Fado da açorda
É outono, ouço chamar:
vai aos coentros à horta
e ao lagar vai ao azeite
vê-se o rancho a vindimar
porcos a comer bolota
e ovelhas a dar leite
e ao lagar vai ao azeite
vê-se o rancho a vindimar
porcos a comer bolota
e ovelhas a dar leite
E nas margens da ribeira
esperam belos poejos
venha um cesto de figos
e uma tijela da feira
da baralha venham queijos
venham de lá meus amigos
esperam belos poejos
venha um cesto de figos
e uma tijela da feira
da baralha venham queijos
venham de lá meus amigos
E no monte ou na aldeia
come-se uma açorda de alho
bebe-se água da fonte
e à luz de uma candeia
corre o rancho do trabalho
pró aconchego do monte
come-se uma açorda de alho
bebe-se água da fonte
e à luz de uma candeia
corre o rancho do trabalho
pró aconchego do monte
Vítor Pisco
29/09/2012
29/09/2012
Laivos
de cidade grande
A cidade mudou
E trouxe com ela a chuva de outono,
O romper da madrugada,
As folhas secas no chão,
O cheiro a terra e a pão.
As folhas secas no chão,
O cheiro a terra e a pão.
O canto do galo afina por
entre as luzes e sons
Com o brilho dos semáforos
Intermitentes na aurora molhada.
Com o brilho dos semáforos
Intermitentes na aurora molhada.
Sente-se o contraste entre
vila e cidade ….
Mas o mais forte é o cheiro
a pão que persistiu
e é genuíno como um novo amanhecer,
como a história das pedras,
como as raízes,
como as oliveiras mouriscas,
como o cheiro a cal da parede depois de batida no pote.
e é genuíno como um novo amanhecer,
como a história das pedras,
como as raízes,
como as oliveiras mouriscas,
como o cheiro a cal da parede depois de batida no pote.
Não se vê uma carroça,
se as há são por vaidade ou para servir aos turistas
como os chapéus e capotes outrora até desprezados
hoje servindo de identidade a um povo,
que trabalhou duro a terra, mondada, ceifada
depois o trigo moído nos velhos moinhos
rodando ao vento, ou movidos água.
Por isso persiste o cheiro a pão.
se as há são por vaidade ou para servir aos turistas
como os chapéus e capotes outrora até desprezados
hoje servindo de identidade a um povo,
que trabalhou duro a terra, mondada, ceifada
depois o trigo moído nos velhos moinhos
rodando ao vento, ou movidos água.
Por isso persiste o cheiro a pão.
Os automóveis circulam,
dando à terra laivos de cidade grande.
dando à terra laivos de cidade grande.
Vítor
Pisco
09/10/2014
09/10/2014
SUBI AO ALTO DA
MONTANHA
Subi ao alto da montanha
Sucumbindo
de tristeza,
Dos
meus olhos caíam lágrimas
Falei
com a alma mais estranha
E
contei-lhe as minhas mágoas
Ignorou
o que contei
E
eu sentida mais chorava
Tinha
o mundo a meus pés
Mas
o mundo não enxergava
Cansada
da indiferença
Vi
um esplendor de beleza
Estava
só em mim suspensa
E
quis superar toda a tristeza
Mas
vi tanto desalento
uma
infinita demência
Gente
pobre sem sustento
E
em delírios a ganância
Atropelos,
muita vaidade
Gente
que está de partida
desolada,
desprotegida
Sem
nenhuma alternativa
Ouvi!
Que nasçam crianças!
Enquanto
açoitavam os pais
E
vi muitas de mudança
E
eram pequenas demais!
Vi
quem tinha vida estável
Uma
família, um teto
E
quem sem dó irreparável
Separa
os membros afetos
Subi
ao alto da montanha
Sucumbindo
de tristeza
E
vi tanta coisa estranha
Só
me alegrou a natureza.
Maria
Antonieta Matos 05-10-2014
Desenho Costa Araújo
Desenho Costa Araújo
DESOLADA
Desolada, faltam-me argumentos!
Inquietam-se
os nervos, sinto ansiedade,
A
memória não chega ao pensamento,
E
eis um vazio... um querer sem vontade!
No
escuro procuro ... agito os sentidos,
Interiorizo
a biblioteca, desorganizada
E
acendem-se as luzes, soltam-se fluidos,
Rasgando
as fronteiras do nada.
Emerge
a escrita nesta invenção,
Sentimentos
de alma e coração,
Eternizando
o cântico, em tudo ou nada.
Os
palcos dão a expressão e entusiasmo,
Com
lucidez, humor ou sarcasmo,
Provocadores
de tristeza ou risada.
Maria
Antoniet10a Matos 11--2014
Pintura
de Costa Araújo
1 comentário:
Sempre incisiva,oportuna,actual e acima de tudo, transpirando uma beleza interior...Obrigado !!!
Manel Augusto
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