terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

HABITUAL TRANSCRIÇÃO DA CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA NA DIANA/FM

                                                        Readers’digest

Terça, 10 Fevereiro 2015 09:12
Vou falar-vos de leitura. Lembrei-me para tal de uma publicação mundialmente famosa, e lembrei-a mais até pelo título e pelo jogo de palavras que me permitia depois de ter assistido a uma seleta sessão de leitura. Falo da Readers’Digest, mais conhecida pela versão brasileira de Seleções.
A revistinha começou a ser publicada em 1922, quando o seu fundador, DeWitt Wallace, se recuperou dos ferimentos da Guerra. Durante a convalescença, este americano teve a ideia de editar uma publicação que fosse uma seleção dos melhores e mais úteis artigos dispersos já editados. A intenção era educar e estimular a leitura, com assuntos leves e informativos. Um dos objetivos na América do Sul e alguns países europeus como Portugal e Espanha, pois acabou por ser traduzida para 35 línguas e distribuída em 120 países, foi difundir a literatura norte-americana. Inclui até hoje, e apesar das enormes dificuldades pela provável concorrência da Internet, temas de saúde, anedotas, curiosidades, biografias diversas. Uma das secções da revista é o Livro do Mês que traz de forma condensada um livro atual, um estímulo à leitura de diversos géneros da literatura contemporânea.
Entre as elites intelectuais, ou que assim se batizam, ler as Seleções sempre foi sinónimo de superficialidade e pouco investimento no conhecimento a sério, esquecendo muitas vezes nesta questão pelo menos dois pontos importantes: o primeiro é de que quem lia as Seleções adquiria o hábito de leitura semelhante à dos que a praticam com periódicos; segundo, que nem todo o cidadão almeja ser especialista numa determinada área do Conhecimento, mas que mostrar interesse pelo que se vai passando nesse controverso e sempre mutável mundo da Ciência, em qualquer dos seus ramos, pode querer ser acompanhado por leigos no assunto. Quem lia, e talvez ainda leia, as Seleções, ainda que o faça em modo de leitor fervoroso e incondicional, não será à partida um especialista em coisa nenhuma se por ali se ficar. Mas ficará seguramente muito mais desperto para o Conhecimento do que quem não o faça, nem ficará distante de quem leve os dias a ouvir e a ver alguns programas que nos chegam através da televisão. Resumindo: as Seleções são, de uma forma intelectualmente honesta, uma revista de divulgação generalista, tal como alguns canais da TV por cabo. Não confere grau de nada, mas apouca-la também não engrandece quem o faz, muito embora muitas vezes o que se apouque é quem acha que, por ter lido as Seleções, é especialista em generalidades. Mas disso há muito em todo o lado, e em todos os níveis, e sem nunca terem pegado na Readers Digest.
Ora, neste sábado que passou, assisti na Fundação Calouste Gulbenkian a um extraordinário espetáculo de leitura de literatura em voz alta. Não era uma peça de teatro e, no entanto, havia uma encenação cuidada. Não foi um espetáculo de amadores, no sentido de que aquilo que se faz seja uma atividade secundária aos restantes afazeres, porque os intérpretes tinham a leitura e os textos como uma prática e elementos obrigatórios na sua vida. As leitoras e leitores que ali estiveram, durante 45 minutos, tinham entre 13 e 17 anos e eram os 10 finalistas de um concurso promovido por aquela Fundação intitulado «Dá Voz à Letra». Foi de facto uma distinta “seleção de leitores” que ali tivemos, com uma seleção de textos que também nós, os espectadores, podíamos seguir, lendo. Tudo muito bem feito, do princípio ao fim. E aqueles miúdos deram uma lição sobre como a leitura é a primeira interpretação que fazemos de um texto, e de como quando essa leitura é em voz alta se revela logo, a quem ouve, qual a interpretação feita desse texto lido. E como isto é de uma importância muito maior do que se imagina. Pensem nisso!

Claudia Sousa Pereira

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