CLINT EASTWOOD
Se há um género de cinema genuinamente americano, esse
género é o western: as “cobóiadas”, como sempre todos lhes chamámos. Não houve
realizador, digno do nome, que tivesse passado por Hollywood e não averbasse no
seu currículo dois ou três filmes desse género. Com muitos graus de qualidade à
mistura, todos dedicaram algum do seu talento a este tipo de filmes. A única
excepção talvez tenha sido Alfred Hitchcock. Mas esse tinha uma forma muito
peculiar de fazer cinema, e nunca se desviou do género que o consagrou. Um dia,
se assim calhar e a providência determinar, ainda havemos de dedicar umas
linhas a este realizador que, não sabendo fazer outra coisa, já que inglês
sendo, e sem desprimor, soube fazer aquilo que nenhum outro fez com a mesma
maestria: o filme de “suspense”. Desde John Ford a John Huston, apenas como
exemplo, todos se sentiram na obrigação de passar pelo cinema que contava a
conquista do oeste norte-americano. (os índios, nativos da região, que se f....
Eram apenas carne para canhão). De tal maneira assim foi, que o género western,
atraiu também muito realizadores europeus. Peço desculpa pela insistência, mas
volto a bater na mesma tecla: O western norte-americano deixou de ser o género
dos americanos e passou a ser um género mundial. Assim sendo, atraiu muitos
realizadores europeus para este género de cinema, entre os quais Sérgio Leone,
um italiano a quem nasceram os dentes nos estúdios de cinema, já que era filho
de uma actriz e de um produtor da Sétima Arte. Sujeito ignorado, este Sérgio
Leone, com passagem pelas pepineiras dos filmes chamados de “romanos”, dos anos
da década de cinquenta, descobriu a pepita dourada com os “western spaghetti”.
Filmes em que abundava o sangue (materializado em sumo de tomate), e que vieram
a dar o nome ao género. Rodados no sul de Espanha, com capitais italianos,
estão hoje em dia como uma revolução na evolução do western. Mas pese embora
esta introdução, não queremos hoje falar de Sérgio Leone. Com bastante pena o
digo, pois é realizador da minha afeição. Vamos estão ao que agora nos trouxe até
ao teclado. Chega de italianos a fazer cinema americano Queremos é falar dum outro filme:
“Imperdoável”. Coisa espantosa, este filme. Americano cem por cento. Até me
custa acreditar no que estou dizendo.
Senão, vejam lá:
Título Original: “Unforgiven”
Título Português: “Imperdoável”
Ano de Produção: 1992
Realizador:
Clint Eastwood
Produtor:
Clint Eastwood
País de Origem: Estados Unidos da América
Argumento:
David Webb Peoples
Intérpretes:
Clint Eastwood, Gene Hackmam, Morgan Freeman…. entre outros
O enredo do filme é: Um antigo pistoleiro, agora um simples
lavrador, vai desencaixotar o velho pistolão para dar caça a uns malandrins que
anavalharam uma prostituta. E é o western no seu melhor. Tudo se passa por
dinheiro. Não há nenhuma moral pelo meio (e aqui também estão a espreitar os
métodos e os valores expressos repetidamente pelo velho Sérgio Leone – que não
acreditando nas pessoas, nem na sua redenção, faz gala em mostrar o egoísmo dos
humanos – e que fez de Clint Eastwood um grande actor). O resto é previsível:
todos caiem perante aquele colt 45 de cano alongado. Grandes interpretações de
Gene Hackman e Morgan Freeman. Aliás, Gene Hackman, foi galardoado com o Óscar
de actor secundário por esta interpretação.
Não estranhamos que Clint Eastwood tenha dedicado este filme
a Sérgio Leone. Tinha sido a fonte em que ele tinha bebido. Também dedicou o
filme a Don Siegel, outro realizador que o tinha influenciado uns anos antes.
A curiosidade acerca deste realizador, produtor e actor,
Clint Eastwood, é que pelo meio de uma intensa actividade no mundo do cinema,
ainda teve tempo para ser presidente de câmara, durante dois anos, numa pequena
cidade da Califórnia: “Carmel-by-the-See”.
E o mundo continua a rodar.
E, por vezes, tudo nos parece um filme.
Por mais que nos pasmem as diversas sequências abordadas.
Rufino Casablanca
Monte do Meio – 1997
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