«ALANDROAL, MINHA PÁTRIA»
O “meu” primeiro bispo
Já lá vão muitos anos…Foi, se a
memória não me atraiçoa, por volta de 1931, 1932 ou 1933. Eu era uma criança de
escola e a rapaziada correu, organizada a recepção “oficial”, até S. Pedro a
esperar alguém importante, o que – lembro na minha mente de rapaz – para a
nossa terra era coisa única…
Irrequietos na expectativa
ouvíamos as recomendações dos adultos que organizaram a “cerimónia” já não me
recordo bem quais os responsáveis, mas de certo seria o grupo de catequistas e
não sei também ao certo se ali, naquele sítio aprazado para as boas vindas,
estava também o Senhor Padre.
O que conta nesta evocação, para
mim, é o reviver emocional do acontecimento que entrava no íntimo das minhas
reacções de criança para quem o inesperado, ainda que anunciado, se tornava
ansiedade e produzia aquela inquietude ás vezes irreverente, numa agitação
expectante, ali – lembro-me bem - junto ao muro entre S. Pedro e a entrada da
vila – com o castelo e o arquiz lá em baixo, a torre da igreja e o sino que
logo haveria de tocar badaladas festivas…
Por fim…Por fim… chega o cortejo,
vinha dos lados de Évora ou de Vila Viçosa. Pareceu-me que de muita gente …
Padres, outras pessoas, talvez não muitas, mas a mim pareceram-me muitas. E
entre elas, uma se destacava e sobre ela recaiu automaticamente a minha
atenção, a minha admiração. Um padre diferente dos outros, diferente nos
trajes, diferente nas atitudes, diferente no sorriso e no trato que logo travou
com todos os presentes e sobretudo, não esqueço, connosco as crianças… Falou
connosco, perguntou o nosso nome, acariciou-nos a face, pousou a mão sobre a
nossa cabeça… Será possível alguém esquecer a emoção de um momento destes? Emoção
e espanto, quase de lágrimas…
Era a primeira vez que via um
bispo, um bispo que haveria de ser uma pessoa tão importante que era recebido
com palmas e vivas e badaladas de sinos alegres e que, afinal, estava ali tão
próximo das nossas mãos e dos nossos corações.
Não posso esquecer. E ainda por
cima, esse bispo era D. Manuel Mendes da Conceição Santos, um santo que mais
tarde, em Évora, em tempos de estudante, haveria de conhecer ainda mais de
perto e com ele falar e dele ouvir as boas palavras da vida. Por isso hoje,
sempre que entro nesta minha pátria, por ali, por S. Pedro, não posso deixar de
evocar esse outro S. Pedro que a nossa diocese teve o privilégio de possuir
como chefe da sua igreja e e ser o primeiro bispo que conheci na minha vida!
Manuel Inácio Pestana
Publicado no Jornal Boa Nova em
Dezembro 1998
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