Nós aqui, no Al tejo, temos sempre o cuidado de pensar
que não é porque Ricardo Salgado caiu com estrondo internacional, dando origem
a uma falência interna boa e as outras tantas externas más que acreditamos que
em Portugal tudo mudou, ou irá mudar. Nada disso.
O futuro não põe limites à “Resolução das roubalheiras
institucionalisadas”.
A corrupção instalou-se, e tanto é nacional como é
local. Vai permanecer e aumentar porque ´”os reis e rainhas” que dela se servem apenas parecem ir nus. Não
vão e a questão é bastante mais complicada e funda: é de ordem ética e moral!
Os vícios especulativos do “sistema financeiro”
continuam vigentes, e têm seguidores gananciosos. Por isso, e como estamos em tempo de férias e de
uma certa descontracção estival, vamos apenas lembrar que, se há coisas que o
Al tejo continua a fazer bem, é separar o trigo do joio, estando sempre aberto
a intervenções com as mais diversas perspectivas temáticas de diferente natureza.
Como é o caso deste escrito em “duro pano cru”, entre
os calores frios deste chuvoso e incerto Agosto do nosso descontentamento.
ii)
Vamos pois comparar e pôr rapidamente em destaque -
imagine-se – personagens e actores políticos nacionais de grande porte que
marcaram o nosso atribulado século XX.
Como foi o caso de Salazar, de Marcelo Caetano (até
1974) e de Sá Carneiro, Mário Soares e Álvaro Cunhal, nas decadas seguintes.
Isto para que no fim possamos tirar algumas pequenas ilações visíveis e
aplicaveis ao Alandroal.
Olhemos.
Fisicamente Salazar não tinha nada de atraente, era de
nariz aduncado, teve várias amantes atraentes, nunca usou camisas azuis, castanhas
ou pretas… Andava da chapéu, recusou andar de avião e usava botas vulgares.
Temia Franco, desconfiou de Mussolini, borrava-se, à distância, com os delírios maníacos de Hitler.
Era um fraco orador, tinha uma voz débil e um estilo
de seminarista de província, com fortes influências do seu grande amigo Cardeal
Cerejeira,um bom interprete de Chopin. Para além disso, governava através de “Notas
oficiosas” e era enquanto “ditador autoritário” dotado de um pragmatismo cínico
aterrador e solitário que nem com a sua patria quis casar.
E pronto, durou 48 anos, usando uma retórica politica
simples -dizia ele- sem retórica. Uma referência politica em que, aliás, os
portugueses gostam de se rever e acreditar. A
crer nas quase 200 galinhas
poedeiras de D. Maria em S.Bento.
Seguiu-se Marcelo Caetano, o conversador “pater-
familia” que nunca teve familia dado que, infelizmente, a sua mulher cedo demenciou
e a filha Ana não gostava de politica. Durou 5 anos mas lançou as bases do
Estado-Providência.
Depois do 25 de Abril de 74, tudo mudou num dia e
emergiram três politicos com grande carisma.Um social-liberal, um socialista e
um comunista.
Sá Carneiro, o politico anti-convenções, assertivo, muito
português, bastante intuitivo e amante dos riscos que, como se sabe, são o sal
da politica, cedo morreu nos despojos do Cessna e nos braços da sua elegante
Snu.
Quanto a Mário Soares, o bochechas gorducho, abertamente
europeísta,tornou-se talvez no grande vencedor do “processo global de Abril”.
Bastante intuitivo,bem aconselhado e bem amparado na classe média,integrou-nos
na Europa na melhor altura.Tudo à grande, em grande, e sem complexos históricos
de culpa;Honra lhe seja!
Temos, por fim, Álvaro Cunhal,um exemplo de coerência
politica e um caso de estudo. Ganhou a batalha do “sovietismo” no regresso ao
país, subindo a um tanque juntamente com um soldado e um marinheiro para a seguir perder a “guerra” do “socialismo
real” que queria implantar em Portugal, pese embora os incontornáveis avisos
“geopoliticos”de L. Brejnev e da URSS-versus USA, soprados por Costa Gomes.
Todavia a faceta que hoje aqui vamos destacar, prende-se mais com uma imagem mítica de
Álvaro Cunhal que achamos deveras interessante. Natália Correia provocava-o
(quando eram ambos deputados na AR) com gosto, chamando-lhe “Príncipe”, ele
adorava) ela gaba-lhe os fatos, esgrimia com ele opiniões literárias e
artísticas, que Cunhal, por norma, contrariava para a irritar.
Segundo N. Correia
“ Cunhal agarrava-se a uma juventude tardia(…) daí a composição
desportiva da sua aparência (camisa aberta sobre o peito) fabricada para
enganar o peso dos anos. O contraste entre o guarda-roupa juvenil e a sua bela
cabeleira branca e sobrancelhas espessas imprimi-lhe uma forte sedução erótica”. Ele
punha as pessoas e especialmente as melhores mulheres comunistas a roerem as
unhas nas barbas dos operários e desencantados maridos.
Quanto ao tipo de mulher preferido por Álvaro Cunhal
deixemos isso para outra ocasião… O que importa deixar aqui seriamente vincado
é que Álvaro Cunhal era implacavel com os desvios ao velho ideário comunista e,
nisso foi, de facto, grande e único, apenas preso menos uns anos do que N. Mandela.
Aqui chegados eis as ilações que muito tenuamemente
queríamos retirar dos émulos partidários e outros seguidistas que, no
Alandroal, se foram gerando à sombra destes 5 políticos e que, pontualmente,
alimentaram esta minha arriscada e criticável interpretação posta ao serviço
dos visitantes do Al tejo..
Assim teríamos, enquanto presidentes, em Melrinho um
incondicional e local seguidor de Alvaro Cunhal; em João Ribeiro uma cópia
aligeirada de Carlos Carvalhas; na Margarida Godinho uma espécie de tremida
espuma mater-familia.
Mas, alargando o leque teríamos em J. Nabais uma
variante gastadora de Mário Soares e, com este último Presidente, concluiu-se
com relativa facilidade que imitou tudo o que Socrates não deveria ter feito. Sobretudo,
nos seus últimos tempos de uma governação arrogante, pré-vencedora e sobejamente autoconvencida de tudo…o que
enfim perdeu.
Findo este
exercício de Verão, tenho de afirmar para terminar (de consciência tranquila)
que tudo quanto aqui foi escrito, colhe da boa (ou da má) inspiração,
resultante da leitura do “Botequim da Liberdade” (pp. 92-94).
Boas férias.
Até à Festa de Setembro que urge vivermos em directo.
Melhores
saudações
Antonio
Neves Berbem
(13/8/2014)
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