quinta-feira, 21 de agosto de 2014

VASCULHAR O PASSADO - Rubrica mensal de Augusto Mesquita

                   

Os “Quadrilheiros” foram os primeiros agentes de polícia responsáveis pela segurança pública urbana em cada concelho de Portugal, desde a Idade Média até ao século XVIII.
            Os quadrilheiros foram criados pelo Rei D. Fernando I em 12 de Setembro de 1383. Em cada cidade, vila, lugar e respectivos termos, existiria um determinado número de quadrilheiros, que variava de acordo com o número de moradores da povoação. Os quadrilheiros eram escolhidos de entre os moradores locais e nomeados pelos juízes e vereadores reunidos em assembleia, tendo que servir durante um período de três anos como agentes policiais.
            Todos os membros da quadrilha (patrulha) andavam armados com uma lança de 8 palmos (1,76 m). Os quadrilheiros tinham, como insígnia, uma vara verde com as Armas Reais. Os restantes moradores do lugar também eram obrigados a dispor de armas e a auxiliar sempre que necessário.
            Estes primitivos agentes da lei tinham como missão principal a de prender os malfeitores e entregá-los às autoridades judiciais, bem como reprimir a prostituição e os ébrios.
            De salientar que esta força policial não era uma força militar nem militarizada, mas sim completamente civil (tal como hoje a Organização das Nações Unidas defende que devem ser os organismos policiais).
            A instituição dos “Quadrilheiros” entrou em decadência durante o século XVIII.
O cataclismo de 1755, veio acentuar as deficiências de que enfermava a organização, razão porque em 25 de Julho de 1760 foi criada a Intendência Geral de Policia, oficializando-se, deste modo, e desde então, o termo “Polícia”.
            Os quadrilheiros passaram por várias denominações (Intendência Geral de Polícia, Guarda Real da Polícia, Guarda Nacional, Polícia Preventiva, Polícia Civil, e Policia Cívica), até atingirem a designação actual – Polícia de Segurança Pública.
            Na década de 40, existiam apenas dois agentes da PSP em Montemor-o-Novo: o polícia Gato, e o terrível Beja, que era o terror dos miúdos da minha idade, que teimavam jogarem à bola na via pública…
            Com o decorrer do tempo e com o aumento da população da Vila Notável, o efectivo foi aumentando gradualmente, tanto mais, que quando da remodelação dos Paços do Concelho, foi construído um modelar posto para a PSP.
            A Guarda Nacional Republicana é a descendente directa da Guarda Real da Polícia de Lisboa, criada em 1801 e oficializada por Alvará Régio de 2 de Janeiro de 1802, seguindo o modelo da Gendarmerie francesa, que havia sido criada em 1791. De acordo com o regulamento a Guarda deveria ser “formada pelos melhores soldados, escolhidos em todo o Exército, não só entre os mais robustos, firmes, solteiros, e até 30 anos de idade… mas também de boa morigeração e conduta”. Este corpo militar organizado e eficiente viu-se porém envolvido nas Guerras Liberais pela facção Miguelista, razão porque é extinta em 26 de Maio de 1834 logo após a Convenção de Évora Monte.
            No final do referido mês de Maio, o Rei D. Pedro IV extingue as GRP de Lisboa e Porto, criando a Guarda Municipal de Lisboa e a Guarda Municipal do Porto com características idênticas. Em 1868, ambas as Guardas foram colocadas sob um Comando-Geral unificado, instalado no Quartel do Carmo, que ainda hoje é o Quartel-General da GNR. A Guarda Municipal era considerada parte do Exército Português, mas estava dependente do Ministério do Reino para todos os assuntos respeitantes à Segurança Pública.
            Depois do golpe de estado de 5 de Outubro de 1910, o nome da Guarda Municipal de Lisboa e Porto foi alterado para Guarda Republicana de Lisboa e Porto.
            Por decreto de 3 de Maio de 1911 foi criada a Guarda Nacional Republicana, substituindo a Guarda Republicana, pelo que o dia 3 de Maio é considerado o “Dia da Guarda”.
            Através da lei n.º 559 de 6 de Julho de 1916, foi criada uma secção mais da 3.ª Companhia do Batalhão n.º 3 da GNR, com sede em Montemor-o-Novo:
            Lei n.º 559 – Em nome da Nação, o Congresso da República, decreta, e eu promulgo, a lei seguinte:
            Art.º 1.º É criada uma secção mais da 3.ª companhia do batalhão n.º 3 da guarda nacional republicana, com sede na vila de Montemor-o-Novo.
            Art.º 2.º - Fica o Governo autorizado a aumentar o efectivo do referido batalhão, para se executar o disposto no artigo anterior, reforçar alguns postos já existentes e estabelecer sub-postos nas seguintes localidades: Azaruja, S. Mancos, S. Marcos do Campo, Granja, Terena e Cabrela.
            Art.º 3.º - A verba a despender com o aumento do efectivo, a que se referem os artigos anteriores, não poderá exceder, anualmente, a quantia de 12.500$00.
            § único - A verba referida neste artigo, convenientemente discriminada, será já incluída no orçamento para 1916-1917.
            Art.º 4.º - Fica revogada a legislação em contrário.
            Os Ministros do Interior, das Finanças e da Guerra a façam imprimir, publicar e correr. Paços do Concelho da República, 6 de Junho de 1916. – Bernardino Machado – Brás Mouzinho de Albuquerque – Afonso Costa.
            O local escolhido para aquartelar a constituída secção, foi o desactivado Hospício de S. Paulo de Monfurado, um edifício do séc. XVI, situado no Rossio da vila (actual Rua de D. Vasco). Depois de receber as indispensáveis obras de adaptação, o antigo acolhimento transformou-se em Posto da GNR de Montemor-o-Novo no dia 19 de Março de 1918
            Durante anos, foi a PSP que teve a responsabilidade pelo policiamento na zona urbana da Vila Notável, enquanto a GNR era responsável pela segurança de pessoas e bens na área rural do concelho. Em casos pontuais, mais concretamente no policiamento ao Estádio 1.º de Maio, as duas forças de segurança actuavam em conjunto.
            Até que, graças a mais uma infeliz decisão politica de Aníbal Cavaco Silva, apoiada pelo seu Ministro do Interior, Manuel Dias Loureiro, no dia 31 de Agosto de 1994 o posto da PSP de Montemor-o-Novo foi encerrado.
           
            A Câmara Municipal distribuiu o seguinte comunicado:
            GNR substitui PSP na cidade de Montemor-o-Novo

  1. Hoje à meia-noite, em cumprimento de decisão do Governo, a GNR substitui a PSP na missão de policiamento da nossa cidade.
  2. A Câmara Municipal teve conhecimento pelos órgãos de comunicação social da polémica reestruturação das forças de segurança decidida pelo Governo e das eventuais consequências para o concelho dessas alterações. De imediato, tomou a iniciativa de contactar o Ministério da Administração Interna solicitando informação sobre a matéria. Até hoje e apesar de várias insistências, a Câmara não obteve qualquer resposta ou informação daquele ministério.
  3. Face à possibilidade da PSP deixar Montemor-o-Novo, entendeu a Câmara acompanhar atenta e cuidadosamente o processo. A Câmara Municipal definiu como questão essencial que, independentemente da força de segurança em causa, fosse garantido uma melhoria dos actuais níveis de segurança, nomeadamente, a não diminuição de efectivos nem de meios materiais para a segurança dos cidadãos.
  4. A seu pedido, o Presidente da Câmara teve contactos com o Governador Civil de Évora e os Comandos regionais e locais da GNR e da PSP. A Câmara obteve a garantia de que a GNR ao substituir hoje a PSP, dispõe dos meios humanos necessários ao cumprimento da missão de segurança da cidade de Montemor-o-Novo.
  5. Entre a Câmara e o Comando da GNR foram já efectuadas reuniões de trabalho para que a substituição que hoje se concretiza decorra com a indispensável normalidade.
  6. À PSP e aos seus agentes em Montemor-o-Novo, a Câmara cumprimenta pelo desempenho demonstrado e faz votos de felicidade para futuras missões. A Câmara está certa que a GNR saberá cumprir cabalmente a missão que agora assume e para a qual deseja iguais votos de felicidade.
  7. Aos montemorenses apelamos para que, com serenidade, continuem a demonstrar o seu elevado civismo e a pugnar pela segurança e ordem democráticas que reconhecemos como valor da Liberdade.
Montemor-o-Novo, 31 de Agosto de 1994
A Câmara Municipal

      Para a história, fica registado que o último polícia a chefiar a esquadra da PSP de Montemor-o-Novo, foi o Chefe Paixão, que actualmente se encontra colocado em Évora, e que o militar responsável pelo Posto da GNR, que passou também a patrulhar a cidade, foi o Capitão Jacob, que presentemente se encontra na reserva, com a patente de Coronel.

 Agosto/2014 Augusto Mesquita 

Publicado na Folha de Montemor - Agosto 2014 - transcrito com a devida autorização do Autor.





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