Sexta, 25 Abril 2014 11:34
O 25 de Abril de 1974 apanhou-me com oito anos de idade e
a viver em Luanda, Angola. Não o vivi, portanto, como muitos nem tinha sequer
idade para isso.
Numa nota pessoal rápida, direi, apenas, que se em 25 de Abril de 1974
vivia em Luanda onde os meus pais trabalhavam, como tantos outros, por conta de
outrém, já em Julho desse mesmo ano vivia em Portugal Continental ,
no distrito de Évora, na vila de Alandroal, de onde é natural a minha mãe.
Nesse ano comecei a acompanhar a vida política. Como hoje, o meu pai era,
então, do CDS. Os que se lembram desses tempos, sabem o que era ser-se, nessa
altura, filiado e militante do CDS em pleno Alentejo.. .!
Naquele tempo, há 40 anos, vivia-se política. Todos
estavam apaixonados por política. Todos tinham opinião, todos tomavam partido.
Acreditava-se. Acreditava-se em princípios e em valores. Uns , nuns,
outros, noutros princípios e noutros valores. A mim ensinaram-me sempre a
respeitar todos e a lutar por aqueles em que acredito.
De lá até hoje, muito foi feito em favor dos portugueses. Muitos
outros, melhor do que eu, saberão enaltecer o que trouxe o 25 de Abril de 1974.
Mas, pelo que tenho visto, poucos, muito poucos, recordarão, no entanto, o
paradoxo do 25 de Abril. De facto, o 25 de Abril de 1974 teve um paradoxo. E o
paradoxo do 25 de Abril de 1974 foi ter de se lutar pela liberdade depois de
conquistada a liberdade! É por isso que sempre tenho dito que o 25 de Abril de
1974 deve ser comemorado, sim, mas lembrando o 25 de Novembro de 1975. Sempre!
Todos nós, portugueses, devemos muito ao 25 de Novembro de
1975. Todos. Todos os que prezamos a liberdade, os que prezamos a democracia,
os que prezamos o pluralismo, o debate livre, a liberdade de expressão. Todos
os que prezamos as eleições e a alternância política por escolha do voto popular.
Os que prezamos o Estado de Direito. E as liberdades fundamentais. Porque foi
em 25 de Novembro de 1975 que se pôs fim ao PREC (Período Revolucionário Em
Curso), foi no dia 25 de Novembro de 1975 que se pôs fim à tentativa de impor o
comunismo em Portugal.
Foi em 25 de Novembro de 1975 que se estabeleceu finalmente a
democracia e a liberdade no nosso país. Por causa do 25 de Novembro de 1975,
podemos, nós, exprimirmo-nos diferentemente. É por isso que, neste dia em que
celebramos o 25 de Abril, não devemos esquecer o 25 de Novembro, antes
relembrá-lo.
E se o 25 de Novembro de 1975 completou o 25 de Abril de 1974, a classe política,
essa, tem-se revelado, ao longo destes 40 anos, cada vez mais incapaz de estar
à altura do que aquelas duas datas proporcionaram. Até valores simples que,
nada têm a ver com ideologias ou com partidos, se foram perdendo. Como o
respeito, a honra, a palavra dada, o trabalho, o sentido do dever, a exigência,
a responsabilidade, o rigor e até a pontualidade, valores que toda a gente sabe
o que significam, que toda a gente sabe como se interpretam e até como, quando
e onde devem ser utilizados.
É tempo de reclamar uma classe política exemplar. É tempo
de reclamar que o político volte a ser o
primeiro entre iguais e não o primeiro acima dos iguais.
Porque já não basta parecer, é tempo de reclamar autenticidade. É tempo de
reclamar verdade. Pelas pessoas, pelas famílias, pela comunidade, pelo país.
Por Portugal.
Martim Borges de Freitas
Lisboa, 24 de Abril de 2014
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