Terça, 07 Outubro 2014
10:55
O suspense é um artifício engraçado.
Normalmente associamo-lo ao cinema, mas de uma maneira geral acontece com a
ficção e depende de um enredo, pelo que também o há nos livros. É uma palavra
de origem inglesa que, curiosamente, ouvimos muitos mais portugueses a
pronunciar “à francesa”, o que me acontece a mim também. É uma situação que, no
momento em que está prestes a desaparecer, acompanhamos com uma espécie de
banda sonora - “tcham, tcham, tcham, tcham!” – que nos filmes tem também uma
música muito própria e que, se desligarmos o som, lhe aligeira bastante o
impacto.
É vulgar que o suspense sirva para fazer demorar um desfecho
imprevisível. E é por isso que muitas vezes ouvimos dizer, fora das páginas ou
dos ecrãs, que se fez suspense sobre um determinado assunto com o significado
de criar uma expetativa interessada. O suspense é assim uma espécie de técnica
propagandística em que a omissão de detalhes e o atraso do desfecho vão
inchando de importância o facto sobre o qual se faz, ou mais frequentemente, sobre
quem o cria. E o que é engraçado é que nem sempre é o próprio a dar a cara pelo
suspense criado sobre si, havendo por vezes uma espécie de “guarda avançada”
que se encarrega de o fazer. Tudo boas encenações, claro! Fico até convencida
que há por aí muitos comentadores que têm esse posto fixo na tal guarda
avançada… Ah! e há também aquela outra prática que não sendo suspense é da
mesma família deste tipo de comportamento, e que é o “fazer caixinha”.
Por outro lado, o suspense que circula por aí dá azo ao “diz que
disse”, diferente do boato que é uma mentira e não uma dúvida que circula, mas
que fazem uma dupla que serve bem a desinformação e, como tal, alguns
interesses. Também me parece que as diferentes reações de quem é visado e se
mantém com as atenções voltadas para si por suspenses e boatos dizem bem sobre
si próprios. Boatos ou não-ditos catalisadores de interesses sobre assuntos que
são meramente pessoais, do domínio da privacidade de quem exerce cargos ou tem
visibilidade pública, pouco merecem como resposta, em meu entender, senão o
silêncio. Já quando as incertezas se criam e circulam sobre aspetos do
exercício dessas funções públicas, e se se mantêm em circulação sem explicações
pelos visados, então é porque o assunto não é claro, nem se pretende criar no
espaço público uma relação de confiança na transparência das atitudes e das
posições assumidas.
Enfim, tudo situações que acontecem um pouco por todo o lado e
em todo o Mundo, nacional ou localmente, e que contribuem para uma desconfiança
generalizada e, algumas vezes, injusta, nos políticos e nos que dirigem, por
delegação.
Claudia Sousa Pereira
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