Documentário
sobre o Cante "Alentejo, Alentejo" de Tréfaut estreiou-se dia 28
O documentário
insere-se no projeto de candidatura do Cante a Património Imaterial da
Humanidade e conta com a participação, entre outros, d`Os Camponeses de Pias,
dos Cantadores da Aldeia Nova de S. Bento, do Grupo Coral da Casa do Povo de
Serpa e do Grupo Feminino de Alcáçovas, que interpreta "Portugal está na
crise", uma letra contemporânea.
"Alentejo, Alentejo", que inclui ainda a participação
de várias escolas básicas, recebeu o Prémio para o Melhor Filme Português no
Festival Indie Lisboa, deste ano.
"Nascido nas tabernas e nos campos, o cante transmitiu-se
ao longo de várias gerações. Nas últimas décadas, com a diáspora alentejana,
novos grupos surgiram na periferia de Lisboa e em diversos países de emigração.
Muitos deles formados por adolescentes e crianças, provando que o cante está
vivo e é o traço identitário de toda uma população", afirma em comunicado
a produtora.
"`Alentejo, Alentejo` é uma viagem a um modo de expressão
musical único e à paixão dos seus intérpretes", segundo a mesma fonte.
Além dos grupos participantes, como o Papoilas do Corvo, o filme
do realizador nascido no Brasil regista vários depoimentos, como o de Bento
Maria Adega, de Safara, no concelho de Moura, que afirma: "Foram cigarras
e pássaros que ensinaram os alentejanos a cantar".
Entre os grupos que se foram formando fora do Alentejo,
território de origem do cante, participam, entre outros, Os Rouxinóis da Damaia
e Os Bubedanas.
Um dos momentos do documentário é a interpretação do tema
popular "Solidão", por um grupo de cantadores, junto da campa do
etnomuiscólogo Michel Giacometti, no cemitério de Peroguarda, Ferreira do
Alentejo.
O Alentejo e a sua realidade sociocultural não são estranhos ao
realizador, filho de um alentejano, "originário da margem esquerda do
Guadiana", como explica Tréfaut.
"Descobri o Alentejo na minha adolescência. O meu pai,
queria muito que eu conhecesse a terra dos seus antepassados e o terreno fértil
onde estava a nascer a `Reforma Agrária`. Enviou-me para passar uma semana na
casa de camponeses da Amieira, a aldeia de onde provinham os trabalhadores que
cultivavam a terra na Quinta da Esperança, o monte onde ele tinha crescido,
junto ao rio Ardila", conta o realizador.
"A respeito do cante, a história é muito simples: foi
graças a um grupo de camponeses alentejanos reunidos em serenata, por baixo da
janela do quarto onde a minha mãe dormia pela primeira vez, que o meu pai
conseguiu convencê-la a deixar a França para casar com ele. Ao longo da vida, a
minha mãe chorava sempre que ouvia cantares alentejanos numa taberna. Ela
gostava muito de tabernas. Não creio que a razão da sua emoção fosse apenas a
lembrança do seu namoro com o meu pai, mas a poderosa comoção que aquelas vozes
saídas do fundo da terra lhe causavam. Comigo acontece o mesmo", afirma
Tréfaut.
O documentário tem recebido elogios da crítica nacional e
estrangeira. Em maio passado, Neil Young do The Hollywood Reporter, escreveu:
"Há muito mais por descobrir no universo musical português do que os
lamentos urbanos de renome mundial, conhecidos como Fado -- é o que mostra o
filme de Sérgio Tréfaut `Alentejo, Alentejo`. Existe uma celebração polifónica,
rural, uma forma tradicional de cantos, conhecida como cante Alentejano - ou
apenas `cante` para encurtar".
O crítico salienta as "gravações com um brilho e uma limpidez
extraordinário.
Sem comentários:
Enviar um comentário