terça-feira, 1 de julho de 2014

VASCULHAR O PASSADO - Rubrica mensal de Augusto Mesquita

                  A evolução do Rossio e  a denúncia de um horroroso crime


             Rossio (na grafia antiga Rocio) começou por ser um substantivo comum, que designava um terreno plano, de alguma extensão, que era roçado ou fruído em comum pelo povo. Primitivamente, depois de o terreno ser desbastado e reparado, os rossios serviam para se semearem cereais, para hortas ou para pastagem de gados da comunidade. Assim, tornaram-se pontos de encontro e de reunião dos moradores, e centros de trocas comerciais. As feiras no Rossio iniciaram-se no século XIV e mantiveram-se até ao século XX.
            O Rossio foi-se desmembrando, e dessas desanexações,
            O CONVENTO DAS BEATAS DE NOSSA SENHORA DA LUZ foi inaugurado em 10 de Julho de 1585. Em Agosto de 1882 acolheu o Hospital Civil de Santo André. No seu quintalão, foi construído em 1941 o Lar dos Pequeninos.
            O CONVENTO DE S. DOMINGOS, ou de SANTO ANTÓNIO, da Ordem Dominicana, foi inaugurado em 1619. Em 1972 o convento foi adquirido pelo Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo para sua sede social. surgiram as seguintes valências:
            A HORTA DE D. AFONSO tem casario antigo, do milésimo seiscentista. A casa solarenga principiou a ser restaurada com intenção monumental, em 1940, sob risco do arquitecto Amílcar Pinto, mas ficou incompleta, e o edifício abandonado. Os herdeiros de Joaquim Falcão Marques dos Santos doaram o imóvel à Santa Casa da Misericórdia. Desde 2006 que a instituição possui um projecto social para o local, o qual aguarda financiamento.
            A HORTA DO CHAFARIZ DO POCINHO inicialmente designada por ferragial do Vale de Corvos, sobranceira ao chafariz que lhe deu o nome, foi da família Pratas, no reinado de D. João V (1706-1750), que a transformaram em local de vilegiatura e recreio. O portal de entrada é majestoso e pitoresco, nos seus volumes e desenho de feição populista, meio rural meio erudito.
            O CHAFARIZ DO POCINHO foi mandado construir pela Câmara Municipal no séc. XIX. A fonte pública, encostada ao murete antigo da Horta de D. Afonso, decorada por sete torrinhas piramidais, encontra-se em plano muito inferior ao nível da antiga estrada real, e é protegida por altos suportes de alvenaria.
            Tem taça para cavalaria, e nos lados, bancos para repouso dos caminhantes. O frontão, triangular, ostenta, no eixo, o brasão da cidade, de forma ovulada e de mármore branco. Sotoposta existe lápida cronografada: CÂMARA MUNICIPAL / 1867.
            Depois de vários anos abandonado e transformado em lixeira, o velho chafariz foi restaurado. Mas, inexplicavelmente, este fontanário, classificado como valor edificado pelo PDM, sofreu um horroroso crime – as sete torrinhas piramidais, foram destruídas no decorrer da obra de construção do muro de vedação do Parque Escolar. Quem permite estes crimes, não tem moral, para exigir aos outros, o cumprimento da Lei.
            PRAÇA DE TOUROS – Em 1881 a Câmara cedeu ao aficionado montemorense António Pedro Sameiro, uma parcela de terreno no Rossio, com 60 metros de diâmetro, a fim de nele ser construído uma Praça de Touros. Esta foi inaugurada em 6 de Agosto de 1882.
            CASA DA BALANÇA Três anos depois, foi construída a Casa da Balança, destinada a pesar bovinos, ovinos e suínos.
            CINE TEATRO CURVO SEMEDO Por escritura realizada em 22 de Outubro de 1925, foi cedido à Comissão Edificadora do Teatro Curvo Semedo, 4.680 m2 de terreno. As obras iniciaram-se de imediato, sendo suspensas em 1927 apenas com as paredes levantadas. Este esqueleto, que envergonhava a antiga vila, manteve-se inalterável durante três décadas. Em 1956, a Câmara Municipal presidida pelo Dr. José Nunes Vacas tomou conta da obra de Santa Engrácia, e recomeçou o sonho de muitos montemorenses. O Cine Teatro Curvo Semedo, considerado um dos melhores a sul do Tejo, foi inaugurado em 17 de Janeiro de 1960.
            ESTÁDIO 1.º DE MAIO – No dia 6 de Fevereiro de 1926 o Grupo União Sport adquiriu à Câmara Municipal uma faixa de terreno no Rossio para instalação do seu Campo de Jogos. O terreno vendido mede pelo norte cento e treze metros e dez centímetros, pelo sul setenta e três metros e noventa centímetros, pelo nascente cento e quarenta e nove metros, e pelo poente cento e vinte e nove metros e cinquenta centímetros. O parque desportivo foi inaugurado em 1 de Maio de 1927. A foto tirada no dia da inauguração pode ser observada na página 67 do meu livro “Contributo para a história do Grupo União Sport”.
            MATADOURO MUNICIPAL A 1 de Setembro de 1935 foi inaugurado o Matadouro Municipal. Em 1986, por decisão da Junta Nacional dos Produtos Pecuários, o matadouro foi encerrado e os funcionários transferidos para o Matadouro de Setúbal.
            Pelo menos, desde o seu encerramento, que a frontaria do edifício não é pintada! A triste imagem que apresenta fere a estética da cidade.
            LINHA MAGINOT No final do mês de Julho de 1941 foi inaugurada a obra de embelezamento do Rossio, composta por um muro artístico, encimado por floreiras, com bancos e respectivos candeeiros de iluminação pública, mais tarde designada como “Linha Maginot”.
            QUIOSQUE Nesse mesmo ano de 1941, foi inaugurado um quiosque em madeira, colocado nas traseiras do muro artístico, mais concretamente, junto ao antigo cruzamento da actual Rua Dr. João Luís Ricardo. Este quiosque foi removido após o falecimento do seu proprietário.
            SOPA DOS POBRES – Em 1953 por iniciativa e a expensas pessoais da ilustre benemérita D. Maria Eduarda Praça Cunhal, foi construída e equipada com os mais modernos utensílios exigidos para o efeito, a Casa da Sopa dos Pobres. No final dos anos 60 a instituição suspendeu a sua actividade.
            As devolutas instalações foram cedidas ao Hospital Infantil de S. João de Deus para instalação do Museu Tauromáquico, cuja inauguração ocorreu durante a Feira de Setembro de 1973.
            Após a Revolução de Abril de 1974, o Museu Tauromáquico foi transferido para o Convento de S. Domingos, e as instalações foram ocupadas pela Comissão de Moradores da área, para sua sede social.
            Com a cessação da actividade da Comissão de Moradores, as instalações foram recuperadas pela Santa Casa da Misericórdia para construção do actual Lar de Idosos.
            ESCOLA PREPARATÓRIA DE S. JOÃO DE DEUS Nas traseiras dos blocos habitacionais da Rua D. Sancho I, iniciaram-se em Agosto de 1971 as obras de instalação dos edifícios desmontáveis e pré-fabricados, onde em Outubro desse mesmo ano, começou a funcionar provisoriamente a Escola Preparatória de S. João de Deus. O estatuto provisório prolongou-se por 20 anos, pois só em 27 de Fevereiro de 1993, se procedeu à inauguração da nova Escola C+S.
            A faixa de terreno que abrigou a escola pertence actualmente ao Instituto S. João de Deus, por permuta com o terreno cedido ao município, para construção do novo Centro de Saúde.
            ESCOLA SECUNDÁRIA – No espaço onde funcionou o primeiro campo de jogos do GUS, e que albergava as feiras de Maio, Julho e Setembro, foi construída a Escola Secundária. A inauguração do novo espaço ocorreu em Abril de 1977.
            Este estabelecimento de ensino foi recentemente ampliado, ou melhor dizendo, derrubado quase na totalidade, e feito de novo. É uma obra que envaidece a cidade.
            ESCOLA C+S – Por despacho de 28 de Outubro de 1991 foi adjudicada a construção da Escola Preparatória e Secundária de Montemor-o-Novo. A autarquia protestou junto do Ministério da Educação, que insistiu em manter inalterável um projecto impróprio para as condições climatéricas da cidade, assim como o reduzido número de salas de aula. A inauguração da nova escola ocorreu no dia 27 de Fevereiro de 1993.
            Os reparos da Câmara Municipal quando à insuficiência de salas de aula, confirmaram-se, pois em 2000 o Ministério procedeu à ampliação da C+S. Foram construídas mais 10 salas de aula.
            CONSTRUÇÃO DE ARRUAMENTOS – Em 1994 procedeu-se ao alcatroamento do arruamento térreo do Rossio, desde a antiga Casa da Balança até ao final da Rua do Matadouro, e foram construídos amplos passeios/calçada. Foram também instaladas redes enterradas no solo, de água e electricidade.
            PAVILHÃO DESPORTIVO – A 22 de Junho de 2002 foi inaugurado o Pavilhão Desportivo. Foi palco da final da Taça de Portugal em andebol feminino, entre as equipas do Madeira SAD e da Juventude do Lis. O resultado foi favorável às madeirenses por 33-23. O pavilhão está preparado para a realização de transmissões televisivas, e dispõe de 1.000 lugares.
            PISCINAS COBERTAS – O complexo inaugurado em 17 de Agosto de 2006, é constituído por duas piscinas, uma de competição e outra de aprendizagem. Dispõe também de bancadas para o público assistir a provas desportivas de natação e de pólo aquático. O espaço dispõe ainda de um bar/restaurante.
            O novo complexo está equipado com as mais modernas tecnologias existentes, em todos os aspectos, como por exemplo, a filtragem da água, que é feita a Laser, evitando-se assim o uso de produtos químicos.
            REQUALIFICAÇÃO DO ROSSIO – No dia 20 de Junho de 2013 foi inaugurada a obra do Rossio, executada pela empresa Oliveiras SA. O excelente projecto, foi da responsabilidade da Arquitecta Paisagista Helena Paixão. Com esta obra, a Vila Notável ficou mais formosa.
            CENTRO ESCOLAR – A última construção do Rossio é o Centro Escolar, que se encontra em fase de acabamentos.
            Lamento não incluir neste rol, a projectada estação ferroviária prevista para o Rossio. Daqui, partiria um ramal para Mora, e a continuação da linha vinda da freguesia de Vendas Novas, ia ligar Montemor-o-Novo a Évora. Curiosamente, e por artes mágicas, a linha contorna a nossa vila e chega à capital do distrito em 1863. Existiram “outros interesses”, que moveram influências, de modo a evitar a passagem da via-férrea pela vila. E, foi necessário esperar quase meio século, pela construção do ramal ferroviário… Ontem, como hoje, infelizmente, interesses pessoais suplantam os interesses colectivos.

Augusto Mesquita – Junho 2014

Transcrito com a devida autorização do Autor do mensário Folha de Montemor Junho 2014


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