Sexta, 27 Junho 2014 08:24
Maio de 2011. José Sócrates, líder do PS, perdia as
eleições. Saía de cena. O PS entrava em processo de escolha de uma nova
liderança.
António José Seguro e Francisco Assis disputaram-na. António Costa,
desafiado a fazê-lo, recusou-se. Ganhou Seguro. António Costa tornava-se numa
reserva do partido. Dois anos mais tarde, voltou António Costa a ser desafiado
e voltou António Costa a recusar o desafio. Agora, em 2014, com as eleições
legislativas pela frente, é ele que desafia o líder legitimamente eleito e em
pleno exercício de funções. Estava escrito.
Ribeiro e Castro, do CDS, viveu em 2007 uma situação
parecida com aquela que vive hoje António José Seguro. Fora, então, como muitos
se lembrarão, desafiado por Paulo Portas. Com três grandes diferenças, embora:
a primeira, é que Paulo Portas desafiou Ribeiro e Castro e Ribeiro e Castro
aceitou acto contínuo o desafio, a disputar dentro das regras estabelecidas; a
segunda diferença, é que Paulo Portas não aceitou a resposta positiva de
Ribeiro e Castro, ao desafio que lhe havia lançado, e quis disputar a
liderança, sim, mas com novas regras estatutárias que lhe fossem favoráveis; e
a terceira diferença, é que Ribeiro e Castro nunca quis fechar o partido, nunca
optou por querer controlar o aparelho nem nunca quis blindar a sua liderança -
ao contrário de António José Seguro.
Não sei quem vai ganhar, se Seguro se Costa. O que sei é
que o espectáculo não foi, não é nem vai ser bonito. Mesmo sabendo que o
vencedor vai dispor do poder que as eleições legislativas lhe conferem para distribuir
lugares e que, portanto, se o vencedor quiser e os vencidos também, a
pacificação se torna mais fácil. Mas, se as consequências de uma disputa
crescentemente dramatizada pela liderança de um partido já não são boas, a
mistura resultante do cruzamento de uma crise estatutária com uma crise de
liderança, essa, então, é explosiva.
A que é que se vai, provavelmente, assistir no PS? Iremos
assistir àqueles que juravam serem os mandatos para cumprir até ao fim, a
desmentir-se; aos que se diziam institucionalistas, a quebrar a unidade
institucional e até a continuidade institucional; aos que se diziam cumpridores
das regras estabelecidas, dos Estatutos e dos Regulamentos, a ignorá-los; e,
entre outras coisas feias, aos que garantiam que não iriam perguntar aos
militantes quem tinham apoiado, a persegui-los. Nada disto é, infelizmente,
novo. E como, em política, os resultados têm vindo a beneficiar o infractor,
percebe-se a tentação pela infracção!
Mas, haverá duas perguntas essenciais que, do meu ponto de
vista, deveriam merecer resposta dos candidatos. A primeira é qual dos dois
candidatos conseguirá destacar o PS pela afirmação dos seus princípios e
valores daqui para a frente, deixando descansados os seus eleitores quanto ao
lado em que está no campo de batalha? E a segunda pergunta: optarão ambos os
candidatos por uma estratégia de contraste em vez de uma estratégia de
afirmação, no sentido de que seja clarificado o seu posicionamento político
face aos outros partidos, nomeadamente face ao PCP e ao Bloco de Esquerda, à
esquerda, e ao PSD e ao CDS, à direita, de tal modo que os eleitores e
potenciais eleitores do PS não tenham dúvidas quanto a ele?
Finalmente, para que todos pudéssemos ficar esclarecidos,
mas, em particular, para que os militantes e simpatizantes do PS pudessem ficar
esclarecidos e, em especial, pudessem os apoiantes de Seguro ficar
esclarecidos, há uma explicação que está por dar: o porquê de António Costa não
ter querido candidatar-se em 2011 com o objectivo de disputar mais tarde a liderança
do PS, de não o ter feito em 2013 - quando lhe foi dada essa oportunidade - e
de só o fazer agora, ainda por cima da forma como o fez.
Martim Borges de Freitas
Lisboa, 26 de Junho de 2014
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