Terça, 30 Setembro 2014 10:28
Há momentos e situações nas nossas vidas
em que nos sentimos outsiders. E há aqueles que fazem disso o seu modo de se
dizerem que estão no mundo e como vivem em sociedade.
É-se outsider ou porque nos fazem, ou porque
procuramos sentir isso mesmo. O outsider pode ser um marginalizado, e aqui com
uma carga negativa que a palavra traduz, mas se assim é, é-o sempre da
perspetiva dos que estão dentro do grupo a que não o deixam pertencer. O
outsider pode também ser um desalinhado, desta feita mais definido pelo lado do
próprio, até com uma espécie de orgulho em ser diferente, de querer remar
contra a maré, e não achar piada a multidões, mais ou menos viradas para o
mesmo lado.
Os dois extremos parecem-me muito
desagradáveis, ora porque é claramente discriminatório, ora porque é impeditivo
de passarmos o tempo que nos cabe nesta vida ao lado de muitas mais coisas do
que as que certas inevitabilidades nos obrigam a passar. Não precisamos de ser
marginalizados nem de gritarmos o nosso desalinhamento para querermos estar de
fora de certas situações. Por outro lado, reconhecer que se está in ou out de
algum grupo é reconhecer-lhe os limites e saber cumpri-los. E é por isso que
nas áreas das ciências humanas e sociais é, por exemplo, tão difícil estudar
algumas religiões e sociedades ou associações de pessoas, algumas tão fechadas
que se dizem secretas. Por outro lado, é inegável que só os membros de certos
grupos possuem, nesse território e assunto, acesso privilegiado ao
conhecimento, aos recursos e à própria autoridade. E que os que estão outside,
isto é, os de fora, pelo mesmo motivo, têm menos ou nenhum acesso.
Neste domingo que passou, em Portugal,
muitos tiveram a oportunidade de exercer um direito que não é dado por todas as
associações de pessoas em torno de ideologias e princípios, e que são neste
caso os partidos. Muitos que não querem, porque não estão interessados em ter
esse acesso privilegiado ao que se passa dentro de um partido, tendo por isso
sobre ele, em princípio e quando se levam as coisas a sério, conhecimento,
recursos e, de certa forma dependendo de circunstâncias várias, autoridade
estatutária (já que a moral não depende deste tipo de limites), muitos puderam
fazer-se ouvir dentro desse partido, aquele com o qual se identificam
politicamente, dando-lhe o voto e até mesmo a cara por ele.
O Partido Socialista fez História no dia
28 de setembro de 2014 no Portugal democrático. E porque é nos princípios deste
Partido que me revejo, fiquei contente com o facto. Senti-me uma outsider
inside que, tendo uma opinião pessoal, não a quis assumir publicamente, porque
quando se votam pessoas e não programas ou propostas, aprendi ao longo da vida,
o voto não é de braço no ar. Lamentavelmente, percebemos com esta primeira
experiência o quanto o debate resvalou para questões de caráter, avaliáveis em
medidas e conhecimento dos envolvidos de forma muito mais difícil, para não
dizer impossível. E até porque, independentemente do resultado, o que me
interessava era que, finda a contenda interna que fica, espero, já no passado,
não se desvirtue no futuro este espírito inovadoramente democrático que
caracteriza o Partido pelo qual, aliás, já por duas vezes fui eleita pelos
cidadãos eborenses.
Como fiquei contente quando alguém de
dentro de um órgão do Partido, que eu não sei, nem precisava de saber, de que
lado das duas propostas que me faziam no boletim de voto estava, me pediu para
colaborar se necessário no processo desse ato histórico, no próprio dia. Os
teóricos da abertura dos Partidos à sociedade, que afinal servem, tiveram a sua
primeira aula prática.
Claudia Sousa Pereira
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