terça-feira, 19 de agosto de 2014

CRONICA DO DR. MANUEL INÁCIO PESTANA – XVII

                                                     «ALANDROAL, MINHA PÁTRIA»

O “meu” primeiro bispo
Já lá vão muitos anos…Foi, se a memória não me atraiçoa, por volta de 1931, 1932 ou 1933. Eu era uma criança de escola e a rapaziada correu, organizada a recepção “oficial”, até S. Pedro a esperar alguém importante, o que – lembro na minha mente de rapaz – para a nossa terra era coisa única…
Irrequietos na expectativa ouvíamos as recomendações dos adultos que organizaram a “cerimónia” já não me recordo bem quais os responsáveis, mas de certo seria o grupo de catequistas e não sei também ao certo se ali, naquele sítio aprazado para as boas vindas, estava também o Senhor Padre.
O que conta nesta evocação, para mim, é o reviver emocional do acontecimento que entrava no íntimo das minhas reacções de criança para quem o inesperado, ainda que anunciado, se tornava ansiedade e produzia aquela inquietude ás vezes irreverente, numa agitação expectante, ali – lembro-me bem - junto ao muro entre S. Pedro e a entrada da vila – com o castelo e o arquiz lá em baixo, a torre da igreja e o sino que logo haveria de tocar badaladas festivas…
Por fim…Por fim… chega o cortejo, vinha dos lados de Évora ou de Vila Viçosa. Pareceu-me que de muita gente … Padres, outras pessoas, talvez não muitas, mas a mim pareceram-me muitas. E entre elas, uma se destacava e sobre ela recaiu automaticamente a minha atenção, a minha admiração. Um padre diferente dos outros, diferente nos trajes, diferente nas atitudes, diferente no sorriso e no trato que logo travou com todos os presentes e sobretudo, não esqueço, connosco as crianças… Falou connosco, perguntou o nosso nome, acariciou-nos a face, pousou a mão sobre a nossa cabeça… Será possível alguém esquecer a emoção de um momento destes? Emoção e espanto, quase de lágrimas…
Era a primeira vez que via um bispo, um bispo que haveria de ser uma pessoa tão importante que era recebido com palmas e vivas e badaladas de sinos alegres e que, afinal, estava ali tão próximo das nossas mãos e dos nossos corações.
Não posso esquecer. E ainda por cima, esse bispo era D. Manuel Mendes da Conceição Santos, um santo que mais tarde, em Évora, em tempos de estudante, haveria de conhecer ainda mais de perto e com ele falar e dele ouvir as boas palavras da vida. Por isso hoje, sempre que entro nesta minha pátria, por ali, por S. Pedro, não posso deixar de evocar esse outro S. Pedro que a nossa diocese teve o privilégio de possuir como chefe da sua igreja e e ser o primeiro bispo que conheci na minha vida!

Manuel Inácio Pestana

Publicado no Jornal Boa Nova em Dezembro 1998

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