quinta-feira, 6 de novembro de 2014

HABITUAL CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA NA DIANA/FM

                                 A magia do cinema

Quinta, 06 Novembro 2014 09:29
Depois de termos, de novo, o festival internacional de curtas, tivemos a oportunidade de ver a versão integral de “Os Mais”, do realizador João Botelho.
O teatro cheio, o realizador presente para enquadrar a obra e para nos explicar o jogo de luz e sombra que é a representação da vida na grande tela.
Houve silêncio, escuridão, ausência de pipocas. Houve risos e gargalhadas e o relembrar do humor corrosivo do Eça na descrição da sociedade da sua época, que poderia facilmente ser a nossa época.
Foi bom rever o senhor Afonso da Maia, a Gouvarinho, o Vilaça, o Carlos Eduardo, a Maria Eduarda e todos aqueles com quem nos cruzamos todos os dias, como o Dâmaso Salcede, escroque encartado que conhecemos do nosso dia-a-dia, poço de veneno sempre pronto a cuspir a bílis de forma anónima, enquanto assina os elogios mais rasgados a sua excelência.
Deliciámo-nos com a figura do Ega, recriada pelo realizador nos seus traços mais vincados. Sempre foi o meu personagem preferido daquela obra de Eça de Queirós. Gosto de heróis improváveis, cínicos, com sentido de humor e de moralidade duvidosa.
Foram três horas que passaram sem cansaço, como se o cinema fosse uma novidade acabadinha de chegar para nos fascinar com o tal jogo de luz e sombras, de optimismo e pessimismo, como o realizador o descreveu.
Ao intervalo as conversas cruzadas reflectiam o prazer com que aqueles espectadores estavam a usufruir daquela noite de cinema.
No final do filme as pessoas não saíram apressadas, virando as costas às letras que passam e identificam actores, actrizes, realizador, banda sonora… ficaram e bateram palmas.
A última vez que vi alguém bater palmas no final de um filme foi há 40 anos, num dia 7 de Novembro, numa sessão comemorativa da Revolução de Outubro. O filme era o Couraçado de Potemkin de Serguei Eisenstein.
A ausência de salas de cinema comercial em Évora talvez tenha potenciado o sucesso de uma apresentação única de um filme português, sobre um romance escrito em português.
Seja como for, o facto de Évora ter recebido a primeira projecção de “Os Maias”, fora do circuito comercial, e dela ter acontecido num local com a beleza do Teatro Garcia de Resende, deu aquela sessão um brilho único e tornando-a num momento mágico.
“Fora de Lisboa não há nada. O país está entre a Arcada e S. Bento”, gritava o João da Ega.
Meu caro Ega, o menino está enganado.
 Até para a semana
Eduardo Luciano


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