Quinta, 24 Abril 2014 09:30
Há 40 anos este dia era o último de um longo tempo de
trevas. Um tempo que alguns querem agora branquear, diga-se com notável
sucesso, fazendo comparações absurdas.
É certo que o sucesso desse branqueamento se deve em muito ao caminho de
retrocesso feito nos últimos 38 anos, com particular destaque para os últimos
três, em que as condições de vida da maioria quase nos colocam nesse tal tempo
de trevas.
Para quem não viveu esses tempos, ou era tão novo que não
tem deles memórias, é difícil imaginar algo pior do que estamos a passar e no
entanto, acreditem, era bem pior.
Imaginem um país onde uma elevada percentagem dos seus
habitantes era analfabeto, onde não existia serviço nacional de saúde, salário
mínimo, férias pagas ou subsídio de natal. Onde apenas uma ínfima minoria dos
que entravam na escola primária chegavam à universidade.
Imaginem um país em que menos de metade das habitações
tinha abastecimento de água e saneamento básico e onde a rede de transportes
públicos fora das grandes cidades era incipiente.
Imaginem um país onde a palavra escrita ou dita na
comunicação social era sujeita a censura, onde não havia liberdade de
manifestação ou de reunião, onde o único partido autorizado era o do governo,
onde existia uma polícia política que perseguia e prendia os opositores,
suportada numa imensa rede de informadores.
Imaginem um país onde os presidentes de câmara eram
nomeados pelo governo.
Imaginem um país envolvido numa guerra colonial em
diversos pontos de África e que para lá atirava a sua juventude para defender
uma decrépita ideia de império.
Bem sei que os tempos que vivemos parecem aproximar-nos
desse tempo, com as amputações do serviço nacional de saúde, os cortes nos
salários, a tentativa de pôr fim a subsídios de férias e natal, o drástico
aumento da distância entre os mais ricos e os mais pobres, o encerramento de
escolas, os constrangimentos à autonomia do poder local democrático, a
instauração de um outro tipo de censura e muitos outros indicadores que nos
empurram quatro décadas para trás.
É verdade que naquele tempo, tal como hoje, a riqueza
estava distribuída por meia dúzia de famílias. É verdade que os discursos de
Cavaco são cada vez mais parecidos com as conversas em família de Marcelo
Caetano.
É verdade que, apesar de existir liberdade de formação de
partidos, são criadas as condições para que apenas aquela espécie de União
Nacional tripartida chegue ao poder.
Mas ainda assim, temos um Constituição que resiste, é-nos
exigida menos coragem física para lutar, há avanços civilizacionais que, por
muito que tentem, vieram para ficar.
E mais importante que tudo temos hoje a certeza, porque
vivemos os tempos exaltantes da Revolução, de que é possível uma vida diferente
se projectarmos no futuro os seus valores.
Como diz a minha prima Zulmira, “deixem-se lá de tretas o
outro fascismo era bem pior.”
Até para a semana
Eduardo Luciano
3 comentários:
Imaginem:
-Que não tinham internet
-que não tinham eletricidade
-que não tinham automovel
-que não tinham centros comerciais
-que não tinham telemoveis
-que não tinham meo,zone,tv por cabo satelite etc
-que não tinham uma escola para 2 ou 3 alunos
-que os presidentes de camara não fossem renumerados.
-que a corrupção não existisse, ou fosse severamente punida.
-que as empresas publicas não fossem tão ricas.
-Imaginem que podiamos continuar um pais muito rico e uma potencia mundial como eramos antes de...
Imaginem só, se tivesse-mos conseguido fazer o mapa côr de rosa,
e fosse-mos na actualidade donos de quase metade de africa e sâo tome e princepe(que foi o maior produtor de café do mundo enquanto foi territorio nacional), quem é que nós estaríamos a ajudar para saír de bancarouta?
36 anos.. 3 falencias.. de 12 em 12 anos bancarouta.. é muito triste, e vamos agradecer a quem? aos PORTUGUESES que trabalharam e encheram os cofres de portugal durante muitos anos ou aos portugueses que esbandalharam esse mesmo ouro hipocritamente?
E o mais triste, é que nas proximas eleições, provavelmente voltaremos a destruir o sacrificio dos ultimos anos.
"Imaginem que podíamos continuar um pais muito rico", com muitos centos de toneladas de ouro...
Imaginem que esse ouro era dividido equitativamente por todos os portugueses...
Não ficávamos ricos, pouco adiantava.
Assim dividido por poucos sempre avultou. E de que maneira.
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