quinta-feira, 9 de outubro de 2014

A CRONICA DE OPINIÃO HOJE TRANSMITIDA NA DIANA/FM

                  Eduardo Luciano - Lições

Quinta, 09 Outubro 2014 16:01
Ontem assisti a uma nova conferência incluída nas Conferências de Cenáculo, organizadas pela Direcção Regional de Cultura, Biblioteca Pública de Évora, Universidade de Évora e Câmara Municipal.
Depois da conferência de abertura de Sisa Vieira, com a sala da Biblioteca Pública lotada, onde se misturou a descrição do processo de construção da Malagueira com a importância da gestão participada do projecto e da forma como foi evoluindo até à proposta final, ainda por acabar, ontem foi a vez do historiador Francisco Contente Domingues abordar a sua visão da obra “Esmeraldo de Situ Orbis”, escrita no início do século XVI por Duarte Pacheco Pereira.
É preciso dizer que uma das duas cópias conhecidas do manuscrito original está guardada na Biblioteca Pública de Évora e esteve ontem exposta ao público pela primeira vez.
Quem não assistiu pode ficar com a ideia de que se tratou de uma conversa para poucos, numa linguagem cifrada, hermética, para catedrático se lambuzar no gozo de se reconhecer como elite.
Nada mais longe da realidade. Durante mais de uma hora assistimos à desconstrução de certezas, ao colocar em causa teses instaladas e tudo isto “contado” como se de história policial se tratasse, no desmontar de pistas que levavam a lugar nenhum, até chegar à proposta de solução final que afinal era apenas mais um pergunta que ainda não tinha resposta.
Pelo meio foi formulando juízos sobre comportamentos, reflectindo em voz alta sobre esta mania dos latinos não aceitarem uma crítica ao seu trabalho sem que entendam que é uma crítica à sua pessoa.
Apesar de achar muito interessante a ideia de que o descobridor não é o que chega primeiro, mas aquele que faz com que a sua descoberta tenha consequências e de achar delicioso que se arrume com uma teoria fazendo umas simples continhas que parece terem escapado a todos, foi a breve reflexão em torno da ideia de que não conseguimos separar o criador da criatura no momento em que somos desafiados a dar opinião sobre uma obra ou a realização de uma simples tarefa, que me deixou em estado de reflexão.
É muito comum ouvirmos gente que andou muitos anos na escola, olhar para uma qualquer proposta analisando não a sua valia intrínseca, mas a sua origem. Se quem propõe não tem um caminho académico ou profissional prestigiado, é certo e sabido que nem sequer é lida ou, se o for, é o preconceito que prevalece.
Andamos por cá a classificar as pessoas e não o que dizem, escrevem ou propõem. Ouvimos dizer demasiadas vezes, “o que é que ele sabe daquilo para estar a opinar” em vez de emitir um juízo crítico sobre a opinião dada. É mais fácil. Assim nem temos que nos dar ao trabalho de pensar sobre a criatura, bastando-nos classificar o criador.
Estava eu ainda a reflectir sobre isto quando alguém pediu a palavra para colocar uma questão ao conferencista, que afinal não era questão nenhuma mas uma reflexão sobre a forma como os novos doutores chegam ao doutoramento.
Pelo meio atirou qualquer coisa como “andam por aí uns sindicalistas idiotas a defenderem…” e esta frase saída boca de um catedrático que estava na assistência veio exactamente ilustrar a tal abordagem que muitos não resistem a ter.
O homem poderia ter dito “andam por aí uns sindicalistas a defender uma solução idiota…” mas preferiu classificar os defensores da solução de idiotas, atribuindo a categoria de idiotice a tudo o que dali venha.
Estive quase para pedir a palavra para dizer “andam por aí uns catedráticos idiotas a afirmar…” mas não o fiz. Pelo menos de forma consciente separarei sempre a criatura do criador.
Fantásticas lições que se aprendem nas Conferências do Cenáculo. Não percam.
 Até para a semana
Eduardo Luciano


3 comentários:

Anónimo disse...

Também poderia ter sido assim: "andam por aí uns catedráticos sindicalistas a dizer...."
Porque nada impede um catedrático de ser sindicalista, nem um sindicalista de ser catedrático.

Anónimo disse...

Em todas as classes há bom e mau, competentes e incompetentes, há de certo catedráticos e sindicalistas de se lhe tirar o chapéu.

Anónimo disse...

Anónimo Anónimo disse...
Em todas as classes há bom e mau, competentes e incompetentes, há de certo catedráticos e sindicalistas de se lhe tirar o chapéu.

10 Outubro, 2014 15:20

E OUTROS QUE NÃO VALEM NADA.