Quinta, 02 Outubro 2014
12:40
Terminou o esperado processo de
substituição do líder do PS. Desta vez a coisa processou-se através de eleições
em que os candidatos construíram o caderno eleitoral acabando por ganhar aquele
que foi inventando uma imagem de novidade, de caminho de mudança, que soube
colocar a máquina de construir nevoeiro a funcionar para que dela saísse o
próximo Sebastião.
Dos debates, das intervenções, daquilo que os
apoiantes foram dizendo, resultou o esperado vazio de diferenças programáticas,
de caminhos alternativos ou de mudanças de rumo para o PS.
O vencedor fez o que outros vencedores
fizeram quando se perfilaram para assumir o poder, apresentando-se como o homem
que vai colocar o partido à esquerda.
Basta recordarmos as narrativas
construídas por todos os ex secretários-gerais no caminho que os levou ao cargo
de primeiro-ministro. Eram sempre mais de esquerda que os seus predecessores e
iam sempre construir uma verdadeira alternativa às políticas da direita.
Com este novo líder acontece exactamente
o mesmo e está criada a aura do homem que finalmente vai fazer a diferença,
embora ninguém saiba onde nem em quê. Do lado do vencedor, a fabricar o
nevoeiro para o desejado, lá estavam todos os que antes prometeram que a
esquerda eram eles. Almeida Santos, Manuel Alegre, Ferro Rodrigues, Mário
Soares, José Sócrates, Capoulas Santos e muitos outros.
O clima emotivo está montado e é preciso
apelar à racionalidade para que daqui a dois anos não estejam os mesmos de
sempre a sentirem-se desiludidos e a dizerem que foram de novo enganados.
Que irá o novo líder fazer ou propor de
novo, de ruptura com a política de direita? Alguma coisa que não tenha tido
oportunidade de propor enquanto ministro de Sócrates ou de Guterres?
Virará o partido à esquerda como não
fizeram os seus mais ilustres apoiantes, ou fará o que François Hollande fez
com a esperança dos iludidos franceses (e muito europeus)?
Exigirá renegociação da dívida ou irá
ficar-se pelo discurso dúbio que o PS tem tido sem conseguir resolver a
contradição de estar na prática amarrado ao compromisso que assinou com a
troika enquanto vai vendendo ilusões em sentido contrário?
Regressará à política de educação de
Maria de Lurdes Rodrigues e Sócrates ou romperá com a lógica de destruição de
escola pública que os governos do PS e do PSD têm implementado à vez?
Poderíamos continuar, sector a sector, a
questionar qual o caminho que o “novo” PS irá seguir, mas, no fundo, a pergunta
que se coloca é apenas uma: será que ainda se lembram em que gaveta é que
Soares fechou o socialismo?
Alguém me dizia: “este parece ser mais
de esquerda que os outros”. Quando perguntei porquê, respondeu: “não sei…
parece-me”.
Benditos nevoeiros que tantos desejados
produzem.
Até para a semana
Eduardo Luciano
2 comentários:
Eduardo Luciano parece esquecer que foi o Soares quem fechou o Socialismo na gaveta??Ou é mais um dos que tudo culpa o Sócrates??? Memória curta ?? Investigue.
Anónimo de 03 Outubro, 2014 01:15 comenta sem ao menos ler os artigos... Coitado. Veja o que está lá escrito.
"a pergunta que se coloca é apenas uma: será que ainda se lembram em que gaveta é que Soares fechou o socialismo?"
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