-se a crianças dos 3 aos 6 anos de idade e tem capacidade para 50 crianças.
            Todo o espaço exterior será objecto de arranjo paisagístico, com a inclusão de uma zona de recreio e de um parque infantil.
            SOLUÇÃO CONSTRUTIVA Estruturas em betão armado e pré esforçado; cobertura em telha lusa (duas águas) e terraço (4 pendentes); paredes em alvenaria de tijolo furado; soleiras e peitorais em mármore branco; portas e janelas em caixilharia de madeira e ferro fundido; alisares e rodapés em argamassa de cal hidráulica; Pavimentos e revestimentos a estudar no projecto de execução.
            ESTIMATIVA ORÇAMENTAL – Prevê-se um custo de 8 600 000$00 para o edifício a construir.
            Não se encontra contemplado no orçamento, os arranjos exteriores, assim como as infra-estruturas a construir.
            INAUGURAÇÃO - No dia 11 de Março de 1990, foi inaugurado o novo edifício da pré-primária na Rua Comandante Fragoso. O investimento da responsabilidade da Câmara Municipal custou 17.000 contos, recebendo desde logo 50 crianças.
            Projectado pela arquitecta Maria da Conceição Fernandes (“Xum” para os amigos”), este edifício, projectado em forma de dado com quatro lados, foi o primeiro a ser construído de raiz no concelho de Montemor-o-Novo.
            REDE NACIONAL DE ESTABELECIMENTOS DE EDUCAÇÃO PRÉ_ESCOLAR - De acordo com um estudo, realizado pela Casa da Leitura, da Fundação Calouste Gulbenkian, o ano de 1997, pode-se dizer, foi um momento chave na educação pré-escolar portuguesa: criou-se uma rede nacional de estabelecimentos de educação pré-escolar (ou jardins de infância), passando a educação nesses anos prévios à escolaridade básica a ser também da responsabilidade do Estado. Visava-se, assim, garantir igualdade de acesso à educação a todas as crianças (Decreto-Lei n.º 147/97), enfatizando-se a necessidade de cada uma usufruir de um desenvolvimento social e pessoal equilibrado. No mesmo ano, foi dada orientação oficial acerca das características físicas dos jardins-de-infância: qualidade estética, recursos múltiplos e materiais naturais. A educação pré-escolar foi oficialmente definida como o lugar de desenvolvimento de atitudes e de aprendizagem da linguagem, de expressão artística e de um conhecimento geral do mundo. A partir deste momento, outras medidas importantes para melhorar o ensino pré-escolar foram tomadas. De entre elas, destaca-se, em 2001, a exigência do grau universitário para todos os educadores de infância, à semelhança do que acontecia já com os professores de todos os outros graus de ensino.
A evolução observada depois do 25 de Abril deve ser considerada muito positiva. Mas, muito ainda há por fazer, para que Portugal atinja os índices educativos dos países mais desenvolvidos da Europa.
           
                SOLIDARIEDADE Aproveito este artigo, para manifestar o meu apoio e solidariedade, à justa luta dos professores em torno da defesa de uma carreira e da estabilidade profissional, e que ultimamente, tão mal tratados têm sido pelo Ministério da Educação. Pôr em dúvida, uma licenciatura, um mestrado, ou um doutoramento, é pôr em dúvida a seriedade do funcionamento do ensino superior.
            Professor, é uma profissão indispensável, porque as demais, dependem dela! Não mereciam ser tratados desta maneira, por um ministro, que também é professor…
            Mas, num futuro breve, também ele, vai ser avaliado!!!

Augusto Mesquita      
Publicado in Folha de Montemor, edição março 2015. Publicado com autorização do Autor


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