segunda-feira, 29 de setembro de 2014

CRÓNICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA RÁDIO DIANA/FM

                                 Ilusões

Segunda, 29 Setembro 2014 09:52
Decorreram ontem as eleições primárias do PS para escolher o seu candidato a primeiro-ministro. Sobre o processo de chamar os militantes e simpatizantes de um partido a definir o futuro do mesmo, nada tenho a referir.
Mas não deixa de ser incrível que estas eleições tenham servido, essencialmente, para definir a personalidade a candidatar-se e não a definição de qualquer programa político claro para a governação do país.
Estas eleições, que muitos elogiaram como o auge da democracia, apenas agudizaram duas conceções muito pouco democráticas, embora muito populares e populistas. A primeira é a de que o mais importante num partido é o rosto e personalidade do líder, relegando para segundo plano as linhas programáticas. Um conceito tão enraizado que, um dia, virá um qualquer D. Sebastião para salvar o país – um culto de personalidade muito mais típico das monarquias do que das verdadeiras democracias republicanas. A segunda conceção errada, e que cruza com a primeira, é a de que nas legislativas os portugueses votam para o primeiro-ministro. Não! Nas legislativas, os portugueses votam num programa político através da eleição de deputados para a Assembleia da República.
Mas conceções à parte… António Costa ganhou as eleições.
Ao longo das últimas semanas muitas pessoas me questionaram sobre quem era o candidato que eu preferia que ganhasse. Sempre respondi o mesmo: respeito as opções individuais, mas que, para mim, a vitória de um ou outro me era totalmente indiferente. Não porque não revisse diferenças entre os dois, mas porque sei que ninguém faz política sozinho e sem um programa. E só quem não conhece o aparelho do Partido Socialista poderá sonhar com uma inflexão do partido para a esquerda. Acredito que muitos simpatizantes e até militantes acreditam que Costa irá liderar um projecto à esquerda para o país. Confiança cega… puro cheque em branco. Na verdade, Costa nunca respondeu às questões mais relevantes para o futuro do país.
António Costa diz querer governar à esquerda, protegendo o estado social. A resposta da esquerda tem de ser clara e honesta. Não há proteção do estado social sem renegociação da dívida pública e de toda a dívida externa. Não há proteção do estado social sem desvinculação do Tratado Orçamental. Não há proteção do estado social sem uma profunda reforma fiscal e a nacionalização de todos os bens estratégicos. Não há proteção do estado social sem o controlo público da banca. Nem tão pouco há proteção do estado social sem um confronto claro com todas as instituições da União Europeia para garantir verdadeiros mecanismos de solidariedade entre os povos.
Tudo o resto… bem… Tudo o resto é a ilusão que todos já deveríamos conhecer.
Até para a semana.

Bruno Martins

1 comentário:

Anónimo disse...

Boys, boys, boys...