quarta-feira, 13 de agosto de 2014

PANO CRU - Rubrica do A.N.B.

i)
Nós aqui, no Al tejo, temos sempre o cuidado de pensar que não é porque Ricardo Salgado caiu com estrondo internacional, dando origem a uma falência interna boa e as outras tantas externas más que acreditamos que em Portugal tudo mudou, ou irá mudar. Nada disso.
O futuro não põe limites à “Resolução das roubalheiras institucionalisadas”.
A corrupção instalou-se, e tanto é nacional como é local. Vai permanecer e aumentar porque ´”os reis e rainhas”  que dela se servem apenas parecem ir nus. Não vão e a questão é bastante mais complicada e funda: é de ordem ética e moral!
Os vícios especulativos do “sistema financeiro” continuam vigentes, e têm seguidores gananciosos. Por  isso, e como estamos em tempo de férias e de uma certa descontracção estival, vamos apenas lembrar que, se há coisas que o Al tejo continua a fazer bem, é separar o trigo do joio, estando sempre aberto a intervenções com as mais diversas perspectivas temáticas de  diferente natureza.
Como é o caso deste escrito em “duro pano cru”, entre os calores frios deste chuvoso e incerto Agosto do nosso descontentamento.
ii)
Vamos pois comparar e pôr rapidamente em destaque - imagine-se – personagens e actores  políticos nacionais de grande porte que marcaram o nosso atribulado século XX.
Como foi o caso de Salazar, de Marcelo Caetano (até 1974) e de Sá Carneiro, Mário Soares e Álvaro Cunhal, nas decadas seguintes. Isto para que no fim possamos tirar algumas pequenas ilações visíveis e aplicaveis ao Alandroal.
Olhemos.
Fisicamente Salazar não tinha nada de atraente, era de nariz aduncado, teve várias amantes atraentes, nunca usou camisas azuis, castanhas ou pretas… Andava da chapéu, recusou andar de avião e usava botas vulgares. Temia Franco, desconfiou de Mussolini, borrava-se, à distância, com os  delírios maníacos de Hitler.
Era um fraco orador, tinha uma voz débil e um estilo de seminarista de província, com fortes influências do seu grande amigo Cardeal Cerejeira,um bom interprete de Chopin. Para além disso, governava através de “Notas oficiosas” e era enquanto “ditador autoritário” dotado de um pragmatismo cínico aterrador e solitário que nem com a sua patria quis casar.
E pronto, durou 48 anos, usando uma retórica politica simples -dizia ele- sem retórica. Uma referência politica em que, aliás, os portugueses gostam de se rever e acreditar. A  crer nas quase 200 galinhas  poedeiras de  D. Maria em S.Bento.
Seguiu-se Marcelo Caetano, o conversador “pater- familia” que nunca teve familia dado que, infelizmente, a sua mulher cedo demenciou e a filha Ana não gostava de politica. Durou 5 anos mas lançou as bases do Estado-Providência.
Depois do 25 de Abril de 74, tudo mudou num dia e emergiram três politicos com grande carisma.Um social-liberal, um socialista e um comunista.
Sá Carneiro, o politico anti-convenções, assertivo, muito português, bastante intuitivo e amante dos riscos que, como se sabe, são o sal da politica, cedo morreu nos despojos do Cessna e nos braços da sua elegante Snu.
Quanto a Mário Soares, o bochechas gorducho, abertamente europeísta,tornou-se talvez no grande vencedor do “processo global de Abril”. Bastante intuitivo,bem aconselhado e bem amparado na classe média,integrou-nos na Europa na melhor altura.Tudo à grande, em grande, e sem complexos históricos de culpa;Honra lhe seja!
Temos, por fim, Álvaro Cunhal,um exemplo de coerência politica e um caso de estudo. Ganhou a batalha do “sovietismo” no regresso ao país, subindo a um tanque juntamente com um soldado e um marinheiro  para a seguir perder a “guerra” do “socialismo real” que queria implantar em Portugal, pese embora os incontornáveis avisos “geopoliticos”de L. Brejnev e da URSS-versus USA, soprados por Costa Gomes.
Todavia a faceta que hoje aqui vamos destacar,  prende-se mais com uma imagem mítica de Álvaro Cunhal que achamos deveras interessante. Natália Correia provocava-o (quando eram ambos deputados na AR) com gosto, chamando-lhe “Príncipe”, ele adorava) ela gaba-lhe os fatos, esgrimia com ele opiniões literárias e artísticas, que Cunhal, por norma, contrariava para a irritar.
Segundo N. Correia  “ Cunhal agarrava-se a uma juventude tardia(…) daí a composição desportiva da sua aparência (camisa aberta sobre o peito) fabricada para enganar o peso dos anos. O contraste entre o guarda-roupa juvenil e a sua bela cabeleira branca e sobrancelhas espessas  imprimi-lhe uma forte sedução erótica”. Ele punha as pessoas e especialmente as melhores mulheres comunistas a roerem as unhas nas barbas dos operários e desencantados maridos.
Quanto ao tipo de mulher preferido por Álvaro Cunhal deixemos isso para outra ocasião… O que importa deixar aqui seriamente vincado é que Álvaro Cunhal era implacavel com os desvios ao velho ideário comunista e, nisso foi, de facto, grande e único, apenas preso menos uns anos do que  N. Mandela.
Aqui chegados eis as ilações que muito tenuamemente queríamos retirar dos émulos partidários e outros seguidistas que, no Alandroal, se foram gerando à sombra destes 5 políticos e que, pontualmente, alimentaram esta minha arriscada e criticável interpretação posta ao serviço dos visitantes do Al tejo..
Assim teríamos, enquanto presidentes, em Melrinho um incondicional e local seguidor de Alvaro Cunhal; em João Ribeiro uma cópia aligeirada de Carlos Carvalhas; na Margarida Godinho uma espécie de tremida espuma mater-familia.
Mas, alargando o leque teríamos em J. Nabais uma variante gastadora de Mário Soares e, com este último Presidente, concluiu-se com relativa facilidade que imitou tudo o que Socrates não deveria ter feito. Sobretudo, nos seus últimos tempos de uma governação arrogante, pré-vencedora  e sobejamente autoconvencida de tudo…o que enfim perdeu. 
 Findo este exercício de Verão, tenho de afirmar para terminar (de consciência tranquila) que tudo quanto aqui foi escrito, colhe da boa (ou da má) inspiração, resultante da leitura do “Botequim da Liberdade” (pp. 92-94).
  Boas férias. Até à Festa de Setembro que urge vivermos em directo.
   Melhores saudações

    Antonio Neves Berbem
    (13/8/2014)


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